domingo, 31 de maio de 2015

Solidão

O que dizer a quem nos diz sentir-se só...
O que dizer quando vemos a tristeza estampada num rosto, o desanimo, o sentimento de estar num beco sem saída ... Um amigo, um familiar, um colega próximo, uma pessoa de quem gostamos, o que dizer além de tentar dar força e ideias para contornar a situação, de tentar fazer com que não pensem nisso, da dar o que podemos e que não chega. Largamos tudo para viver a vida dessas pessoas com essas pessoas? Vamos entrando e saindo conforme podemos? Não nos desviamos um milímetro da nossa rota e não fazemos nada? Ficamos só a ver? 
Existem passos que não podemos dar pelos outros...

Não importa

Não importam as dores nas pernas, não importam os arranhões, os picos nas mãos, as marcas dos calções nas pernas, o pó, as gotas de suor a escorrerem pela cara e pelo corpo, o cabelo empastado, as pedras, o cansaço. Não importa beber a água quente dos bidões, comer as sandes espalmadas de andarem na mochila, as barras energéticas derretidas, os furos, as subidas quando já quase não temos força e os kms que ainda faltam...




O que importa é a alegria e a felicidade que sentimos, o sorriso interior e exterior durante todo o caminho, as gargalhadas, o companheirismo, o sabor a desafio, a vontade e o gosto de conseguir chegar. O que importa é o sentimento de liberdade, a visão das paisagens maravilhosas, o esquecer do bulício do dia a dia, o estar ali para nós e para os outros. O que importa é o arrepio de satisfação e superação que nos percorre ao chegarmos a cada cume, ao ultrapassarmos cada dificuldade. 
São muitas as vezes que em várias situações da minha vida utilizo estes ensinamentos e ganho forças para continuar. Sem dúvida que tudo isto me tem tornado uma pessoa melhor...




sexta-feira, 29 de maio de 2015

Médicos online

MaisVelho dirigiu-se ao catálogo online  de sintomas e doenças e decidiu que tinha sinusite. Telefonou-me e queria ir às urgências. Ok!
Em chegados à porta do SAP viu cerca de 10 pessoas à espera e nem sequer quis entrar. Ok!
Fiquei danada e não lhe dei mais confiança, não devia estar assim tão doente. Ok!
De volta a casa decidiu que tinha de pôr gotas no nariz. Ó Mãe... Não havia.. Ok!
Após nova consulta ao catálogo de sinusites, sintomas e tratamentos, queria rhinomer.
Ó Mãe... não havia. Ok!
Voltou depois e queria soro fisiológico. Ó Mãe... Estava fora do prazo. Ok!
Depois queria um conta gotas. Ó Mãe... Ok!
Depois queria colocar água e uma colher de sal grosso dentro de um mini frasco conta gotas.
Ó Mãe... Ok!
Chocalhou, chocalhou, voltou a chocalhar, enfiou nariz a dentro e assoou-se. Ok!
Repetiu vezes sem conta este processo, Ok!
Está melhor...

quinta-feira, 28 de maio de 2015

A ver se as palavras voltam

Farol

                                                       

                                                        Do farol eu vejo o sol
                                                        Do farol eu vejo o mar
                                                        Quantos mais dias passo fechada
                                                        Mais me apetece voar





quarta-feira, 27 de maio de 2015

Nada a dizer

E quando não temos nada a dizer, ou até temos muito mas não devemos ou não queremos, o melhor é estarmos calados....

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Correntes

Hoje no trabalho entregaram-me uma taça com uma massa cheia de bolhas e uma folha de papel que rezava assim:

Pão do Vaticano

Este pão trás boa sorte para toda a família.
Aquele que coze o pão tem um desejo realizado .
Apenas deve fazer o pão uma vez na vida.

Começa na 2ª feira.
É importante que o pão não esteja no frigorífico
Coloque a massa numa taça ou bacia de vidro e cubra com um pano. Só pode mexer com colher de pau, nunca com talheres de metal ou com as mãos.

2ª feira - junte 250 gr de açúcar. Não mexer
3ª feira . junte 250 ml de leite. Não mexer
4ª feira - junte 250 gr de farinha - não mexer
5ª feira - hoje pode mexer tudo
6ª feira - junte 250 de açúcar, 250 de leite, 250 de farinha. Mexa e divida em 4 porções. Dar 3 porções. A 4ª fica para si e é com ela que faz o pão
Sábado - junte à 4ª porção farinha, bicarbonato de sódio, fermento em pó, 3 ovos, açúcar baunilhado, óleo, nozes picadas, canela, passas pedaços de maçã e raspas de chocolate. Coloque numa forma e leve ao forno.
Boa sorte.

Isto deve ser daquelas correntes que se quebrarmos vamos ter 7 anos de azar, ou vai nascer-nos uma verruga no nariz, ou ficar com o rabo descaído ou então caem-nos as unhas e nunca mais nos cresce o cabelo. Mete aqui, junta ali, 1 semana para fazer um bolo?? Que se lixe o cu descaído ou as unhas, arranjo um coçador, eu vou masé fazer o bolo já amanhã e não penso mais no assunto. Isto é pior do que ter um Tamagochi...

"Vaipes"

Quando os vi amontoados no chão até me apeteceu chorar, eu que nunca choro. Eu que tenho pedras no lugar do coração apeteceu-me chorar, pegar num saco colocá-los todos lá dentro com muito cuidado e leva-los para casa, guarda-los numa gaveta do pechiché...
Estão a ver aquelas galinhas de pescoço pelado, estão? Sou eu!! Mandei dar umas valentes tesouradas nos meus três longos cabelos que tantos anos demoraram a crescer. O "vaipe" andava aqui a atormentar-me e eu pimba! Dizem que pareço a minha irmã e considerando que ela tem mais 7 anos do que eu, estou satisfeitíssima, portanto. Agora somos duas, iguais, cotas e de pescoço pelado.... Snif!!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A modista

A D. Rosa não era apenas uma costureira afamada, ela era uma senhora distinta e de fino trato, uma senhora que se perfumava e vestia a preceito para trabalhar e receber as suas freguesas, na maioria, senhoras finas e abastadas das redondezas. A D. Rosa era de uma educação extrema e tinha umas mãos de fada que faziam magia com a tesoura e com as linhas. A sua sala de costura era digna de um atelier daqueles de alta costura que se viam nos filmes, com uma salinha de espera cheia de revistas de moda francesas e uma outra sala onde as freguesas eram cuidadosamente atendidas. A D. Rosa era uma criadora e uma fazedora de roupa das revistas francesas.

Nós não éramos  abastadas nem assim tão finas, mas vivíamos remediados que meu pai fazia questão de trabalhar de manhã à noite para mimar as suas meninas e numa casa com três mulheres como era a nossa, onde a minha mãe, assim para forte e de corpo difícil tinha dificuldade em encontrar roupa feita que lhe assentasse bem, meu pai achava muito bem que fossemos à D. Rosa modista. Um pouco longe até de onde morávamos , mas nesse dia, o pai ia de mota trabalhar e minha mãe conduzia o carro. E lá íamos nós as três, cerca de duas vezes por ano, com um saco cheio de tecidos à espera que D. Rosa os transformasse em roupa francesa.
Eu e minha irmã tínhamos de tomar banho antes de ir, vestir roupa de domingo e passar desodorizante  que a D. Rosa não tinha de gramar cheiro a transpiração. Pelo caminho, a mãe ia-me dizendo  que me portasse bem, sim, eu, que a minha irmã já era uma mulherzinha  e nunca se portava mal.

Um belo dia, estava a D. Rosa agachada a meus pés a tirar-me as medidas, minha mãe e irmã assistiam e mandavam-me ficar direita que a D. Rosa ia medir-me a altura. Eu comecei a ficar inquieta e a dar-me a comichão e quando pedi para esperar, pois tinha de me coçar, soltou-se-me um pum!! Assim do nada e sem querer, claro, mas um pum com som. Ai meu Deus! 
Minha irmã virou-se de costas para rir à socapa, minha mãe  foi ficando verde, depois azul e finalmente roxa a repreender-me. De repente, tudo de olhos postos na D. Rosa, tão fina e educada. Esta, primeiro ficou silenciosa a ver as reações e depois largou-se a rir e a dizer que não fazia mal, que acontecia e essas coisas das respostas politicamente corretas. Uma enorme vergonha, foi o que sentiu a minha mãe.

Nunca mais me levaram à D. Rosa Modista...

terça-feira, 19 de maio de 2015

Conspiração

E se estes ventos ciclónicos que assolam este cantinho à beira mar plantado, onde outrora íamos à bola descansadinhos da vida, onde filhos não tiravam a vida aos filhos dos outros, onde andávamos de táxi e pagávamos um preço justo, onde não havia violência, nem bullying, nem pessoas a viverem com fome e sem luz, nem água, fossem enviados para este nosso espaço aéreo para levar para bem longe estas ondas maléficas? É certo que estes vendavais em conjunto com todas estas notícias me têm levado mais alguns dos poucos cabelos que me restam, mas se isso for uma conspiração dos deuses para limpar estes ares terríveis que têm vindo a instalar-se entre nós, venha mais um dia ou dois de ventania, mas não mais do que isso, pois ontem enquanto conduzia do trabalho para casa, quase me espatifei contra um muro à conta de uns objetos voadores que caíram dos céus mesmo à frente do meu bolinhas...
Conspiração, só pode.

Caixa de surpresas

Dizem que prognósticos, só no fim do jogo, no entanto, há situações bastante previsíveis
Há atitudes que sabemos de antemão prever como vão terminar
Há também coisas que deviam acontecer mas que a experiência da vida nos ensina a prever  que não vão acontecer nunca
E há as surpresas...


A minha gata Maria, apesar de castrada e de viver como uma princesa dentro de casa, não deixa de ser uma vadia sempre à espera de uma oportunidade para se pirar e ir dar uma voltinha. Passou o dia de domingo e a noite sem aparecer em casa. Apesar da preocupação sabia que não estava atropelada na estrada porque fui investigar e apesar de sentir a falta do seu peso durante a noite a dormir em cima dos meus pés, sabia que de manhã ela estaria ao portão, aflita para entrar, toda suja, cheia de fome e cheia de pulgas e que ia ter de a castigar com um valente banho.
De manhã lá estava ela, suja, com fome, mas a surpresa foi que ao contrário do que seria de esperar, não trazia pulgas. Castiguei-a na mesma e embora ela tivesse tentado fugir a toda a pressa pois sabia o que a esperava, dei-lhe um grande banho de chuveiro. Durante uma semana vai andar ali certinha direitinha sem querer fugir....

domingo, 17 de maio de 2015

Capacidade de amar


"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."

Carlos Drummond de Andrade





Não fosse a nossa tão grande capacidade de amar e a nossa vida não faria sentido. Amamos a vida, amamos pessoas, animais, lugares, coisas, amamos. Amar faz-nos seguir em frente, faz-nos querer, faz-nos lutar. Amar faz-nos viver. Estranha forma de amar têm alguns. Será antes desamor, será um amor doente, será ódio? Há quem não tenha capacidade de amar, nem sempre temos a capacidade de amar. Há momentos, há situações em que não conseguimos amar. O amor confunde-se, esfuma-se e apaga-se por vezes. Não deixem!
O amor que sinto, funde-se por vezes em paixões, paixões fortuitas, paixões duradoiras, paixões.
Pedalar é uma delas, pedalei tanto neste fim de semana XL, tive jantar, piquenique, noitada e ainda outras coisas, tantas que hoje estava exausta. Eu queria pedalar mais, queria ir à praia, queria fazer montes de coisas. Queria mas não conseguia, nem a minha paixão pela vida, pelas pessoas, pelos meus lugares e pelas minhas coisas me fez ganhar energia. Tive de parar e descansar. Não mexi uma palha, estive no jardim ao sol de papo para o ar, tomei banho de mangueira, li e fiz uma pausa no computador. Agora já estou melhor. Amanhã é um novo dia, estou de novo apaixonada. Até amanhã!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Conceitos de férias

Não fazer nada
Ficar de papo para o ar na praia a torrar ou a sombra
Viajar para longe ou viajar para perto
Passear por sítios conhecidos ou desconhecidos
Ler e ou escrever 
Passar a tarde numa esplanada, comer um gelado, ir para a neve esquiar, caminhar na serra
Pedalar! 
Pedalar, pedalar, pedalar

Hoje levantámo-nos cedo, pegámos nas bikes e rumámos para Norte. A ideia era ir almoçar a Figueira da Foz. Já lá fui algumas vezes mas de carro, é tão longe...
Parece-me que preciso urgentemente de começar a tomar os comprimidos ou de ser internada, tal é a demência desta minha cabeça maluca, meto-me em cada coisa..
Adiante.
Um longo caminho nos esperava e o vento conspirava contra nós. Lufadas de ar fresco a arrepiar-nos a pele e a encher-nos  os pulmões de um ar tão puro e tão forte. A bem dizer nem precisava de tanto ar muito menos a soprar contra mim com quanta força tinha. Por vezes era tão forte que me empurrava para trás, para o lado e depois para o outro lado, que mais parecia uma ciclistas bêbeda. Tão bêbeda que em chegando à ponte para a Figueira da Foz, lá no alto, tive tanto medo, mas tanto medo de ser atirada lá para baixo que tive de desmontar e levar a bike à mão. Nem assim ele me deu tréguas, falta de peso diz o marido.
Lá chegámos sãos e salvos, almoçámos, passeamos de bike pela marginal e começamos a voltar para casa, agora sim, com o vento pelas costas. Gosto muito mais dele assim, a dar-me um empurrãozinho por trás.
Parámos algumas vezes para apreciar as vistas, para lanchar e para descansar o rabo, Lá fiquei eu com mais um andar novo, este é de duas assoalhadas, nem sei como me vou sentar logo à noite para jantar durante horas. O jantar anual dos Primos é coisa para demorar várias horas...
E lá chegámos a casa com 139 kms de viagem. Diz marido que já posso ir a Lisboa de bike, que já me aguento. Está bem abelha, acho que ele também precisa de comprimidos.

Pois é, quem diria há uns tempos atrás que o meu conceito de férias um dia iria ser passar o dia a pedalar...


Total da viagem


Lagoa da Ervideira


Da Ponte Edgar Cardoso


Passeando pela marginal



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Yupiiii

Longe de mim a ideia de vos fazer roer de inveja, claro, mas amanhã é dia da espiga e feriado municipal.  No trabalho não gozo este feriado mas sim o de outra cidade, mas tirei dois dias, dois dias de férias!! E como manda a tradição, é dia de pic-nic no pinhal com os amigos, caminhada, jogo de cartas, gargalhadas e brincadeira. Está quase tudo pronto.



À noite

Caiu a noite.
Uma noite quente de primavera como há anos não havia igual. Ela abriu a porta e saiu para o jardim. Corria uma leve brisa que por instantes a fez arrepiar mas a que logo se habituou. Sabia tão bem aquele arrepio de frescura a percorrer-lhe os braços, o pescoço agora nu, sempre prendia o cabelo assim que chegava a casa, fazia-lhe calor e tolhia-lhe a liberdade de movimentos, agora não, sentia o fresco percorrer-lhe o corpo. Copo de água fresca numa mão, cigarro na outra, sentou-se na espreguiçadeira a olhar a noite. Dizem que à noite não se vê, mas com o holofote ligado, havia dezenas de sombras para observar.
A cozinha estava por arrumar, o banho por tomar, os blogues por ler, o dia seguinte por preparar. Tanto por fazer, tanto por continuar e concluir. Mas não, iria apreciar aquele momento calmamente, as sombras falavam-lhe ao ouvido. A torneira pingava, o churrasco precisava de ser limpo, a parede pintada, as ervas daninhas apanhadas, as folhas da buganvilia varridas...
Cheirava a flores porém, cheirava a quente, cheirava a noite, uma teia com aranha, uma flor que começa a despontar, as orquídeas a crescer.
Bebeu a água, fumou o cigarro calma e lentamente como quem sorve o nectar da vida. Respirou fundo e foi para dentro contrariada.

terça-feira, 12 de maio de 2015


Seja na Turquia em pleno Grand Bazaar, toca o gongo,  pára tudo, esticam-se os tapetes alinhados no chão, tiram-se os sapatos e ajoelha-se para ouvir as rezas e dar azo à sua fé


Seja em Fátima, andam-se quilómetros à chuva e ao sol, num sofrimento sobre humano, chega-se ao recinto, ajoelham-se, escutam-se as missas e reza-se



Seja num outro local qualquer do mundo, a fé move pessoas de todas as raças e credos. Pessoas que acreditam, pessoas que depositam as suas vidas em algo que nunca viram, mas que sentem. Se está certo ou errado, não sei, qual a religião certa ou se a há, não sei, se se cometem horrores em nome da religião, não sei (ou até sei), o que eu também é sei que a fé move as gentes, qual montanhas de pedra inamovíveis.



domingo, 10 de maio de 2015

Guardadora de vacas


A serra é uma imensidão de beleza e mistério e veste-se de mil cores, mas aqui no meio do nada e sem nenhum humano por perto além de nós, vestia-se de preto e branco com brincos amarelos.
Mais à frente e no nosso trilho demos com uma vaca e seu bezerro de poucos dias. Não sei como tinham ido ali parar, mas quanto mais nos aproximávamos mais corriam à nossa frente, afastando-se cada vez mais do sítio onde estavam as outras. A vaca mãe estava assustada e mugia com medo que fizéssemos mal à sua cria. Tive uma epifania, quiçá à conta daqueles ares tão puros e daquela imensidão de céu à minha frente que vai não vai me amolece a alma. Pedi ao pessoal para encostar, saltei o muro e sem as vacas me verem corri para a frente, saltei para o trilho e enxotei-as de volta. Montámos as bikes e seguimos o nosso caminho certos de que as tínhamos salvo. Acho que dava uma boa guardadora de vacas. 
Das de quatro patas.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Glicinia

Lembro-me sempre dele quando olho a glicinia em flor, as folhas tão verdes, as flores de um lilás tão vivo, o aroma tão intenso a primavera. Gosto de passar perto e inspirar aquele aroma, imagino-me no paraíso. 
Parece até que ainda o vejo, todos os sábados, pendurado no escadote a atar e cuidar das braças que teimam em se espalhar por sítios que ele não quer. Tudo é cuidadosa e meticulosamente projetado e executado por forma a atingir a perfeição por ele idealizada, como de resto, saía perfeito tudo o que fazia.
Sábado após sábado eu ia ver qual era o projeto daquele dia e todos os anos por esta altura eu lhe dizia que cortasse uma braça da glicinia e ma plantasse num vaso. Eu queria uma glicinia daquelas no meu jardim, plantada por ele.. Todos os anos ele acabava por se esquecer. 
Foi já no hospital, poucos dias antes de partir na sua eterna viagem para o céu que meu pai me disse, assim do nada, que fosse lá a casa e que perto do poço estava um vaso com uma glicinia plantada e já em fase de crescimento para mim.
Ainda não a trouxe, mas quase todos os dias vou ver a dele.



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quando eu voava

Já não me lembro exatamente em que fase da minha vida sonhei que voava. 
Na altura eu não era um pássaro, o voo acontecia quando eu saltava no trampolim (sim, paixão antiga, sim, passei ao lado de uma grande carreira como atleta). Nos sonhos eu começava a saltar baixinho, depois cada vez mais alto e mais alto, até que voava.  Nesses voos eu parava em imensos sítios distantes, num barco, numa ilha no meio do mar, em faróis iluminados, em cidades, em montanhas. Descia, observava, falava com as gentes e voltava a voar. Durante noites e noites eu voei, voos rápidos, voos lentos, picadas para me deter em pormenores, planava sobre mares e continentes. Fui da Malásia a Austrália, do Alasca a Argentina, de Madagáscar a Islândia. Voei tanto sem asas.
Sabia ser sede de liberdade, curiosidade, sabedoria, mas depois  vieram noites em que comecei a sonhar que me caiam os dentes em público e eu era ridicularizada, inferiorizada, marginalizada e fiquei insegura, cheia de dúvidas, cheia de questões. 
Deixei de voar...

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Nem tudo são rosas

Pedalar deixa as suas marcas.
Umas mangas desenhadas nos braços, umas luvas de dedos cortados nas mãos, umas tiras de capacete e uns óculos na cara, uns calções nas pernas. Uns arranhões, algumas cicatrizes. Cada uma tem uma história, cada uma tem um dia e uma hora, cada uma é uma marca da minha felicidade.





Identidade

Se é certo que os casais que partilham os mesmos gostos e fazem coisas em conjunto, estreitando laços, alimentando a cumplicidade e estando mais tempo juntos têm, na maioria das vezes, uma relação mais saudável e feliz, também é certo que os  casais não têm forçosamente de partilhar os mesmos gostos. Cada indivíduo é único e deve manter a sua identidade, independentemente de terem uma relação com alguém e quererem que esta funcione.
É claro que, se por exemplo, vão tirar férias juntos e um quer ir para o Porto e outro para o Algarve e não chegam a um consenso, ou cada um faz fincapé com a sua ideia e não cede um milímetro, é certo que é muito mais difícil fazer funcionar a relação.
Nestas coisas das relações humanas há que saber ceder, adaptar, contornar, em suma, gerir de uma forma que se contentem todos e não um só, mantendo ao mesmo tempo a própria identidade.
Não é fácil o equilíbrio, pois não, mas uma coisa eu posso dizer-vos que estou casada há mais de 20 anos, é de grande importância haver gostos e actividades em comum, nem que para isso tenhamos de nos repensar e adaptar a novas realidades. É importante ter quereres e encontrar algo que seja comum ao casal, para além dos gostos e/ou actividades, Não que ela tenha de jogar futebol com ele e a seguir ir beber umas bejecas e ele tenha de ir Zumbar com ela, mas podem fazer caminhadas juntos ou outra coisa qualquer, não?
Vão por mim que sei das coisas :-) 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Colinho

Dirigia-me eu para o trabalho esta manhã a 30 km/hora e a achar que devia era ter ido de barco tal era a quantidade de água na estrada e já a imaginar que a continuar a cair tal diluvio não me escaparia com certeza de que me entrasse água pelas frinchas das portas do meu bolinhas azul e não tardaria a estar com os pés molhados quando me veio à ideia a conversa de ontem com MaiNovo (17 anos).

Uma hora tinha volvido após seu acordar e nada de beijinho ou feliz dia da mãe, nem flor, nem postalinho e eu sem me conseguir conter perguntei se por um acaso qualquer ele sabia que dia especial era aquele. 
E ele, com aquele sorrisinho maroto e com um trejeito no lábio, a responder-me que estava a ver que este ano eu estava mais crescida e já conseguia conter-me, mas afinal não. 
"Não há postalinho, não há florzinha  e já são horas de deixares de ligar a essas mariquices. Mas olha, chega-te aqui que eu dou-te colinho, vá."
E eu fui.. 
E ele deu-me colinho..
E foi tão bom...

Mais uma vez estou fora

Sou uma blogger de quinta categoria, uma facebookiana de terceira. Falhei o post sobre  Baltimore, o dos peregrinos mortos, o do  nascimento da princesa, o do dia da mãe. Nem sequer coloquei uma selfie no face com a minha mãe nem com os meus filhos. Eu só quero saber de bicicletas....
Vou ser banida do mapa, ó se vou.

domingo, 3 de maio de 2015

E então Gaja Maria, só consegues mexer os olhos ó quê?

Ó quê!
Pois que gostava de vir aqui dizer que fiz o desafio com uma perna às costas e se este só tivesse tido 75 kms podia dizê-lo, mas não, teve 110, 2.700 de altimetria acumulada, trilhos maravilhosos mas muito técnicos e super difíceis,  muita pedra, subidas de perder de vista, descidas perigosas. Duro, muito duro, o mais duro que fiz até hoje. Os últimos 25 kms foram um enorme sacrifício, o cansaço instalou-se e o percurso ficou ainda mais complicado. Cheguei a pensar algumas vezes "não posso mais" mas depois o meu marido dava-me um empurrão e dizia, "vá, tu consegues" e o alento voltava.
Superei o desafio após quase 12 horas a pedalar. Cheguei super cansada mas feliz e ainda me deram os parabéns, afinal as mulheres que se aventuraram neste desafio contavam-se pelos dedos de uma mão e algumas atalharam pela escapatória, todas muito mais novas. 
Apanhei um escaldão, tenho as pernas e os braços todos arranhados dos arbustos e mal me consigo sentar, mas conto no meu currículo de bttista cota, o maior desafio das redondezas. Venha o próximo!
Tenho de agradecer aos rapazes que foram esperando por mim cheios de paciência, pois ando mais devagar que eles e ao maridão que carregou a minha bike a atravessar o rio e a subida de pedras, animando-me e incentivando-me sempre.
Não sou nem me sinto nenhuma heroína. Não ganhei nenhuma medalha, não salvei milhares de crianças, não descobri a cura para o cancro, nem apanhei todos os assassinos e violadores do mundo, eu sou apenas uma mulher de meia idade que descobriu que consegue superar desafios.

E tenho de vos dizer ainda uma coisa:
"Nunca desistam, muitos menos antes de começar"


Algumas fotos de sítios onde dava para parar:












sexta-feira, 1 de maio de 2015

Estou p'raqui numa ralação

Este é o menu para amanhã....
Dizem que é duro, mas duro, são paredes e mais paredes para subir e muitas descidas perigosas pela Serra do Sicó, 106,3 kms. Disse sempre que ia e sempre estive animada, mas ontem começou aqui a dar-me aquele frio na barriga, aquela ansiedade que me dificulta a respiração. Estou aqui numa ralação. Será que que estou a sobrevalorizar os meus limites e devia não ir?
O meu marido diz que eu não vou apanhar UM empeno, mas O EMPENO!
Eu? Continuo a querer ir, eu vou. Logo se vê. Se eu não aparecer por aqui nos próximos dias, é porque estou em coma. Enviem-se soro e oxigénio. Ah! E um kit de pernas novo e um rabo sem ser assado que amanhã por esta hora é como ele vai estar.
Inté