quinta-feira, 28 de março de 2019

Asas

Já fui muito. Já fui tudo. Já fui nada.
Já fui eu. Já quis ser outras que não eu. Já tentei ser outras. Não deu.
Sou de projetos, sou de objetivos, sou de sonhos.
Sou de asas e nessas asas eu voo.
Não me canso de voar.
Serei muito, serei tudo, serei eu.
Voltarei a ser eu mas nunca vou parar de voar.


quarta-feira, 27 de março de 2019

Tivesse eu

inventado colecionar notas de cinquenta ou de cem e estava rica a esta hora.
Agora gatos do mundo....

Isto é só uma pequena parte da coleção




domingo, 24 de março de 2019

O outro lado

Da vida.
Dos dias.
Dos meus dias neste momento.
Quão estranho é estar confinada a casa sem poder fazer o que me der na real gana.
Quão estranho é estar parada no tempo, ter a vida em stand by.
Hoje ralharam comigo quando me lamentei por não poder pedalar nestes dias maravilhosos de sol e por não poder fazer praticamente nada do que gostaria. Se esta é a realidade do momento, é esta que temos de viver. E aproveitar. Logo outras realidades virão, só temos de ir saboreando aquilo que vamos tendo. Certo? Certo!
Ontem levaram-me a ver a praia e o mar. Levaram-me a jantar. Hoje levaram-me ao Talhão 60/61 do Pinhal de Leiria onde aconteceu mais uma atividade de reflorestação da área ardida. Pude sentir o calor do sol e a brisa a fazer-me esvoaçar os cabelos, pude respirar fundo e encher-me de energia. Pude exercitar os braços a fazer andar as minhas quatro pernas. Há pois é, vou ficar massuda dos biceps. Estragam-me com mimos é o que é e felicidade é o que sinto.
Estou rodeada de pessoas que se preocupam em fazer-me feliz.
Só tenho de estar à altura do momento.

terça-feira, 19 de março de 2019

Glicinia

RE-Post 8 de maio 2015

Lembro-me sempre dele quando olho a glicinia em flor, as folhas tão verdes, as flores de um lilás tão vivo, o aroma tão intenso a primavera. Gosto de passar perto e inspirar aquele aroma, imagino-me no paraíso. 
Parece até que ainda o vejo, todos os sábados, pendurado no escadote a atar e cuidar das braças que teimam em se espalhar por sítios que ele não quer. Tudo é cuidadosa e meticulosamente projetado e executado por forma a atingir a perfeição por ele idealizada, como de resto, saía perfeito tudo o que fazia.
Sábado após sábado eu ia ver qual era o projeto daquele dia e todos os anos por esta altura eu lhe dizia que cortasse uma braça da glicinia e ma plantasse num vaso. Eu queria uma glicinia daquelas no meu jardim, plantada por ele.. Todos os anos ele acabava por se esquecer. 
Foi já no hospital, poucos dias antes de partir na sua eterna viagem para o céu que meu pai me disse, assim do nada, que fosse lá a casa e que perto do poço estava um vaso com uma glicinia plantada e já em fase de crescimento para mim.
Ainda não a trouxe, mas quase todos os dias vou ver a dele.



segunda-feira, 18 de março de 2019

Baixou em mim

A Gaja Maria Kondo.
Sim, a tal das arrumações e organizações. Credo!! Sim, credo!!
É que apesar do meu estado perneta, enclausurada, em repouso e recuperação, nem por isso consigo expulsar a sem parança que há em mim...
Posto isto e além de ler e ver séries e tv, juro que até já gosto um pouquito do programa da Cristina mas estava a dar-me cabo dos tímpanos que a moça guincha p'ra caraças, introduzi uma nova táctica na mina rotina.
Ver vídeos de DIY, organização, arrumação, decoração. Tudo em ão portanto.
Em seguida passei à ação.
Sentadinha, de gaveta em gaveta, seleção, novo método de dobragem, novo método de organização arrumação. Duas horas ou três por dia para não me cansar muito.
Digam lá, não fica um mimo? Pena isto só durar uma semana, duas na loucura...

Só uma pequena amostra:








quinta-feira, 14 de março de 2019

E enquanto a vida acontece lá fora

Que eu bem a vejo da minha janela, aqui estou eu, em repouso e de perna no ar.
Perna no ar no sofá, perna no ar na cama, perna no ar nas consultas do hospital, perna no ar no pátio, a apanhar sol...


quinta-feira, 7 de março de 2019

Fogo cruzado

Nas cinco noites que passei no hospital, perneta, senti-me como se de uma trincheira se trata-se.
Se na primeira noite não passei do corredor, o que até veio a revelar-se de valor pois tinha todo um enorme espaço para respirar e muita ação para me distrair, a partir daí, passei para uma enfermaria com três camas, o que também, de início, me agradou bastante. Fiquei na cama do meio, entre duas velhinhas acamadas, frente à tv, tudo muito calminho, tudo muito arrumadinho.
As velhinhas eram umas queridas.
Depois dos banhos, pequeno-almoço e medicação, instalei-me e relaxei.
Foi quando começou a guerra.
Parece que caí de para quedas num autêntico fogo cruzado.
Uma velhinha ressonava de um lado, a outra respondia do outro. Uma engasgava-se, a outra quase cuspia a dentadura. E eu ali no meio.
Eis que começo a ouvir tiros espaçados de um lado. Do outro responde uma rajada de metralhadora.
E eu ali no meio.
Aquilo eram morteiros, tiros de espingarda, carabinas. Juro que até houve disparos de kalashnikovs, rifles e outra maquinaria pesada. Algumas, estou certa, deitavam molho no final.
E eu ali no meio. Pedi para ser aberta uma greta da janela para renovar o ar, uma delas constipou-se. Ficou rouca mas não perdeu o piu e o tiroteio e a ressonância continuaram por quatro dias.
E eu ali no meio, na trincheira a levantar bandeira branca sem ninguém me dar confiança.
Quando tive alta e respirei ar puro, juro que até tive tonturas...
Vai uma p'ssoa para o hospital para se curar e sai de lá toda amarela e esburacada de tantos tiros.

terça-feira, 5 de março de 2019

Vida de perneta



Estou perneta já lá vão dez dias.
Fui finalmente operada na quinta feira e na sexta já vim para casa.
Mas, para quem não sabe, eu sofro de bichos carpinteiros e sábado já me sentia tão bem que fui ao jantar de carnaval do meu grupo do costume. No domingo, com a ajuda das minhas duas pernas auxiliares passeei pelo quintal, pedi para me levarem a ver o mar e fui lanchar a casa de uns amigos.
Pois. Sou doida, eu sei.
Na segunda, quando fui fazer o penso o meu pé assemelhava-se a um peixe balão sem boca e fui avisada para estar sogadita e com o pé no ar, gelo e mais gelo ou estragava tudo.
Convenci-me então que tenho todo o tempo do mundo e que pese embora tudo e mais alguma coisa, o tempo é o que fazemos dele, o que me dá forte nos nervos mas tem de ser.
É que eu tinha a mania que não tinha tempo. E quem acha que não tem tempo, vive a mil e eu vivo e gosto de viver a mil.
Eu sei, sou teimosa que nem uma mula, ainda por cima, uma mula sem parança.
Mas se eu quero porque quero ficar boa o mais breve possível para poder voltar a viver a mil e pedalar, pedalar, pedalar, que eu preciso voltar a pedalar, tenho de me resignar à minha simples vidinha de perneta em recuperação.
Aceito o pequeno almoço na cama, tomo banho sentada, venha tudo quanto é mimo que eu quero (vou ficar uma Mureia, metade mulher, metade baleia).
Resumidamente tenho de passar os dias de papo para o ar no sofá.
Já marchou o livro que estava a meio há semanas, o resto da série da Casa de Papel e toda a do Narcos. A fila de espera é imensa. Ai mas ai que tenho tanto que fazer. Tantos livros, tantas séries, tantos blogues para ler, tantos mails do trabalho para ver e até quem sabe trabalhar à distância.






sexta-feira, 1 de março de 2019

E assim se gasta meia vida

Fui de bicicleta à bênção dos ciclistas a Fátima. 
Em chegada lá, não coloquei a puta da  vela a arder porque a fila tinha mais de um quilómetro, não assisti à missa pois havia dezenas de ciclistas e não se ouvia nada. 
Fui almoçar uma sandocha de leitão, portanto.
Antes tivesse esperado e antes tivesse ficado. Ou nem sequer devesse ter ido. Sei lá eu. 
O que eu sei é que na volta vinha a descer um estradão a cento e duzentos à hora e aparece-me uma curva fechada que não consegui fazer. O instinto deu-me para travar. Mal feito! A roda da frente esbarrou e eu esbardalhei-me feio. 
Esfarrapei todo o lado direito nas pedras e fiquei aflita de um pé. Respirei fundo, bebi água, descansei, endireitei-me, ajeitei o orgulho ferido e mais o pé e aí vou eu. Doía-me horrores mas dava para pedalar. Pedalei mais vinte quilómetros até não poder mais pelo que foram levar-me a casa. 
De casa ao hospital, tornozelo partido, tíbia rachada perna acima. Rica coisa fui arranjar.
Cinco dias de internamento, cirurgia e três parafusos no pé depois, aqui estou eu... já em casa, perneta, de férias forçadas e cheia de mimo. Trabalhar e pedalar só daqui a uns meses...