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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sem título

Abotoei o casaco, enrolei o cachecol e calcei as luvas. Saí para a noite fria.
O ar estava gelado e queimava-me as narinas e os lábios, ainda assim inspirei o mais profundamente que podia vezes sem conta para depois expelir pequenas nuvens de vapor quente que se desvaneciam lentamente no ar. Andei depressa, quase corri como quem solta os espíritos que atormentam e entorpecem e que teimam em ficar. Afugentei as nuvens negras para que me aparecessem as estrelas, assustei os pensamentos maus para que se aproximassem os bons, corri com a angústia para deixar que a calmaria voltasse.
à minha passagem os cães ladravam e corriam de um lado para o outro atrás dos portões daquela rua que me parecia infindável, nervosos, raivosos. Eu percorria aquela rua, sem destino traçado, estranha e sem nexo. Entretanto os cães agigantaram-se, o ladrar tornou-se um grunhido feroz e vários pares de olhos brilhantes barravam-me o caminho. De relance vi que havia uma rua à minha esquerda e mudei de rumo. Assim que me viro deparo-me com mais olhos brilhantes, cheios de ódio prontos para me atacar. Decidi então retroceder para o caminho inicial mas à luz da lua vi desenhado um monstro de três cabeças e três caudas e num ápice pensei em desatar a correr.
Lentamente desabotoei os botões do casaco, despi-o, tirei as luvas e o cachecol, não queria que nada me impedisse de conseguir o meu intento. Inspirei profundamente uma vez mais e mentalmente proferi "três, dois, um.."
Em grande estrondo caí da cama abaixo enrodilhada no lençol e no pijama meio despido acordando a casa toda. Nunca vou saber o que aconteceu a seguir...