sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dia 125 - Chiqueda

"Conta a lenda de que o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, foi ao cimo da Serra dos Candeeiros e lançou sua espada para decidir onde mandaria construir o mosteiro agora situado em Alcobaça. Nesta localidade caiu a espada do Rei passando a ser chamada de Quiqueda (Aqui+Queda) sendo assim o nome veio da queda da espada e depois foi evoluindo de Quiqueda para Chiqueda."

Num dia de calor intenso mas livre para pedalar, só nos restava pegar nas bikes e pedalar até algum lugar fresco, cheio de trilhos fantásticos, repleto de sombras e numa das pontas um lago de águas límpidas e cristalinas para nos podermos refrescar. E foi mesmo nessas águas que eu entrei vestida e calçada. Não imaginam o bem que soube e eu não me canso de dizer o quanto me sinto rica. Rica de paisagens e lugares, rica de emoções e alegrias que praticamente só são possíveis em cima de uma bicicleta. 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Dia 124 - Estranheza

Perdi a conta aos milhares de folhas que já varri do pátio nos últimos tempos. A mim parece-me que a Cheflera gigante está a morrer, mas por outro lado, talvez todos os anos lhe tivessem caído os mesmos milhares de folhas sem eu ter dado por ela e sem as ter varrido tão insistentemente. Acho que o fazia apenas uma vez por semana, ao sábado e se tivesse tempo. Na verdade, varrer folhas, desde o início desta pandemia e do confinamento tornou-se uma terapia para mim, um momento verde e muito zen. Todas as manhãs varro a apanho folhas e todos os fins de dia estou ansiosa para fazer o mesmo. Com estas noites quentes ainda aproveito para regar e espalhar o odor a terra molhada e a flores. Corto aqui, aparo ali, acrescento terra, admiro as borboletas e tiro teias de aranha e ervas daninhas. Estranheza, é o que sinto destes novos hábitos e obsessões. Daqui a nada nem me reconheço.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Dia 123 - Monstros alados

Cheguei ao areal logo de manhãzinha estava este imenso e ainda vazio tal como eu gosto.
A baixa mar fizera recuar a água  até bem ao fundo e vinha apenas beijar a areia em pequenos arremessos de espuma o que deixou as passagens entre praias com acesso para caminhar.
Estendi a toalha, abri o guarda sol, besuntei-me de protetor e lá vou eu a chapinhar. Nem sei, andei quilómetros para sul, passei por várias praias, muitos pescadores, uma imensidão de azul e prata, um som de embalar que me faz esquecer do mundo e mergulhar numa felicidade imensa.
Só pensava como era uma sortuda por viver perto daquele mar e daquela imensa beleza.
Comecei entretanto a pensar que a maré podia estar a encher e tapar-me a passagem entre praias e iniciei o regresso entrando no mar a espaços, para refrescar.
Estendi-me na toalha para secar e embrenho-me na leitura. Eis senão quando, começo a sentir comichões.
Quando decido levantar os olhos das letras verifico que estava rodeada de formigas enormes com asas. Não sei bem se eram formigas, mas que eram enormes, eram, praticamente crocodilos, mas alados. Não mais tive descanso, não paravam de chegar mais e mais e mais, brotavam do interior das areias.
Estavam na toalha, nas pernas, no pescoço, no cabelo.. PQP, que bicharada aquela, mas era só eu que estava a ser atacada naquela praia? Olhei em volta e estava tudo descansadinho a apanhar sol. Mau!! Sacudi-me como podia, arrumei a trouxa e rumei para casa.
Passei o resto do dia na espreguiçadeira do pátio a tomar banhos de mangueira ao som não do mar mas da passarada a sobrevoar os céus. Não foi mau, até pelo contrários.
Há pouco vou a pochete que levo sempre para a praia e onde guardo os pertences saem-me de lá dois formigões alados vivinhos da silva. Ninguém merece passar as horas de layoff a ser assim atacada.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Dia 122 - O melhor do pior

Pese embora o grande atrofio que as máscaras me causam, pois além de não me deixarem respirar, raciocinar ou refrescar, permitem-me fazer coisas até agora impensáveis como permitir-me rir de certas situações. O problema é quando me olham nos olhos que eu também rio com os olhos...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Dia 121 - A ponta de um corno

É no que estou focada esta semana, não fazer ponta de um corno. É o que se faz nas férias não é?
Bom, além de uma tarde no cabeleireiro a tentar fazer algo destes três pelos, uma manhã a fazer recados a Mamãe e uma tarde de papo para o ar na praia, depois do mergulho, claro, que o mar e o calor, desta vez estão do meu lado, não quero saber de tele trabalhos, tele conferências, tele picagens ou tele fonemas, nem sequer almoços e jantares, pós e aspiradores, roupa para lavar ou engomar. Desemerdem-se que esta Gaja precisa de uma pausa. Ah, meti-me num desafio de exercício físico de 30 dias e vou no dia 11, agora começa a doer, pois a quantidade de repetições dos exercícios aumenta todos os dias, mas esta Gaja que aqui vos escreve parvoíces, e ponham parvoíces nisto, quando se mete num desafio é para cumprir. Além disso, não fazer ponta de um corno custa, ok?

domingo, 17 de maio de 2020

Dia 120 - Fuga

Com um fim de semana assim solarengo, só podia pegar na bicicleta e sair para apanhar uma grande dose de vitamina. E um bronze à pedreiro, vá.
Eu e marido arrancámos até à estrada atlântica e sempre rente ao mar rumámos a sul. Fomos visitar a Cerca de Veados do Sítio da Nazaré onde existem cerca de trinta veados, lindos, que vêm comer à nossa mão e até deixam fazer umas festinhas. Esta é a época do ano em que os seus chifres estão cobertos de veludo que depois cai expondo o osso. Bichos lindos e majestosos.
Em seguida subimos a Serra da Pescaria e a dos Mangues para em seguida descer em direção a S. Martinho do Porto. Subir custa sempre, mas o esforço é inversamente proporcional ao resultado final, isto é, quanto mais se sobe mais difícil é, mas mais vale a pena. Além do sentimento de satisfação e conquista por se ultrapassar mais uma dificuldade, a vista é magnífica e esta, sem dúvida é das sensações que me traz felicidade. Um imenso mar azul profundo a direita e os campos cultivados e em vários tons de verde à esquerda. Para rematar, um céu azul intenso a fundir-se no infinito. Uma paleta de cores bastante variada a pintalgar o meu dia. Uma fuga pela natureza, fugindo da cidade e das pessoas. S. Martinho  dispensa comentários, é uma praia lindíssima e eu sou uma sortuda. à distância de alguns quilómetros a pedalar, estou perto de lugares fantásticos.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Dia 119 - Ler os olhos

Nunca fez tanto sentido a observação dos olhos das gentes para tentar entender o que as palavras ou a falta delas nos dizem. Com todos os rostos cobertos por máscaras, conseguiremos nós vislumbrar?

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Dia 118 - Escolha



É sempre nossa e só nós podemos decidir o que queremos para nós e fazer por isso. 
Mudar, seguir outro caminho, quebrar amarras e prendermo-nos a outras é uma escolha. 
Ir ficando ou adiar é uma escolha. 
Deixarmo-nos ir é uma escolha.
Não fazer nada é uma escolha.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Dia 117 - Cá dentro


E cá estou eu, mais uma vez, presa a uma cadeira, em frente a uma mesa de trabalho. Zé gato dorme enroscado entre o teclado e o écran, aos poucos vai-se apoderando do meu espaço. Por entre as cortinas vejo que está sol e oiço o trânsito lá fora. À exceção da música de fundo que sai do meu computador, um pouco para que não me sinta tão sozinha, a casa está silenciosa, mas o mundo já mexe. As pernas entorpecidas, o corpo em ânsias de liberdade e movimento e os dedos deslizando sobre as teclas, cá vou debitando trabalho ao longo de mais um dia. Gosto do meu trabalho atual, mais parado, mais administrativo do que nunca, e longe daquilo que já fiz e que sempre quis para mim, mas já não sinto a paixão e a energia de outrora e isso atordoa-me. Várias escolhas ao longo da minha vida, várias mudanças de direção foram levando-me neste sentido e durante os últimos anos fui até apreciando esta situação. Fui deixando de querer mudar o mundo, fui deixando de querer ser e fazer diferente, fui-me acomodando. Em alguns dias levanto-me disposta a mudar tudo, mas depois, ao longo do dia, vou deparando-me com uma engrenagem já montada e a funcionar e perco a vontade de ser a pedra que a faz parar e ou mudar de direção. Além disso, praticamente não sou nada nem ninguém, não tenho esse poder e só vou criar entropia. Para mim e para outros. No fundo, faço parte de um rebanho e embora por vezes contrariada e com a alma em convulsões, lá vou indo para onde o pastor manda. Docilmente. E a vida é assim, temos por vezes de adormecer a nossa essência, rebelde e atormentada, nómada e sem parança para vivermos bem com nós próprios e com os outros. A guerrilha também cansa.

domingo, 10 de maio de 2020

Dia 116 - Aura

Ontem, olhei o meu rosto demoradamente ao espelho e não apreciei o que vi. De repente parece-me que nestes últimos meses algo se transformou em mim. Umas quantas rugas mais, vários fios de cabelo brancos, a pele flácida e descaída, as pálpebras parece que cresceram em direção aos olhos e toda eu perdi o brilho de outrora. Pareço-me a mim, baça e com ar triste e cansado, velho. Talvez me sentisse assim naquele momento, não sei bem. Teimo contrariar  o tempo e mentindo-me a mim própria e tentando fazer tudo como há uns anos atrás, lá me vou iludindo e fazendo crer que o tempo não passou por mim, eu é que vou passando por ele, linda, leve e fresca. Chocou-me e entristeceu-me ver-me assim, no entanto.
Já hoje, depois da pedalada pelos pinhais e pelas praias onde respirei o azul do mar e bebi a luz do sol, onde senti a brisa acariciar-me o braços e onde pedalei com tanta força que o vento assobiava nos meus ouvidos, senti-me viva, tão viva, tão alerta, tão cheia de viço. Antes do banho, voltei a olhar o meu rosto. Além do leve bronzeado da pedalada ao ar livre, podia até estar exatamente igual, mas eu vi-o diferente, foquei-me na alma, observei a minha aura de uma ponta a outra e essa sim, tem um brilho imenso, sente-se livre, feliz e pode tudo. Não tem mais de vinte anos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dia 115 - Partilha


Domingo passado, não querendo deixar passar o dia sem a homenagear e não podendo beijá-la nem abraçá-la, fui levar uma singela orquídea branca a minha mãe. Ficou muito comovida e disse “Ohh! Não estava à espera de nada, não tenho nada para te dar”. “Mas tu é que és a mãe, disse eu. Mas tu também és mãe, anda cá!”
Pega na tesoura de podar e num cordel e aí vai ela, devagarinho, meio trôpega, mas cheia de convicção, comigo atrás dela. Atravessámos o quintal e chegamos às roseiras em flor. Escolheu seis rosas cor de rosa, cortou, aparou os espinhos, montou um arranjinho, atou com o cordel e estendeu-mas. Feliz dia da mãe!
Lembro-me desde sempre da sua generosidade e ninguém sai de casa dela sem algo nas mãos. E se não tem nada preparado, oferece o que tem. Sempre. Ovos, laranjas ou limões, um pedaço de bolo, um ramo de salsa, um saco de nozes, uma flor, um café ou um chá, uma taça de sopa, um chocolate, uma nota para os netos… Temos sempre de beber ou comer algo e trazer qualquer coisa na mão. Este sentimento de partilha foi transmitido a mim e a minha irmã, mas nenhuma das duas tem esta capacidade de improvisação e de vontade de partilhar a todo o custo. E hoje, para a maioria das pessoas, o dar ganhou outro significado, o do valor, o das datas marcadas, o da obrigação. Em breve, perder-se-á.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Dia 114 - Fuga

Do meu escritório improvisado na mesa da sala de jantar ouvi o trânsito quase voltar ao normal. Espreitei à janela e lá estavam as vizinhas, à porta da mercearia munidas de máscara, mas através dela consegui perceber os seus sorrisos, as suas conversas, a sua alegria por se sentirem um pouco mais livres. A meio da manhã fiz uma pausa e corri ao café cá da rua. Apesar do copo de plástico e de ter de o beber na rua para dar lugar a outros que aguardavam a minha saída para entrar, o café, preto, forte e sem açúcar foi como que um clímax após um mês de abstinência, uma explosão de alegria, um prazer indescritível. Só ultrapassado, claro, quando fechei o expediente e me fiz ao caminho na minha bicicleta em direção ao mar.
E assim lá vou desconfinando.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dia 113 - Redirecionar

Dei ontem por finda a minha participação no desafio "Um post por dia até ao fim do corona".  Não que o corona tenha terminado, mas porque acabou o fim do confinamento e agora, aos poucos, todos vamos retomando as nossas vidas e redirecionado os nossos rumos. A uns resta-lhes apanhar os destroços e seguir em frente, a outros, redefinir os azimutes e mudar o rumo dos acontecimentos e a outros ainda, seguir conforme a banda tocar.
Eu, vou dançar conforme tocar a banda, redefinindo azimutes todos os dias até que a minha vida volte ao normal. 
Vemo-nos por aqui, como sempre.

domingo, 3 de maio de 2020

Dia 112 - Super poder

Sim, sou mãe de dois e se ter e criar um filho ou dois ou três não nos torna alguém com super poderes, então o que nos tornará?

sábado, 2 de maio de 2020

Dia 111 - 48 - Dia de...

Dia de transformar velho em novo
A velha aparelhagem estava muda há anos. Foi agora  colocada na garagem e ligada e uma música suave enche agora o espaço onde faço exercício e trato da roupa.
Dia de pintar as portas de casa, que estão aos poucos a voltar a ser brancas imaculadas
Dia de provar cachupa pela primeira vez. Gostei
Dia de avivar cores a cestos e transformar algumas peças de decoração
Dia de apanhar um empeno a pedalar. Minha nossa, o que o meu concelho tem para aqui de subidas...
Dia de pensar no início do desconfinamento. Para mim, vai ficar tudo igual, continuo em casa e a fazer apenas saídas estritamente necessárias. Corridas e pedaladas no pinhal perto de casa são estritamente necessárias neste momento. Necessárias à minha sanidade mental.
E vocês, vão desconfinar?



sexta-feira, 1 de maio de 2020

Dia 110 - 47 - Choné ou xoné?


Saqueta de chá de frutos vermelhos, chávena, microondas, dois minutos, clic!
Snif, snif, começa a cheirar a queimado, ai o meu chá, vou a correr, saqueta a arder, nem uma pinga de água. #$)(&%?=) -se