sábado, 27 de abril de 2019

Cada vez mais

Aprecio a minha própria companhia e o meu silêncio.
Talvez porque esteja numa fase de contrariedade e numa situação que foge aos meus planos e ao meu controlo e eu me encontre irritada e aborrecida o que faz com que não queira ver pessoas, muito menos ouvi-las. Por outro lado, talvez seja bom reencontrar-me e finalmente apreciar-me e estar de bem comigo. Já não corro, já não fujo, já não me escondo da solidão. Aprecio-a agora.
Deitei-me na espreguiçadeira do jardim ao sol, tirei as meias, arregacei as calças e olhei o céu. O meu céu. O meu quadrado de céu. O sol aquece-me as pernas, Zé, o gato, aproxima-se e rebola ao meu lado, ouço um galo ao fundo, um cão a ladrar. A folhagem das plantas murmura ao sabor do vento e há chilreios por todo o lado.
Tão bom! Que paz. Por que não sei eu aproveitar isto sem ser a pedalar...
Pego no livro para ler mas pelo canto do olho observo um melro a saltitar nos telhados à minha frente, traz uma minhoca no bico. Embrenha-se na planta gigante do meu pátio que entretanto se transformou numa árvore e pelo piar concluo que foi alimentar os filhotes no ninho. Fez mais três viagens mas nunca consegui captá-lo com a minha objetiva, pois sabe da minha presença e é muito rápido. Quantos ninhos albergará aquela árvore? Quantos pássaros lá viverão? Quanta vida  há, ali mesmo no meu quintal....
Admira-me a passividade do meu gato Zé a olhar os passaritos pelo canto do olho. Acho que se habituaram a conviver uns com os outros.
Tal como eu. Acho que aprendi a conviver comigo. Finalmente.










quinta-feira, 25 de abril de 2019

Eu bem quero


Escrever, escrever, escrever neste blog quase às moscas, mas tenho sempre um gato mimado em cima de mim, mais propriamente deitado em cima do teclado....


terça-feira, 23 de abril de 2019

Orelhas!

As do Dumbo.
Era o que eu queria mesmo ter agora para poder voar para fora da minha jaula e poder ver o mundo e as pessoas e tudo e tudo.
Sim, eu neste momento cinjo-me a leitora e não escritora ou faladora para não maçar ninguém com as trombas que sinto que tenho, qual leão selvagem enjaulado e ansioso, aguardando uma tal de SMS ou um tal de um telefonema do hospital com ordem de remoção de um certo e estúpido parafuso que me impede os movimentos e a recuperação e o regresso à vida.
Alguém tem por aí umas orelhas grandes? É que se eu tivesse umas dessas orelhas nem precisava das pernas nem das muletas, passava por vós a voar e a acenar feliz da vida. Até mandava beijinhos e soltava balões e pombas brancas.
Como é que é possível que haja gente que inventa doenças para ficar de baixa eternamente e não fazer nenhum, como é possível alguém desejar ficar simplesmente a vegetar....


sábado, 20 de abril de 2019

Quando os parafusos da perna deviam ter sido colocados na cabeça...

E não foram, dá nisto.
Vipes, brancas, tonteiras nesta carola. Deixei de ser loira e até me assusto quando vejo uma ruiva a passar no meu espelho.
Socorro! 

Quem és tu e o que fizeste à Gaja Maria?? 



quarta-feira, 17 de abril de 2019

Há coisas curiosas

Uma pessoa cai ou tem um acidente ou fica doente ou o que for, fica hospitalizada, faz cirurgia, fica acamada ou o que for, mas encontra-se imobilizada e lixada em casa, desertinha para ir trabalhar, mas não pode. No entanto, passa horas esquecidas no hospital para consultas e exames, passa horas no centro de saúde a fazer pensos e a pedir credenciais e baixas, passa horas em fisioterapias, sempre, sempre, com alguém que tem de faltar ao seu próprio trabalho porque neste caso o acidentado não tem como se deslocar e também, está de baixa há imensas semanas mas ainda não recebeu ponta de um corno e poderá ter, ou até poderá não ter (há muita gente que não tem) como pagar a um taxista horas e horas para andar consigo em tantas andanças.
E depois, no meio disto tudo,  tem de se apresentar na junta médica, onde passa mais uma série de horas, supostamente para exames e verificações médicas, mas onde quem faz as verificações não é médico nem coisa nenhuma, ou pelo menos não se identifica como tal, mas vai decidir se a pessoa terá ou não justificação para estar de baixa ou se a baixa é ou não fraudulenta....
Há coisas mesmo curiosas.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Liberdade

Estranhei.
Depois entranhei.
A minha mobilidade continua limitada, a minha vida continua parada (entre aspas), mas eu não fiquei a chorar e a lamentar-me e a achar que sou uma desgraçada e que só a mim me acontecem desgraças. Não. Nunca derramei uma lágrima, pelo contrário, dez minutos após saber da minha desgraça, estava conformada, queixo levantado, sorria para as enfermeiras e estava munida de uma enorme dose de paciência, pronta para o que viesse.
A caminho do bloco operatório imaginei-me numa gincana de macas conduzidas por enfermeiros tresloucados e de cabelos em pé e fui sempre a rir-me e a conversar com o meu condutor.
Uma vez lá chegada, estava super descontraída.
Afinal, não é cada episódio da nossa vida uma passagem para outra margem?
Estou na sétima semana "de molho" e vejo já luz ao fundo do túnel. Além disso estou contente.
Contente, porque arrumei e organizei tudo quanto é gaveta cá em casa, ok que demorei meio dia com cada uma, mas estava a fazer algo e o que não consegui fazer, anotei para fazer depois. Tenho uma página A4 de ideias para concretizar assim que tenha mobilidade. Aprendi a fazer listas de compras online num abrir e fechar de olhos, tão cómodo que é, vou continuar a utilizar o sistema. Aprendi a estender roupa e a engomar sentada, aprendi a cozinhar aos saltinhos de pé coxinho, aprendi a transportar pequenas coisas penduradas nas muletas ou ao pescoço. Aprendi a tomar banho sentada num banquinho e com um saco enfiado na perna. Entro e saio do duche de muletas. Um luxo ein?
Só visto!
O meu companheiro de luta é o meu anjo da guarda. Muitos me ajudam e me mimam e eu sou uma sortuda. Não podia ter melhor família e melhores amigos.
Eu li livros, eu vi várias séries, trabalhei remotamente dia sim dia não e descansei os meus dois neurónios, embora destes dois que me restam, estejam também a ficar queimados.
Agora digam-me lá, parada a minha vida?
É claro que sinto falta do meu trabalho, dos meus colegas, de conduzir, de poder dar-me na real gana e ir às compras. Tenho saudades de vestir roupa normal, de me arranjar, de me calçar. Tenho saudades de pedalar.
Tenho saudades de liberdade.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Era uma vez, uma vez



REPOST


quarta-feira, 2 de novembro de 2016


Era uma vez um casal digamos médio. Médio porque não era novo nem velho, não era rico nem pobre, não era feio nem bonito, nem do Norte ou do Sul. Não era também o maior áz do pedal mas não de todo o conanas da pedalação. Era médio portanto mas muito determinado a pedalar Serra da Estrela a fora. 
O dito casal abancou em Manteigas num pequeno e bonito hotel familiar, de um requinte fantástico com uns anfitriões cinco estrelas.
No segundo dia o tal casal chega esbaforido da pedalada aos seus aposentos deparando-se com o aquecimento ligado e o calor a bombar que a serra à noite é muito fria. Abrem-se as janelas para correr o ar, toma-se a banhoca e fazem-se à vida. Após a pança compostinha de queijo da serra e um divinal estufado de javali, fizeram-se ao quartinho, fecharam as janelas e aquietaram-se.
Mas, e porque há sempre um mas nas histórias dos casais médios, começaram a ser sobrevoados por moscas, muitas moscas. Voos rasantes e até secantes, aterragens forçadas, levantamentos a alta velocidade, as moscas eram mais que as mães, pousavam nas mãos, no cabelo, no nariz, não paravam quietas e eram tantas mas tantas que o barulho das asas já estava a enervar. 
E foi assim o serão daquele casal médio na serra. A matar moscas.  Ao fim de uma hora jaziam mortas no chão vinte e oito moscas. Cinco não se deixaram caçar mas fizeram-se emboscadas para as empurrar para a casa de banho e esta foi trancada e calafetada não fossem  elas escapar-se pela greta da fechadura. Dormiram então exaustos de tanto caçar e não mais aquelas janelas se abriram. 
O ar da serra é maravilhoso.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Nova etapa


Yeah!
Que alegria, o gesso já lá vai no entanto, recomeçar a andar,  só daqui a duas ou três semanas após remoção de um dos parafusos.
Isto vai, devagar mas vai.
Ó se vai :)


domingo, 7 de abril de 2019

Sem título

Estava aqui a coçar a minha perneta desenfreadamente por dentro do gesso com uma agulha de tricot, quase mesmo até fazer sangue que vocês não imaginam a coceira que isto dá, quando me ocorreu a pergunta que a psicóloga de uma amiga lhe fez na primeira consulta pós cancro da mama:
"O que é que te aconteceu para chamares o cancro à tua vida?"
Pois.... que raio de pergunta para se fazer, que raio de abordagem, que raio será aquilo de chamar desgraças para a nossa vida? O que pensar, o que responder?
Será mesmo que chamamos inconscientemente acontecimentos para as nossas vidas para resolver questões para as quais não temos resolução? Será???
Bom, que eu andava cansada, desmotivada, exausta mesmo, a nível psicológico, andava, que achava que precisava de uma pausa no trabalho, achava, que deveria repensar os meus azimutes e mais uma série de coisas, deveria e que desejava ardentemente que algo se altera-se e que tivesse tempo para fazer certas coisas, desejava.
Agora, será que necessitava mesmo de partir um tornozelo para ficar imóvel em casa já lá vão seis longas semanas para concluir que no final de contas tenho saudades do meu trabalho e do stress e das intrigas dos colegas e da confusão do departamento e de cozinhar e engomar para a família e das resmunguices deles e de tantos contratempos a todos os níveis e desta tristeza esquisita e de não ter tempo para nada? Será que precisava de ficar sem palavras e com a alma doente de tão vazia' Será que precisava de ficar com a vida em suspenso E de saber quem me quer bem e para quem sou importante?
Quer-me cá parecer que sim...
Agora já chega, já cá tenho a minha lição.
Amanhã é um dia importante na minha vidinha de perneta e o meu nome do meio é esperança, não é, mas é :)
Até amanhã.

sábado, 6 de abril de 2019

Vejam só que coisa mais linda mais cheia de graça

À falta de mobilidade, ajusta-se o azimute para outras atividades. Indoor, claro e sentada. Ah pois!
Estas foram a quatro mãos. Maridão lixou e pintou a caixa, cortou os tubos e arranjou os pés dos suportes das pulseiras, eu fiz o resto. Que tal?
Digam lá que isto não merecia um vlog no youtube...














segunda-feira, 1 de abril de 2019

Recantos meus #2

Porque a vida também é feita de memórias e de recordações e de coisas.
Coisas das quais somos feitos, coisas que nos definem enquanto pessoas.
Coisas que marcam as nossas vidas....



Revistas que guardamos uma vida e embora algumas acabemos em algum momento por deixar ir, outras vão ficando e ficando e ficando. Não nos conseguimos separar delas, fazem parte de nós, de algum período das nossas vidas. 
Molduras com fotos,  algumas vamos substituindo, outras vão ficando porque marcam momentos. Momentos nossos.
Livros. Livros e mais livros, nunca me desfaço dos livros, alguns herdei-os, esses então, ficarão eternamente.


Coleções de moedas e de selos que tão cuidadosamente e praticamente sem respirar, observei meu pai e colocar com uma pinça nos álbuns. Foram noites e noites que passámos nisto...
Prémios e troféus de BTT, de futebol, de rally, de TT. Recordações e cadernetas das viagens a Santiago de Compostela. Recordações de outras viagens, de outros lugares, de outras gentes...


Álbuns de fotografias. Muitos. Daqueles de antes da era digital... Cheios de memórias e recordações.
Como posso eu ser minimalista em relação a isto? Como posso não ver estas coisas todos os dias, como poderia eu deixar ir estas coisas?