quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Pintei


Hoje pintei o meu dia de cores e de cheiros.
A manhã pintei-a de cinza e lá fui mudando os tons, ora mais clara, ora mais escura, cheguei a temer ter de pintar a chuva, mas acabou por não acontecer. Não tenho tintas para pintar a chuva no verão e dos cinzas quase esgotei a paleta. Os cinzas cheiram a melancolia e a tristeza e isso não é fácil de pintar.
A tarde pintei-a de várias e diferentes cores, esbatidas e através da minha janela como se de um quadro se tratasse. Mas também pintei o cheiro do vento e do sol que espreitavam pela greta aberta, pintei o verde a dançar, pintei flores, pintei telhados. Sempre que olhava o quadro, a minha tarde ganhava mais vida.
Ao fim do dia então, pintei livremente e com cores fortes. Pintei a brisa, pintei as minhas pernas e o meu coração a bater, pintei o cheiro da liberdade. Pintei o céu e pintei o mar, pintei de verde e de amarelo, pintei a espuma sobre a areia e pintei chapéus às cores.
Por fim pintei o cair da noite e a calmaria. Pintei o cheiro das estrelas….
Hoje foi dia de pintar.







terça-feira, 27 de agosto de 2019

Como degelar uma arca frigorífica em três tempos


Quando a arca já sobreviveu muitos anos, coisa em desuso nos tempos de hoje e ainda é do tempo que de um dia para o outro cria tanto gelo que as gavetas não abrem e a porta não fecha, que remédio tenho senão calçar umas luvas e pegar num facalhão de bico para raspar.
Isto é um trabalho que adio constantemente de chato que é e de ficar com as pontas dos dedos tão tesas que nem consigo coçar os olhos.
Mas a técnica tem vindo a refinar-se então, é retirar tudo do interior, com o skate dos putos levar a arca para o pátio e com a faca a raspar e a mangueira de regar as plantas e em alta pressão, é trabalho de meia hora.
Limpar e secar, voltar a colocar no lugar em cima do skate, ligar, et voilà! Arca limpinha e operacional.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Cheia de t’ouvir


Penso cá com os meus botões, o que tem vindo a suceder a algumas pessoas de tão bom coração que dizem ter dedicado a vida aos outros em detrimento das delas.
Cansaço, revolta, incompreensão?
Que raio de traumas lhes terá a vida trazido?
Frontalidade é uma virtude, já inconveniência e falta de tato nas palavras traz aborrecimento.
Ser pessoa culta, observadora, boa analista de personalidades e situações, são virtudes que admiro, já achar que se sabe e domina tudo e não saber quando parar de falar para ouvir um pouco, é maçador. Um monólogo não uma conversa.
Sentido de humor, qualquer, nem que seja negro, irónico ou simplesmente inocente, adoro. Já quando alguém leva as brincadeiras como ataque pessoal, é, no mínimo, descolhoante (pardon my french!)
Concluo, portanto, que nem sempre a idade torna as pessoas sábias, compreensivas e conhecedoras do que as faz felizes. Muitas tornam-se azedas e os fretes que não querem fazer toldam-lhes os sentidos, transformando-as.
Felizmente que podemos ver nos outros no que poderemos tornar-nos e o que queremos e não queremos para nós.
E em comparando grupos de pessoas, podemos sempre fazer-nos seguidores dos melhores.
Assim espero, pois também não sou um poço de virtudes….

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ana



Ana sempre teve umas mãos de fada. Tudo em que tocava se transformava em algo bonito. 
Os cadernos mais limpos e organizados eram os dela, encapados e decorados com perícia, as bonecas, eram as que tinham os vestidos mais bonitos, todos feitos por ela, os desenhos, os mais bem pintados, sem um único borrão. Um esmero aquela miúda.
Já na altura, nas férias de verão, na menina Arlete, para onde todos os miúdos ali da zona iam algumas semanas, a Ana, todos os dias tinha ideias novas para brincar, sempre com coisas feitas com as mãos que as outras miúdas copiavam logo em seguida. Até rendas e malhas ela sabia fazer, tão novinha, mas tão portentosa. 
Ana era dona de um sorriso lindíssimo, fazia umas covinhas de lado, nas bochechas e embora pequenita e rechonchudinha, nunca passava despercebida. Minha mãe estava sempre a falar-me dela como exemplo, mas eu, nunca passei de uma pequena magricela e nunca quis nada com rendas e malhas. Uma desilusão para ela, enfim.
Anos mais tarde acabei por lhe perder o rasto, mas sempre que passava em frente à sua casa, antes dela se mudar para longe e ao ver as cortininhas de renda, as andorinhas de louça na parede, os vasos pintados com plantas viçosas às cores, tudo muito bonito e cuidado com esmero, imaginava a Ana a fazer bonecas de trapo e malha.
Descobri-a há pouco no Instagram e tenho de vos mostrar….







quarta-feira, 21 de agosto de 2019

E mais...


Na verdade, apesar de haver vários pontos de partida e imensas rotas, no nosso país até parece que o Caminho apenas começa no Porto, na Sé.
É a partir daí que se começam a ver as setas amarelas nos postes, nos passeios, no chão, nos muros e os símbolos da concha a indicar o caminho. Além disso é a partir daí que se começam a ver outros peregrinos. A maioria a pé, carregados de mochilas e apetrechos de caminheiro. Existem também fontes com água, igrejas e cemitérios às carradas. 
Não sei explicar esta magia, este sentimento, mas o Caminho é introspetivo e é no Caminho que conseguimos organizar a cabeça e ver tudo mais claro, pensar em resoluções, tomar decisões…
Embora não conheçamos as pessoas por quem passamos, existe no ar o companheirismo, a solidariedade e todos se cumprimentam e soltam palavras de incentivo. Pois o Caminho não é fácil. Passamos por muitas pessoas a arrastar-se, cheias de bolhas nos pés, dores nos joelhos, a coxear e até de muletas. Um enorme sacrifício que por fé, por desafio ou por outra razão qualquer, tantos se dispõem a fazer..
Já em Espanha, encontramos imensos grupos de portugueses e era sempre uma festa. Em chegados à Praça do Obradoiro, as línguas que se ouvem, são dos quatro cantos do mundo. Aquela praça e aquelas ruas à volta estão frenéticas de vida. Ao fundo ouvem-se gaitas de foles, à esquerda um grupo abraça-se, a direita um casal beija-se, uns deitam-se a descansar, outros meditam, outros apenas observam à sua volta.
É a praça onde todos os caminhos vão dar…



Sé do Porto



Leça da Palmeira

Algures num milheiral

Esta não necessita legenda

Adicionar legenda




Viana do Castelo

Viana do Castelo






Baiona

Baiona

Vigo










Uma espécie de almoço de peregrino :)


No café do PEPE onde levámos uns abraços que nunca mais esqueceremos...

Praça do Obradoiro em Santiago de Compostela

À chegada

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Façam o favor de entrar

Em primeiro lugar, deixa-me cá varrer a entrada, abrir as cortinas e limpar o pó dos cantos deste blog que já são horas de vos dizer que ainda cá ando. Podem entrar e ficar à vontade.
Depois dos preparativos, depois de uma semana a pedalar, depois do regresso à dura realidade, que remédio tenho eu senão aceitar que a vida é mesmo assim. Tem momentos…
Foram portanto 500 kms a pedalar, durante cinco dias e meio. Parti de casa em direção a Santiago de Compostela, sempre pela costa e lá cheguei sã e salva, de sorriso nos lábios, alma lavada e coração a palpitar. Mais uma vez.
A quarta vez.
Muito feliz por superar mais um desafio, mas principalmente grata a mim e aos que me proporcionaram esta aventura, depois de no final de fevereiro ter partido um tornozelo, sofrido duas cirurgias, ter estado quase quatro meses a vegetar no sofá e a achar que nunca mais iria fazer algo semelhante.  Fiz. E quero mais.
Bom, e para não me alongar muito, tenho a dizer-vos que a nossa costa é simplesmente maravilhosa e com o mar por companhia e a puta da nortada que nos empurrava para trás, conheci novos lugares, dignos de ser apelidados de paraíso. Trouxe a memória cheia de recordações e bons momentos. Sinto-me cada vez mais rica. E gorda, que não parei de beber e comer o tempo todo. Aqueles gajos são umas termites.
Eramos cinco a pedalar, quatro rapazes e eu, sempre a rir e a brincar e além do rabo e das pernas amassadas, não houve avarias, não houve furos e a magia do Caminho lá esteve, sempre a acompanhar-nos.
O Caminho é mágico, não me canso de dizer.
Tirei dezenas de fotos e gostaria de vos mostrar todas, mas como devem compreender, a maioria tem pessoas e eu não tenho o direito de as expor. Aqui vão algumas.

Amanhã continua…



Partida!

No pinhal do Rei...

E como ainda está o Pinhal do Rei...

Depois da Figueira da Foz

 A pedreira

Ainda a pedreira

Almocinho em Mira

A caminho de Aveiro



Costa Nova


A travessia de barco


Continua....