terça-feira, 30 de outubro de 2018

Está tudo bem

Apesar deste mar de água que tem caído dos céus ultimamente e de já quase não haver folhas nas árvores nem cabelo na minha cabeça por causa da ventania.
Apesar das constantes viagens para o hospital porque os velhotes da família caem que nem tordos, está tudo bem.
Apesar de ter dado mais uma oportunidade ao meu gato mijão para entrar em casa por causa do frio e ele ter mijado nas cortinas e apesar de não poder pedalar nem correr na rua por causa do mau tempo.
Apesar de ter uma viagem marcada e paga e de, em calhando, não poder ir e de alguns tapetes me tirarem o chão todos os dias, está tudo bem.
Tenho os pés quentinhos e acabei de comer um Twix todinho.
Vai ficar tudo bem! Eu sei.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Não há condições...


Ser velho e doente é triste, muito triste. Não posso dizer que seja condição deste ou de outro país porque velhice e doença existe em todo o lado, mas na verdade por cá somos escassos em soluções e ver-se doente numa cama de hospital ou lar ou o que quer que seja, sem conseguir movimentar-se ou comunicar, mas consciente, é triste e muito indigno. Questiono se será Deus tão grande assim, se terão as pessoas de sofrer tanto para partirem, questiono-me porque terá de ser a vida tão injusta….

Por estas e por outras sinto e mostro alguma resistência ao saber que para lá caminho a passos largos. Por estas e por outras tento viver todos os dias o melhor possível e o máximo que posso na rua e em contacto com a natureza para dar alimento ao corpo e à alma e tentar preservar a minha qualidade de vida. Além da bike tenho feito umas corridas pelas ruas e parques da cidade, corpo e alma agradecem, as gargalhadas também, especialmente ontem.

Saí do trabalho, equipei-me já em passo de corrida e saí para me embrenhar no mundo, mas… Como já sabem, comigo, há sempre um mas e muito ar me entrava pelo pandeiro acima, o calção estava curto, a cueca do calção enfiava-se-me por entre o nalguedo. Raios! Fiquei cusuda de terça-feira para hoje ou quê? Ora, puxa e empurra calções durante sete longos quilómetros para não ir toda a viagem com as peles assim à mostra. Compra uma gaja um outfit à atletista das corridas, super caro ainda por cima e é isto, lava-se e fica assim, minúsculo no pandeiro… Vou reclamar à loja, ó se vou!
Findo o trajeto e em chegando a casa aflita, corri para o wc e ao tirar os calções… etiqueta à frente!!! Calções ao contrário, portanto…

Ora digam-me que ser cota e destrambelhada não é triste…

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Cada vez mais louca varrida, quando acharem por bem internem-me por favo

Quando sentes o sangue a palpitar-te nas veias, quando sentes o coração a bater perto da boca, quando ficas deslumbrada e queres apreciar a paisagem, sentir aquela imensidão de beleza a arrepiar-te a pele mas não podes porque no trilho para onde te levaram e onde tens de passar só cabe a roda da bicicleta e tens de te concentrar para não caíres no precipício, quando sentes os arrepios de adrenalina a percorrer o corpo e pensas ”Ainda bem que vim, como eu adoro isto!”
Mas depois, já que estás a pensar, lembras-te que tiveste um problema mecânico e estás sem travões!!!
Que tal fazeres este trilho com um pé desencaixado do pedal pronto para o que der e vier e a rezar para não aparecer um obstáculo e para não teres de travar? Que tal teres noção que o mais provável é esbardalhares-te por ali abaixo a qualquer momento? Que tal é sentires que podes estar por um fio? Que tal?
Cagadinha de medo pois então!! Ficar branca como a cal e chegar lá abaixo com falta de ar, os dentes gastos de tanto ranger, a tremer e o coração a querer atirar-se ao chão e ainda por cima, ouvir os gajos a dizer, “Então, nunca mais vinhas, isto é pedalar por ali abaixo e está feito.”

Que s’a lixem. Eu fui para a serra sem travões e sobrevivi.




terça-feira, 16 de outubro de 2018

Novo capítulo

É nos calidos dias de Outono, cinzentos e com pouca luz que penso mais na vida. Não sei por que razão me sinto tão desfazada dela, quando ela, a vida, me tem trazido tantas coisas boas. Talvez eu até faça por isso e mereça cada acontecimento, cada pessoa que ela me traz, mas uma coisa eu sinto, nunca estou suficientemente certa de que sou digna delas. Sei que poderia sempre fazer mais, dar mais, falar, rir, abraçar, amar..
Mais e melhor!
Talvez até, quem sabe, eu devesse trazer verão aos dias de Outono.

P. S.
Este fim de semana fui com a minha bike de comboio até ao Norte visitar uma amiga que o blog me trouxe. Saí de casa era verão, quando cheguei tinha passado uma tempestade que tudo deixou fora do sítio e era pleno Outono....

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Descabelada

Comentei com o marido que este inverno havíamos de tosquiar a buganvilia pois ela alastra como se não houvesse amanhã e os vizinhos já andam com certeza a proferir palavras de escárnio e maldizer contra nós com tanta folha e flor a esvoaçar por todo o lado e guias cheias de espinhos a invadir muros e telhados.
Qual inverno qual quê, no Inverno as escadas e os telhados tornam-se escorregadios e muito perigosos. Não é tarde nem é cedo, é já!
Antes.....
Depois....
Mais ou menos euzinha depois de dar umas tesouradas no meu próprio cabelo :)



domingo, 7 de outubro de 2018

Voltei

Fui ali fazer-me ao Caminho Histórico da Rota Vicentina. De Santiago do Cacém ao Cabo de São Vicente de bike. 210kms e dois dias e meio de, achava eu, planícies alentejanas, chaparros e praias paradisíacas cheias de surfistas bem apessoados. As praias paradisíacas estavam lá, os surfistas também, já as planícies... poucas, muito poucas. E ao contrário do que eu imaginava, montes e serras para trepar eram aos molhos. Dizem que só os bravos se atrevem. Eu... fui ao engano mas esfalfei-me para as subir e descer e consegui. Devo ser uma brava portanto. Mas o mais importante é que como em todas as outras travessias, voltei muito mais rica. Rica de gentes e lugares, rica de paisagens, conhecimentos, vivências e emoções.
Vi pessoas diferentes, vi planícies, subi serras assustadoras. Vi muitas vacas e cabras, fui perseguida por dezenas de cães pastores. Vi montanhas de fardos de palha, lavei-me do pó nos riachos, vi o nascer do sol do alto dos Cerros da Carrapateira. Passei por expedições de Alemães onde os burros carregavam as mochilas, passei por muitos caminhantes e ciclistas, pessoas a passear a cavalo. Fiz festas a uma Alpaca. Dei mergulhos no mar, jantei na Zambujeira a ver o pôr do sol. Pedalei durante quilómetros ao longo dos diques de rega, comi açorda de bacalhau à moda do Alentejo, ouvi o silêncio da madrugada da janela do meu quarto. Fui corrida de uma propriedade privada ao saltar uma cerca e vi o céu e o mar fundirem-se num só. Nas falésias deixei as tristezas, no alto das serras larguei as angústias . Numa das subidas mais íngremes, não tive força na perna e caí para o lado, lá, deixei um pouco da minha pele e trouxe um braço negro e arranhado como arranhado ficou o meu orgulho no momento. Cheguei por fim ao Cabo de São Vicente suja e cansada mas de sorriso nos lábios e muito feliz. Mais do que uns dias de férias, mais do que sair da rotina, mais do que correr mundo de bicicleta, mais do que tudo o que por lá deixei e tudo aquilo que trouxe, foi mais um desafio concluído! E quando eu consigo concluir desafios, eu consigo tudo....
Já estou a preparar o próximo.