segunda-feira, 30 de maio de 2016

Eu cá ando sempre protegida



Sim, ponteiras de aço para ir á produção. Ficam-me bem, não?

Palavras soltas

Há  dias em que as palavras se quedam mudas, ficam presas na garganta, desfazem-se antes de conseguirem juntar-se para formarem frases, prisioneiras de si mesmas e de um feitiço lancado às  cegas. Palavras mudas. Palavras presas. E eu que preciso delas para viver  quanto mais não  seja formadas e alinhadas, á porta, prontas para o que der e vier.
Hoje não  será  um desses dias.

sábado, 28 de maio de 2016

O que vêm os teus olhos Gaja Maria?

Uma Gaja anda a treinar para umas cenas. Mais um desafio dos grandes, vá e pedala toda a manhã  para poder ir bater perna nas lojas. Sim, Gaja que é  Gaja pedaladora também gosta de fazer umas comprinhas de quando em vez. Decidi que nao tinha nada para vestir e tinha mesmo de ser hoje. A meio da tarde uma Gaja acha que merece um gelado, dirige-se ao local indicado para o efeito e pede um cone com uma bola carregada de frutos secos crocantes já  a lamber os beiços. Diz-lhe a moça que o gelado está  um pouco mole, se o pode colocar num copo. Claro, moça, eu quero é  devorar um gelado.... Aí  está  ele.
Uma espécie  de psicologia invertida. Acreditem, não  me soube nada bem este gelado ao contrário, todo mole...

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Á briga com uma gata

Hoje pedalei o dia todo. 
Dos passeios mais bonitos que fiz de bike (os Açores não contam que S. Miguel é fora de série), andei perto de Fátima, Ourém e Tomar e percorri 95 kms de paisagens soberbas, trilhos por dentro da vegetação cheios de flores onde parei para cheirar, riachos onde entrei para me refrescar, pontes de madeira onde parei para fotografar, o castelo de Ourém que não conhecia, fantástico mesmo. 
Do mais belo que já vi.
Ás tantas parámos para mordiscar uma sandocha de queijo com presunto na esplanada de um café de aldeia e logo apareceu uma gata a roçar-se nas minhas pernas e a pedir comida. Dei-lhe presunto, dei-lhe queijo, mais presunto, mais queijo e mais e mais A bicha parecia um aspirador e nem me deixava comer, apanhava os peçaços no ar e logo pedia mais. 
Eu, esganada de fome, comecei a fingir que não a via. Não é que a bicha se atirou á minha sandocha?





quarta-feira, 25 de maio de 2016

Há coisas que nunca mudam

Olho a enfermeira nos olhos e sigo-lhe os movimentos rápidos e certeiros. Observo o tamanho da agulha e quero vê-la entrar-me na carne como sempre gosto de fazer. Não me doi nada. Assim como também não  me doi nada durante os quase dois minutos em que o liquido amarelo me penetra bem devagar no músculo  do braço e segue o seu caminho espalhando anti corpos por mim abaixo. Sou muito resistente á  dor dizem e sou mesmo.  Não  sei de onde veio esta herança e não a questiono mas ainda bem que veio, tem-me poupado imenso sofrimento.
Há  um ano fora da validade no total gastei cerca de quatro minutos a levar uma vacina, os restantes três  quartos de hora gastei-os á espera. Á  espera para tirar o ticket, á  espera que me chamassem, á  espera que atualizassem a minha ficha no sistema informático.....
Há  coisas que nunca mudam.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Perguntas

Nunca nada é  tão  difícil como perguntas de filhos às  segundas-feiras de manhã assim que acabo de acordar. Tão,  mas tão  difícil que me parece que falam mandarim e eu que  até sou de línguas, de mandarim não pesco nada. Respostas então, só  lá  para as dez horas.
Descobri agora a resposta. Estou a melhorar nos tempos.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Mau presságio

O fogão ligado em lume brando, a carne a fumegar em apuramento final, a massa fervendo e eu juntava uma pitada de oregãos á bolonhesa dos miúdos. Embora já homens, são sempre os miúdos. Coisas de mãe que por muito que lhe custe, os filhos acabam por crescer. Pêlos de barbas na pia da casa de banho, cartões únicos encaracolados de andarem no bolso das calças, sweats a cheirar a fumo, enfim, serão ainda assim, sempre, os miúdos. 
Deitava eu os oregãos na bolonhesa e retificava os temperos quando ouvi uma grande confusão junto á garagem, corri a ver o que estava a acontecer já de coração aos pulos pois aquelas patas e correr de um lado para o outro não auguravam nada de bom, com certeza mais um gato estranho que estava a ser corrido daqui. Sim, isto parece a casa da sogra, a gataria da vizinhança vem toda aqui comer a ração da boa que compro para os meus, um dia destes estava descansadinha a ler no meu sofá quando vi um vulto a passear no corredor, um gato pardusco que nunca tinha visto a desfilar o seu corpo ondulante de cauda no ar. É o que dá  ter tudo aberto até ao quintal. Bom, na garagem estava o meu Zé com um pobre passarito na boca, ainda dava ás asas mas estava muito ferido, zé gato achou que era um brinquedo. Tentei tudo por tudo para o tirar das garras do seu predador que até uma vassourada lhe dei e nada, não havia forma de o fazer largar o troféu. Entretanto a bolonhesa e a massa estavam a secar e tive de voltar á cozinha. Fogão desligado voltei á garagem.
Passarito jazia morto no tapete e Zé gato nem vê-lo. Mais um animal morto á minha porta. 
Cheira-me a mau presságio...

Bootcamp

Se nuns dias me conformo com a idade que de facto tenho,  noutros teimo que tenho menos vinte anos. Pois.
Fui ao Bootcamp!
Fizeram duas equipas, a outra tinha um rapaz e três miudas novas, atletas de andebol, a minha, duas mulheres com mais de quarenta e duas miúdas que eu não  conhecia, mas eu queria ganhar. Ah carago!
Corrida, abanar cordas super grossas, burpees, levantar pneus de tractor e empurra-los, barras com pesos,  escadas, flexões, saltos e agachamentos, tudo o mais depressa que eramos capazes e na rua, no cimento. Perdemos a primeira ronda, ah carago que fiquei danada e atirei-me aquilo de unhas e dentes. Caí  em cima do pneu, esfodacei uma unha e fiquei com as mãos todas pretas mas conseguimos empatar a segunda ronda.
Hoje estou toda entrevada....
Acho que tenho de ir para casa fazer gelo no corpo todo.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Quando os planos saem furados

De marmita mas em grande estilo, pois claro.
Queria uma assim mesmo em bom pois as de vidro  de irem do frio para o microondas acabam por partir e as de plástico ficam todas quifosas (palavra de filho) ao fim de umas semanas. Procurei, procurei e olhem o que encontrei, com divisórias e tudo para a comida não  brigar, própria  para o frio e microondas, o plástico  é ótimo e a cor magnífica,  mesmo a fazer "pandã" com o saco. Mandei vir. Pois que veio. .....
Pois que não  liguei ao tamanho e pois que afinal e enormérrima e cabe lá  comida para um batalhão de gente, eu que como dois bagos de arroz e estou almoçada. Pois que nem me cabe no saco....
O que é  que eu faço  a isto?

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O graal

Este fim de semana fiz um milhão de coisas.
Depois de ter apanhado ervas daninhas demais, de ter estentido, apanhado e engomado roupa demais, de ter pedalado demais, ontem, a tarde terminou com uma cerimónia e uma festa. Acabei a comer demais, a beber demais e cansada demais. Apaguei por volta das dez da noite no sofá, sentada, de rato na mão e computador nas pernas, coisa que já não me lembrava de acontecer e com a qual goso o marido todos os dias. Não li livros, não visitei blogs, não vi os Globos de Ouro, e hoje, a muito custo lá me levantei. Apática, de mau feito, ainda cansada e com remorsos de tudo e mais alguma coisa. Almocei uma sopa, bebi dois litros de água e lanchei umas bolachinhas super saudáveis. Um pacote inteiro vá... fiquei bem. Só não sei como umas bolachas de trigo desenxabido revestidas com iogurte de laranja de um dos lados me viciaram e mudaram o meu dia :) pena que a mercearia já estava fechada, quero comprar mais, quem sabe se não descobri o Graal?



Impasse

Finalmente tudo entrou em sintonia e a bússola  foi reorientada para o novo norte. A velocidade era cerca de cento e vinte para não  empatar o trânsito e ao mesmo tempo não infringir as regras. Com tempo e calmamente chegaria ao seu destino e o Cruise control foi ligado para as próximas horas,  quiçá os próximos  dias ou meses.
Mas não! Nunca o seu Cruise control fica ligado por mais do que umas horas, apenas e só até que alguns obstáculos surgem na estrada e o desvio é inevitável. De sentidos apurados , reflexos de volta, olhos abertos e mente desperta reorienta mais um novo norte  na bússola.
Cansada ...

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Hoje cheirou-me a queijo

Esta tarde, olhava eu pela vidraça da sala de trabalho constatando que a chuva tinha dado tréguas e que até talvez fosse desta que o tempo abrisse e quem sabe até o sol desse um ar da sua graça, quando me veio á memória o cheiro do queijo que distribuiam pelos alunos quando eu andava na escola primária.
Tenho esta mania de guardar memórias com cheiros, vá-se lá saber porquê. E nem faço a menor ideia porque raio fui eu lembrar-me do cheiro áquele queijo num dia em que me apeteceu bater em pessoas porque estava a chover.
Mas falava eu do cheiro daquele queijo que vinha em latas para as escolas depois do 25 de Abril. Em chegando o intervalo, fazíamos fila e a professora abria as latas e cortava e distribuia pedaços de queijo com bolachas por todos nós. Alguns nunca lanchavam porque simplesmente não tinham nada para lanchar e assim, passaram a comer a meio da manhã. Não era o meu caso, a quem a minha mãe mandava pão e fruta e ai de mim que não comesse tudo, mas o queijo era para todos sem discriminações e todos tinham de o comer.. O queijo que vinha em latas! Foi mais ou menos nessa altura que me lembro de ter passado de "palito/palito fino" para somente "palito com pernas".
Lembro-me até do sacrifício que fazia por ter de o comer pois não gostava do queijo, muito menos do cheio. Mas hoje apeteceu-me tanto uma lasca....

E não me venham cá dizer

Que a chuva é  fixe e é  lindo ver chover e é  bom para ficar em casa no quentinho a ver séries  e a ler e a namorar e a cozinhar. .... É  fixe, o carago para não  dizer caralho que uma gaja tem uma reputação  a manter.
O céu  chora, as flores choram, os passaritos escondem-se e eu estou deprimida. Uma neura daqui até à  porra das nuvens carregadas de água para mandar cá  para baixo. Por amor da Santa que já não se aguenta. Já  nem consigo ver poesia em tanta água....
Por este andar estou aqui estou masé  a gritar aos quatro ventos o quão me sinto infeliz e a bater nos colegas de trabalho.
Logo quando chegar a casa acho vou andar de bike à  volta da sala, fazer piquenique no quarto, acender a lareira e vestir um vestido de alças e calçar sandálias enquanto me empanturro em chocolates e porcarias. Xiça!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Casa com gente dentro

Casas de sonho e revistas de decoração com tudo perfeito e a condizer. Que sonho. Um toque aqui, um pormenor ali, um padrão, uma flor um tom claro, um cadeirão ás flores para quebrar a monotonia, umas janelas enormes para deixar entrar a luz, espaços amplos para dar a impressão de grandeza, pinturas, molduras, objetos personalizados, livros. A nossa casa somos nós, que escolhemos tudo á nossa imagem e da nossa carteira, sonhamos no entanto com as casas das revistas. Um dia talvez, se a sorte nos bafejar com a chave certa do euromilhões.
Mas a minha casa é a minha e tem gente dentro. A terceira ronda de pratos que comprei desde que me casei já tem os rebordos lascados, o quarto conjunto de copos já está baço da máquina de lavar, o cesto da roupa tem uma imensidão de meias desirmanadas, na arca frigorífica nasce gelo todos os dias e o espelho de aumentar da casa de banho tem ferrugem da humidade. Talvez compre um novo conjunto de pratos e outro de copos, talvez deite fora afinal as meias desirmanadas e substitua a arca e o espelho. Ou talvez não. Gosto das casas das revistas, mas a minha é minha e tem gente dentro.

domingo, 8 de maio de 2016

A capa

Tão bonito que o meu caçula estava de traje vestido e de capa traçada. E de copo na mão, claro que estes miúdos não sabem festejar sem beber. Pudesse ele ter calçado uns ténis em vez de uns sapatos á homem e não tinha ficado com os pés cheios de bolhas, coitadinho. Mas eu disse-lhe para ele se fazer á vida e a vida que ele escolheu passa por calçar uns sapatos á homem, vestir uma camisa e usar um fato em vez de uma t-shirt e umas calças de ganga. Assim ele saiba fazer-se á vida e esta lhe sorria. 
Orgulho de mãe.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ementa para os próximos dias

Tenho uma grande empreitada pela frente, a ver se a chuva e o tempo ajudam. E as pernas claro.
Eu já volto!




Janelas

O meu olhar perdeu-se tantas vezes por estes dias.  A minha mente viajou, andou perdida, viu o meu corpo ali sentado naquela cadeira, quieto e concentrado, porém  apático e sem alma. A alma sobreboava todas as pequenas luzes, que se apagavam uma a uma e se uniam transformando-se em apenas uma enorme nuvem negra.
Alma essa, muito ocupada a perfurar a nuvem para deixar entrar o sol, reencontrando-se, fazendo com que cada pequena luz voltasse a brilhar e se transformasse em coisas boas. Aos poucos elas foram vindo. Corpo, alma e coração voltaram a unir-se então e eu confirmo, quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. Ou várias.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Sabia-se de cor

Imagens da sua vida sucediam-se a uma velocidade estonteante diante de seus olhos que cerrava com quanta força tinha para parar tamanho corropio. Sabia que nos filmes tal acontecia quando se caminhava para o túnel de luz que se apagaria no final, quando a alma saia do corpo e subia. 
Era por isso urgente parar.
Teimosamente viu-se no entanto a correr por entre flores, a trepar a ginjeira, a correr para o baloiço. Sentia o vento no cabelo, as ervas a arranhar-lhe as pernas, o cheiro das flores que sucumbiam  á sua passagem. Depois ouviu os soluços pelas amizades perdidas, o fim do primeiro amor e a partida para a grande cidade onde daria o salto para a independência. Viu-se vestida de branco, ouviu o choro fraco e aflito do seu primeiro filho, depois o médico a dizer-lhe que não fizesse força que o bebé tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço, tão pequeninos, tão indefesos, tão desesperadamente amados. Logo de seguida já estava com um ao colo e outro agarrado á perna. Viu-se rodeada de beijos e abraços, viu-se prenhe de amor. Excertos de vida, flashes de lugares e cheiros e momentos felizes. Pessoas a partirem, outras a chegarem.
Em poucos minutos riu e logo depois chorou.
Sabia-se de cor.
Nunca iria perecer, pois renasceria quantas vezes fossem necessárias.

domingo, 1 de maio de 2016

Hoje

Dia da Mãe, dia em que as mães se sentem especiais e acarinhadas, mimadas por seus filhos, andei todo o dia de lágrima ao canto do olho e uma sombra no coração. Algumas ainda teimaram rolar cara abaixo, deixando-me salgada, dorida, eu que nunca choro, eu que me faço sempre forte como o aço. 
Fui abraçar a minha, olhá-la nos olhos, apertá-la, mimá-la e a primeira sombra cresceu no meu coração, está velhota e cansada, vejo-o no seu olhar, nas rugas do seu rosto, nas suas pernas tropegas embora ela teime em não o querer mostrar. E a sombra voltou a crescer, os meus filhos, ambos adultos, esqueceram-se! MaiNovo, quando caiu nele, correu a abraçar-me, MaisVelho nem se mexeu. Esperei o dia inteiro uma palavra, um beijo, um abraço.... Nada. 

Desculpem. Porque sim. Porque a vida não é só coisas bonitas e boas, porque vida tem destas coisas, porque hoje estou triste e angustiada, porque.... sinto que de alguma forma falhei na educação dos meus filhos. Pessoas que sabem quem eu sou e me conhecem, pois.... 
Amanhã a emissão volta ao normal.