segunda-feira, 31 de julho de 2017

Estranheza

Adoro o meu cantinho aqui no Oeste, as minhas praias, o barulho das ondas fortes do oceano atlântico, a areia grossa e quase branca. Conheço-as bem, cada rocha, cada escarpa, cada duna, cada passadiço que percorro vezes sem conta, a pé ou de bicicleta. Vá para onde for e por muito bom que seja, gosto sempre de voltar, agora, segunda-feira, férias, acordo e abro um olho, tudo cinzento e a chover, um frio do caraças???? Buahhh!!

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O mar morreu

Os meus vizinhos ingleses estão agora mais calmos e dormem a manhã na cama. Um desperdício digo eu. O escritor já deve ter terminado o livro, toma o pequeno almoço calmamente com a esposa na varanda tal como nós.  Cumprimentamo-nos com um aceno de cabeça pois continuo sem saber que raio de língua falam eles que mais me parece um ladrar estranho, não pesco um telho, norueguês ou finlandês quem sabe. E o mar morreu, praticamente nem se mexe. Houve-se um leve ondejar que gosto de ouvir ainda na cama com a porta da sacada aberta e a olhar o céu, acalma-me os sentidos, embala-me a alma. Da piscina nem quero ouvir falar, ao sol abrasador não consigo estar, vou até à praia caminhar. Estas férias já caminhei uns sessenta quilómetros e li quinhentas páginas de livros. Aliás, cá em casa fomos todos mordidos pela mosca tzé tzé e nem um braço nos apetece mexer. Quem diria que me ia tornar numa apreciadora do nadismo.

sábado, 22 de julho de 2017

Dois tons de azul

O vizinho da casa do lado direito este ano deve ser escritor. Tecla furiosamente o dia todo sem levantar os olhos por um momento sequer. Quando não está a teclar, está a ler ou a beber café. Aparentava estar sozinha na casa mas hoje vi uma mulher e duas crianças. Levantou por fim os olhos do teclado mas ainda não os ouvi falar, não sei de que nacionalidade serão.
Os vizinhos do lado esquerdo são ingleses e todas as manhãs vêm juntar-se a eles todos os outros ingleses do condomínio, cada vez são mais. Começam a beber e a fumar aí pelo meio-dia e à tarde estão tão bêbedos que é uma animação, só espero que não nos venham vomitar nas nossas espreguiçadeiras.
Somos os únicos Tugas por aqui o que os faz olhar para nós como se de um espécime esquisito se tratasse, nem sei sequer se nos conseguem ver com tanto álcool no bucho. O escritor sei eu que não vê ninguém, o nadador salvador da piscina este ano é novo e engoliu um garfo, além disso o gato comeu-lhe a língua com certeza, também não nos vê. O jardineiro é portanto o único ser que nos cumprimenta pois já nos vê aqui há uns dezoito anos.
Mas isto não interessa nada, o que interessa na verdade são os vizinhos da frente. Dois tons de azul com som de fundo.

Bom Dia alegria

terça-feira, 18 de julho de 2017

Mala de férias

Desta vez vai cheia, cheia de cansaço, cheia de apatia, cheia de desalento, cheia de tudo e de todos. Nem sequer sei explicar porque tenho a mala tão cheia ou como fui deixando que enchesse desta maneira. Nem me reconheço nesta mala. Só espero conseguir esvaziá-la para eu mesma caber lá dentro e voltar com ela.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Perry

Chegou num dia de verão ao colo de meu pai, eramos ambos umas crianças. 
Uma pequena e engraçada bola de pelo cor de fogo, Perry, o meu cão.
O meu Perry não estava preso com uma corrente como os outros cães da vizinhança, nem ladrava raivosamente a tudo e todos que passavam perto, ele tinha um canil de cimento, grande, vedado com rede e na maioria dos dias andava solto pelo quintal brincando comigo. Lá em casa sempre fomos habituados a gostar, cuidar e respeitar os animais e tivemos vários, mas o meu Perry era especial. Ele sabia quando eram horas de lanchar ou jantar e ladrava até eu o acompanhar até casa, ele sabia que nos passeios tinhamos de olhar a ver se vinham carros para podermos atravessar e parava, ele sabia a que distância tinha correr ao meu lado quando eu ia de bicicleta e sabia o caminho para a fonte quando minha mãe me pedia para ir buscar água. O meu Perry ficava sentado encostado a mim quando eu estava de castigo porque me portava mal e muitas vezes deitava a cabeça no meu colo.
O meu Perry e eu crescemos juntos, corriamos, saltávamos e até dançávamos a valsa os dois. Mas o Perry foi treinado para caçar coelhos bravos e perdizes e a determinada altura começou a saltar os muros de casa e a andar muito tempo fora. Foi atropelado três vezes sobrevivendo sempre devido aos nossos cuidados. Eu, chorava. Chorava sempre até ele ficar bom e ele ficava. Um dia matou uma ninhada de patos de uma vizinha e ficou lá deitado à espera que o felicitassem por tamanha caçada, outra vez roubou um molho de chouriços da mercearia da nossa rua e enterrou-os no quintal e outra vez ainda, roubou um pão-de-ló inteirinho da cozinha de mamãe. Ele caçava tudo e por isso começou a ter de ficar preso no canil. Eu tinha de prometer que não tirava os olhos dele para o poder soltar.
Certo dia, já muito velhinho, esgueirou-se para o meu quarto e partiu, em paz, enrolado na colcha da minha cama, tinhamos cerca de dezasseis anos...
Ainda hoje o vejo de orelhas e patas felputas cor de fogo a correr ao vento no quintal.




quarta-feira, 12 de julho de 2017

Livre

Há vinte e oito dias, doze horas e quarenta e três minutos que não fumo. Este era o ano, o do meu cinquentenário, aquele em que eu decidi que iria dar mais uma reviravolta na minha vida. Não foi em Janeiro ou em Fevereiro, muito menos em Março mas foi em Junho, por alturas da grande viagem a Santiago, por alturas da notícia do cancro da mama de duas amigas, foi nessa altura que o clic se deu em mim. Que coisa estúpida fumar! Como podia eu, uma adepta do desporto e da vida saudável....
Não que até fosse uma grande fumadora, mas dois ou três cigarros que fumasse por dia era ser fumadora na mesma e a prova disso é a aplicação que me lembra disso todos os dias. Neste momento poderei ter mais onze horas e meia de vida do que teria se nunca tivesse fumado. Bom, quando morrer, não morro às dez da manhã mas sim às nove e meia da noite, vá. 
Não importa, não importa se vou a tempo de alguma coisa, o que importa é que há vinte e oito dias que estou livre de mais um vício.
Entretanto vou para freira.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Lembranças de Santiago

Como em tudo nesta vida, o tempo vai suavizando os acontecimentos, sossegando as emoções e apagando certos pormenores até então presentes em nós todos os dias. Há no entanto momentos que nos ficam gravados nos recantos da memória e vai não vai, a nossa cabeça vai buscá-los. Das memórias que me acompanham constantemente, uma delas é sobre a grande viagem a Santiago onde conclui o quão pequenos e relativos são os nossos próprios mundos, apesar de os acharmos os maiores e mais importantes de todos. Numa enorme montanha, cada um de nós não é mais do que uma das pedras e há egos tão, mas tão grandes, que uma montanha não chegaria para os albergar.
Momentos houve em que ía focada no meu próprio sofrimento, nas minhas próprias dificuldades, nas minhas dores nas pernas,  no pó, no calor abrasador ou no suor a escorrer-me para os olhos, no peso dos alforges e nos quilómetros que ainda me faltavam para chegar, quando avistava outros peregrinos, a pé, carregadíssimos, coxos, e com aquele calor a caminharem apoiados nos cajados mas que continuavam a andar, cheios de vontade e determinação e a sorrir nos desejavam "Bon Camino". Noutro lugar deparei-me com um cesto de limões e garrafões de água à disposição de quem passa-se, noutro ainda, numa fonte estava um casal a encher garrafões de água e assim que nos aproximámos afastou-se para que saciássemos a sede e molhássemos a cara e depois... depois veio a Labruja e eu não podia com a minha bike tão pesada para subir aquelas pedras até lá acima e alguém ma levou. Chamei-lhe o meu anjo da guarda e nesse momento jurei a mim mesma que iria recordar-me para sempre daqueles momentos e do que eles me ensinaram.
E é por tudo isto que quando oiço alguém apregoar o quão maravilhoso é e os outros não, me sinto estranhamente alienada e num outro mundo....





domingo, 9 de julho de 2017

Estranhamente

Tenho momentos em que me sinto perdida e sozinha no meio da multidão, completamente deslocada, desfazada, estranhamente alienada. Fico perdida nos dias em que não me reconheço,  nas palavras que ouço e não compreendo nem me falam ao coração e muito menos à alma, nas gargalhadas que oiço e que dou mas que não sei interpretar, nos sorrisos que sorrio e que me sorriem mas que não consigo vislumbrar. Tenho momentos em que eu não sou eu, estas pessoas não são as minhas, este mundo não é o meu. Acho que estou a precisar de férias.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Filho de uma orquídea

Quisesse eu que a minha orquídea desse notas de cem euros ou fios de ouro ou até vouchers de férias mas não. Quisesse eu que minhas orquídeas dessem lindas flores para alegrar as minhas jarras e a matreirisse dos meus gatos que se divertem a virá-las, mas não e  nem vos sei explicar muito bem o que aconteceu aqui mas tenho uma orquídea que dá pinheiros.....

terça-feira, 4 de julho de 2017

Pontes em nós

Perguntei-me em tempos como circularia o amor em mim, como correria a paixão, ou como a seguir às lágrimas apareceriam os sorrisos.
Perguntei-me em tempos por que caminhos chegaria a alegria depois de uma grande tristeza ou como chegaria a mim o sentimento de voltar a ser grande depois de me sentir tão pequenina.
E em tempos obtive a resposta, em tempos tive certezas.
Atravessam pontes. As pontes que existem em nós

domingo, 2 de julho de 2017

Alugo filha para sessão de compras

Tenho vários biquinis de todas as cores e feitios, mas cismei que este ano queria porque queria um fato de banho sexy para espalhar magia na praia. Pois! Mas como escolher tal coisa sozinha, sem mais um ou dois pares de olhos para analisar, perscrutar, opinar? Uma filha por exemplo, eu, que só tenho filhos, um marido alérgico a compras, uma irmã que vai às compras com a sua própria filha, resmas de amigas com resmas de próprias filhas e uma mãe que mal consegue andar e não pode acompanhar-me, como, como vou eu escolher um fato de banho que me fique a matar, que seja a minha segunda pele, um pedaço de tecido nem grande nem pequeno, que esteja impecável no rabo e nas mamas e na barriga, que tenha um padrão discreto mas moderno e que me faça parecer uma sereia ein? Pois resolvi chantagear meu MaiNovo prometendo-lhe mundos e fundos por uma opinão. Lá fomos. Escolhi seis, boralá para o provador, chamei filho. "Ui! Tantos?" pergunta. E assim que vesti o promeiro ele diz. "Para tudo! É esse, levas esse. Pronto, veste-te e vamos embora! Mas.... começo por dizer, mas não me achata as mamas e fica bem no rabo e não tem muitos atilhos e a cor não é um pouco clássica e....mas... mas e os outros, não é melhor experimentar os outros?
"Nada disso, é o mais giro, fica-te bué de bem, nunca pensei mas fica" E prontos, de certezinha que é tudo mentira mas ele é bom argumentador, convenceu-me e lá fui eu pagar os mundos e fundos que lhe fiquei a dever por esta singela opinião. Agora estou aqui de queixo a tremer, ansiosa, à espera que acabe a bola para poder passar na frente da tv com o meu novo fato de banho perante restantes homens da casa e suplicar opiniões.

É este...