terça-feira, 29 de dezembro de 2020

172 - Ano novo, ventos novos

Soprou-me um passarito ao ouvido que novos ventos se aproximam. 

E eu aguardo-os com ansiedade. 

Provavelmente os ventos que têm soprado não cessam no dia trinta e um para dar lugar aos novos no dia seguinte, mas tenho fé que aos poucos isso aconteça. 

Talvez por ter esse tão grande desejo, deu-me na real gana e peguei na bicicleta. Saí para correr mundo. Pedalei, pedalei, pedalei. Faltam-me hoje oitenta e sete quilómetros para superar mais um desafio. Pedalar quinhentos quilómetros de vinte e quatro a trinta e um de dezembro. 

A chuva aproveitei-a para lavar a alma, o vento para limpar o pensamento, o frio para enrijar o corpo e dar cor à pele. O cansaço, usei-o para purgar as más energias e renovar as defesas. 

O ar dos campos e das serras,  a alegria de ser livre, o banho quente no fim. apesar da lama, do frio e da chuva. O sacrifício versus o prazer, o incentivo do maridão que sempre me acompanha, tiram sempre o melhor de mim lembrando-me a resiliência, a luta, a vontade de fazer mais e ser melhor.

Pronta para receber o novo ano de braços abertos. Que vinte vinte e um seja um bom ano.

Feliz Ano Novo para vocês!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

171 - 24 - 12 - 2020

A todos um Santo e Feliz Natal. E que venham outros, felizes e com saúde é o que vos desejo. Obrigada por fazerem parte da minha vida. 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

170 - Dentro

São raros, mas alguns há que olham para dentro procurando em si os defeitos que encontram nos outros. Sendo certo que mais facilmente nos achamos seres perfeitos ao passo que os outros revelam as suas mediocridades, é natural que nos desiludamos muitas vezes com a humanidade. E desiludimos. Eu desiludo. Mas depois tenho a pessima mania, ou não é assim tão péssima mas sim proveitosa , de me perguntar se fiz alguma coisa para contribuir para essa desilusão. Na maioria das vezes fico na dúvida pois não estando dentro da razão dos outros, apenas posso concluir probabilidades, nunca certezas. E nesta dúvida a coisa vai andando e acaba por passar. Dias depois a mágoa desaparece e só volta na próxima desilusão repetindo-se o ciclo. E volta a passar e a passar, sempre passa, pois é ainda grande a fé e a esperança depositada nos outros. De uma coisa não tenho duvidas no entanto. Nunca devemos depender dos outros para sermos felizes.
 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

170 - À pressa

Os meus dias têm rondado a loucura. Para final de ano, altura de introspecção e calmaria na preparação da consoada, há demasiadas coisas a acontecer. Quando finalmente, já tarde na noite, chego ao sofá, ligo as luzes da árvore de Natal que gosto de as ver piscar, ajeito a lenha na lareira e faço festinhas ao gato Zé que dorme em cima da minha manta há horas. O resto da casa já ressona também e eu quero aproveitar para descansar o corpo e organizar os pensamentos, no entanto, os meus olhos começam a piscar e a bailar como as luzinhas da árvore. Dois minutos são o tempo que demoro a desligar todos os botões. Se o meu sofá não estivesse todos os dias tão superlotado, era eu quem lá dormia uma noite destas. 

domingo, 13 de dezembro de 2020

Dia 169 - Romaria

 Foi o que pareceu hoje a visita à cascata da Fórnea que só tem água em dias de chuva. Bem no coração da Serra d'Aire e Candeeiros e onde já fui inúmeras vezes de bicicleta ou a pé, as duas únicas formas de se lá chegar. Quase sempre seca, quando chove como tem acontecido nos ultimos dias, as águas correm serra abaixo e enchem a cascata e o riacho de águas limpidas e apressadas. É lindo de se ver e quem sabe disso, vai a pé, a correr ou de bicicleta apreciar tal beleza. Eu... Desta vez fui a pé e fiquei encharcada,  enlameada, gelada, mas voltava lá amanhã e no dia seguinte e no outro se pudesse. Aquela serra respira paz, tranquilidade e beleza.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Dia 168 - cheia de nada

Por estes dias nada me ocorre a não ser um certo sentimento de perda tão estranho e sem explicação. Não perdi nada nem ninguém que me fizesse assim tanta falta, mas sinto ter perdido tanto. Acima de tudo perdi aquilo que julgava ter e no final de contas não tenho nem nunca tive. Estranha forma de ser e de amar e de pouco me dar, esta, a minha que ainda me traz ilusões... 

domingo, 29 de novembro de 2020

Dia 167 - Quadrado

Quadrado  é como está por esta altura o meu traseiro de tanta bicicleta e tanto sofá.

Quadrados e em bico é como estão os meus olhos de tanto filme e tanta leitura.

Quadrado é como se encontra o meu ventre neste momento após tanta panqueca e tanto chá. 

Quadrado mas quase vazio está o cesto onde guardo a lenha para a lareira.

Digam-me, quantos mais dias temos de nos esconder das bichezas, ein?


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Dia 166 - Telecoiso

A pandemia é como uma série, quando achamos que já terminou, começa uma nova temporada.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Dia 165 - o vento há - de virar

Aproveitando a dica do Doutor de que um copo de vinho não faz mal a ninguém e até ajuda a afastar o bicho pois este não gosta de álcool, Maria abre uma garrafa de tinto. Do bicho não sabe, mas todos os dias um pouco antes do jantar, retira a rolha, deixa-o respirar, verte um pouco num copo de pé alto, que o vinho quer-se bebido com elegância e saboreia. 
Mais do que o nectar de Baco, saboreia o momento que só peca por ser vivido a sós pois ninguém naquela casa o aprecia e o sorve como ela, olhos postos no infinito, pensamento bem longe, alma arredia e esvoaçante . 
Maria, cada vez mais, sente que este mundo não é o dela, no entanto, embrenha-se todos os dias nele. Esquece a noite e vive o dia, calmente e ao sabor do vento. O vento há - de virar. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Dia 164 - sim, eu sei

Esta aqui que vos escreve gosta de ver o lado poético das situações e descreve as suas corridas pelos parques da cidade, os patos tão lindos a recolherem-se para a noite e as janelas iluminadas com pessoas dentro e as sombras da neblina nas árvores e mimimi.
O que a desgraçada não vos descreveu ainda foi que por causa dos patos e do nevoeiro e da iluminação e da roupa molhada e dos tenis escorregadios da humidade, foi que traz as mãos todas escalabardadas da queda aparatosa na pista depois de tropecar numa pequena saliência que nem viu por estar com a cabeça a pensar em merdas. Sim, foi como se estivesse a deslizar numa onda em cima de uma prancha mas sem onda e sem prancha.
Aquilo é que foi deslizar no asfalto de mãos esticadas e joelhos e barriga e mamalhal. E a julgar pelas mãos, não sei como não fiquei com a roupa toda rasgada. 
Isto é uma cena do caraças, uma gaja tem a mania que é nova e além de se pôr a correr ainda quer melhorar tempos e ganhar às pitas que andam ali a treinar à volta do estádio e depois, o cérebro manda acelerar mas as pernas e os pés começam a arrastar-se. Claro que qualquer petite saliência no piso é a morte da artista.
E é isto malta e depois, como sou uma gaja cheia de manias e teimosa que nem uma mula, ontem fui correr de novo e quis correr mais e mais rapido e sem me esbardalhar. Nem que a vaca tussa caramba, se os joelhos não me atraiçoarem, um dia ainda  vou até a Capital e atravesso a Ponte 25 de Abril a correr. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Dia 163 - Circunscrita

Caída a noite na cidade, corro pelas ruas empedradas do parque em direção ao patos que dormem com o bico virado para trás e enfiado numa das asas. Não sei porque alguns dormem de pé e outros parecem ainda estacionados dentro de água. O nevoeiro cobre o céu e tudo à minha volta dando um ar fantasmagórico às árvores e uma luz estranha aos candeeiros que iluminam o meu caminho. Nem uma brisa sopra, tudo tão sereno e tranquilo parecendo eu pairar, suspensa no ar daquele momento. Acabei por desviar o meu trajeto para não perturbar a calmaria que me rodeava. Mais à frente vi um gato agachado atrás de um arbusto e ainda uma ratazana à beira do lago a beber água. Só eu estava ali, fora do contexto, respiração ofegante, roupa e cabelo molhados do nevoeiro, o som das minhas passadas a despertar os animais.

Continuei a correr pela pista, atravessei algumas ruas, várias passadeiras, três escolas já vazias em direção ao outro parque. Não o que fica mais distante de casa e onde todos caminham e correm, não. O outro, que também tem patos e pequenos pontos de luz que dão ao lago uma luz difusa e espelhada. Gosto de os verificar assim, já recatados e prontos para a noite, dá-me uma sensação de paz e de esperança para um novo dia.

Aprecio sobremaneira estas minhas corridas solitárias, em que supostamente saio para correr na caixa do nada mas em que o botão do meu cérebro teima em não desligar e vê e pensa e planeia e decide. E enquanto atravesso ruas e praças e parques e vejo janelas com pessoas dentro e carros, só penso que sou o Forrest Gump, a atravessar o mundo e corro e corro e corro... 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Dia 162 - aventuras na N2

Foi no sexto e ultimo dia da travessia da N2 que protagonizamos o pior e o melhor desta viagem de bicicleta.
Partimos de Ferreira do Alentejo, em pleno coração do mesmo e tinhamos os derradeiros 143 kms para fazer e terminar assim o nosso desafio. Toda a Serra do Caldeirão para atravessar, um calor abrasador, o rabo a pedir clemência e as pernas moídas, mas o objetivo estava prestes a ser superado, estava tudo bem. 
No trajeto haveriam apenas pequenas povoações de muitos em muitos kms para abastecer de agua e alimento, tinhamos portanto de chegar ao Ameixial à hora do almoço e rezar para que o único restaurante existente estivesse aberto. Estava. À pinha a bem dizer, mas lá descobrimos uma mesinha vazia ao fundo. Todos estavam a comer bacalhau com batatas, ovo e grão pelo que se nos arregalaram os olhos, era mesmo aquilo que nos apetecia. As duas senhoras muito idosas que geriam o estaminé, arrastavam-se à volta das mesas e muito tempo depois lá nos atenderam. Já não tinham bacalhau, apenas entrecosto. Oh desilusão, mas estando a próxima hipótese de satisfazer o estômago muitos kms à frente e a subir, sim senhora, dissemos nós, venha!
Bom, aquelas duas idóneas, bondosas e inocentes senhoras, despacharam finalmente o entrecosto rançoso com quase dois meses que tinham por ali a 3 ciclistas esfaimados, de alforges às costas e no seu sexto dia de pedalada.... Nós! Todas as pessoas que vieram a seguir a nós, degustavam deliciadas um belo de um bacalhau, só para nós não havia. Bom, o entrecosto era tão mau, que sei que comemos dois pausinhos de carne cada um, o suficiente apenas para termos energia até à próxima paragem. Pagamos e pedalamos dali para fora. Quando me lembro, ainda tenho vontade de vomitar. Uma velhacaria foi o que aquelas velhotas com cara de anjo nos fizerem. Que sejam felizes com isso, é o que lhes desejo. Enfim!
Uns kms de subida mais à frente paramos finalmente num café onde nos refastelamos na esplanada, ao fresco e de volta de umas sandochas.Mnhami que souberam a lagosta. Abastecemos de água fresca e arrancamos de novo. Uns 3 kms depois, estavam ainda uns trinta e tal graus de calor, continuando a subida do Caldeirão, cruzamo-nos com um carro a deitar fumo que nos pediu ajuda. Precisava de água! E assim despejamos todos os nossos bidões de água fresca acabada de comprar para os próximos kms, no radiador do carro do homem. Ele, tão agradecido, presenteou-nos com 2 latas de sumol, quentes, que era o que tinha consigo e que racionamos entre os 3 até S. Brás de Alportel onde bebemos uns 2 litros de agua cada um. Valeu por tanto mas tanto tudo isto e ainda nesse dia chegamos ao km 738 em Faro, nosso destino final e num estado puro de euforia, êxtase, alegria, felicidade e superação. 
A vida é mesmo assim.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dia 161 - Histórias

Prendem-me as histórias contadas na primeira pessoa, plenas de palavras apressadas, descompassadas, por vezes pausadas, para respirar, suspirar ou tocar no peito. São histórias contadas com as mãos e com os olhos, com voz trémula ou um sorriso nos lábios, ou gargalhando até. Nem todas têm finais felizes ou são engraçadas, muitas são tão tristes e sofridas. Ainda assim, são estas as histórias que me fascinam por sabe-las saídas do coração. 
Serão também histórias as que se contam dos outros e às quais se acrescentam ou retiram pormenores que aos olhos de quem as conta não terão relevância suficiente ou desacreditam a sua própria visão sobre as ditas e por isso, detalhes que não valem a pena. Estórias, é como gosto de lhes chamar, não tendo a certeza do que será real ou ficção. E quantas tenho ouvido, mirabolantes, chocantes, cómicas ou ridículas. 
A vida neste momento parece uma estória. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Dia 160 - Resolvida mas pouco

 Na dúvida, recorri ao Dr. Google. 

Da pesquisa efetuada, o "ser bem resolvido" é aquele ou aquela que busca autoconhecimento, enfrenta as dificuldades com bom animo e disposição, não se abala diante de julgamentos alheios e segue dando de si o melhor. Assim sendo, sou até capaz de ser um exemplar e sei de muitos que o serão igualmente. Já a porca começa a torcer o rabo na conclusão que li depois, que diz haver aí umas 6 caraterísticas que marcam o resolvimento e a pessoa resolvida e que são gratidão, perdão, responsabilidade, positividade e altruísmo e também uma quantidade de auto-coisas como auto-perceção, auto-controlo, auto-motivação, empatia, práticas sociais,  etc, chavões com os quais não me dou assim tão bem.

E na duvida voltei a ficar.

E depois... depois de muito pesquisar, tornei-me ciente de que não sou com certeza uma dessas pessoas bem resolvidas, andando em constante guerra comigo e com os outros, numa luta inglória contra o que sou versus o que deveria ser. 

E com isto me vou. Vou ali resolver-me e já venho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Dia 158 - Maria Albertina

Maria Albertina diz olá às pessoas. 
Em tempos conheci a Josefa numas águas furtadas de estudante e numa paragem mais quente e mais a sul, mas Maria Albertina estava ontem estacionada no tecto da garagem de Mamãe, centro do país em pleno outono.  Não deveria Maria Albertina ter já hibernado?
Mamãe assustada que a bicha lhe entrasse em casa queria devolvê-la ao jardim, mas eu achei por bem deixá-la ficar até que lhe desse o sono hibernante, até porque apesar de a achar bastante fofinha e engraçada não me estava a ver pegar nela por uma pata, fazer-lhe festinhas e conversar enquanto a encaminhava para a erva. Sei lá, tem assim um ar pegajoso e, sendo invertebrada, ainda se enrolava a mim qual contorcionista num buraco de fechadura.
Não sei se Maria Albertina resolveu por ela ir dar uma volta ou se Mamãe não me ligou nenhuma e tratou do assunto, mas hoje já lá não estava 😕

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Dia 157 - Ok, eu confesso

Fui eu que estrampalhei o vintevinte!
Devo ter sido mesmo eu, quando se deu a passagem para este novo ano, que por sinal se veio a verificar ser horribilis, pois ao fazer uma retrospetica, verifiquei ter quebrado todas as tradições e superstições de fim de ano. Não só não tirei uma única foto aos paraquedistas com luzes que o meu telemovel fez birra, como não usei cuecas azuis, como devia ter  contado as doze passas, mas não, apenas tirei uma mão cheia delas do saco e deixei cair metade na areia e, como tinha tanto frio e por consequência o cerebro congelado, não desejei com muita, muita, mesmo muita força que fosse um bom ano. Aliás, para além de pedir saúde, felicidade e dinheiro não me lembro de grande coisa. Lembro-me sim de ter demorado uma eternidade a sair do areal, apertada, empurrada, praticamente esborrachada, ter subido a ladeira ao invés da escada rolante e ter ouvido no noticiário depois, que esta colapsou. Mau prenúncio logo ali, mas eu e os meus safamo-nos por termos subido a ladeira palmilhando-a ao invés de ir à boleia da escada. Talvez, tenho duvidas, mas talvez, escapemos também ao bicho que ronda aqui bem perto. Prometo no entanto aqui, que em escapando, este ano vou cumprir tudinho à risca não estramapalhamdo assim o vintevinteeum. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Dia 156 - Haja alegria em tempo de pandemia

Depois de 3 dias consecutivos escondendo almoços e outras cenas várias, vi hoje a vingança ganhar vida. Em chegando ao trabalho, um pouquito mais alegre do que ontem, uma vez que o sol deu um ar de sua graça, tinha o portátil lacrado com fita cola, a pilha do rato ao contrário, situações que desvendei e resolvi num ápice perante as gargalhadas de todos eles, compinchas dos dias. Os fáceis e difíceis. A vingança é um prato que se serve frio dizem eles e o que o pior ainda está por vir. Ahahah. 
E de seguida um deles preseteou-me, feliz da vida com o fruto da sua horta com alguns dos tomatinhos.
Podem até haver colegas de trabalhos bons, mas nenhuns são melhores do que os meus. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Dia 155 - conversa de refeitório

De cá para lá e de lá para cá a duas mesas de distância.
Ah, eu sou fit, não como essas porcarias que vendem nas máquinas, faço exercício fisico e tenho muito cuidado com a alimentação. 
Isto enquanto barrava generosamente as bolachas marinheiras com postas enormes de marmelada, umas atrás das outras.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Dia 154 - O trigo do joio

Focados por demais nas agruras da vida e em toda esta nova e dura realidade com que nos debatemos, uns mais do que outros, claro, deixamo-nos ir na onda e nos devaneios e opiniões dos que de negro pintam tudo e mais alguma coisa.
Gratidão é o que sinto, por aqueles a quem, no meio disto tudo, o sentido de humor não falha. Isso e o foco naquilo que na realidade nos faz viver e andar para a frente, as coisas boas. 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Dia 153 - O mundo aos pés

Sei que sou bastante egocêntrica. A maioria dos meus posts é sobre mim ou sobre situações que se passam comigo ou à minha volta. Inevitável, até porque não gosto por aí além de falar dos outros e até acho que não tenho esse direito.
E por isso e porque gosto de partilhar coisas que me fazem feliz, deixo-vos aqui uma imagem minha.
Pedalei muito para ali chegar, após alguns kms, comecei a subir a serra por trilhos sinuosos e cheios de pedras, passei a pedreira, cheguei às eólicas, respirei fundo e continuei. Desaguei então num estradão muito íngreme que muitos fazem de carro, mas eu fui de bike e lá acabei por chegar. E valeu tanto a pena.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Dia 152 - redenção

Peço desculpa a quem bateu com o nariz na porta, já voltei a abrir a caixa de comentários.  
Exatamente pelo mesmo  motivo que fechei. Porque sim. 
Estas coisas não se justificam, mas já deviam conhecer-me, por vezes o parafuso desaperta e enquanto procuro a chave de fendas ele anda aqui a solta :) 
Gosto de vocês! 

domingo, 11 de outubro de 2020

Dia 151 - Repensar o Natal??

"Temos de repensar o Natal"!

Coméqueé? Ora, há anos que repenso o Natal. Primeiro acreditava no Pai Natal, depois repensei e comecei a procurar os presentes no guarda vestidos do quarto de visitas e depois a encontrá-los, depois voltei a repensar e deixou de haver surpresas. Entretanto repensei e passei a ser eu o Pai Natal, depois os meus filhos repensaram e começaram a procurar os presentes na despensa da casa de banho e depois a encontrá-los, depois voltaram a repensar e deixou de haver surpresas. Mais tarde repensámos que a vida estava difícil e combinou-se haver apenas presentes para as crianças, as crianças cresceram e era uma tristeza, repensámos e voltou a haver presentes e de preferência presentes surpresa.

Repensámos os locais, onde a família se reúne, que os mais velhos já não têm energia para repensar os Natais, repensámos as ementas, repensámos que ainda há pouco tempo eramos sempre mais de vinte à mesa e agora sem tempo para repensar somos apenas quatorze e não há meio de a família voltar a aumentar. E ao repensar bem, temos de nos mimar, que somos cada vez menos.

Entretanto repensámos a nossa vida, o nosso trabalho, as saídas, os convívios. Repensámos as compras, as poupanças, as idas ao médico, repensámos a forma de viver e até de respirar e ainda é suposto que repensemos o Natal e convivamos menos? Então e como fazemos, deixamos os nossos pais e os nossos filhos e  e ficamos todos sozinhos a roer as espinhas do bacalhau?

Eu cá não repenso mais nada, vou fazer um grande Natal cá em casa e receber todos os meus nem que os tenha de ir buscar um a um escondidos na mala do carro.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Dua 150 - Chef! mas pouco...

Envolvi delicadamenre as postas de bacalhau em farinha e fritei-as em azeite. Com rodelas de cebola, alho laminado finamente, pimento vermelho às tiras, azeite, um golpe de vinagre, sal e pimenta, elaborei uma generosa cebolada. Fritei rodelas grossas de batata e dispus tudo numa travessa. Decorei com coentos picados. Voilà! Um prato digno de estrela Michelin, ou de um Gordon Ramsay vá, mas de trazer por casa, principalmente para quem cozinha há uma eternidade. Seria, seria, se eu tivesse demolhado o bacalhau suficientemente e este não estivesse salgado, se as batatas fossem suficientes para a quantidade de bacalhau e se eu não tivesse poupado no azeite do produtor, caro com'ó raio, e não estivesse tudo seco. Além disso, gostaria de ter picado os coentros fina e rapidamente com golpes certeiros de faca afiada e não tivesse acertado num dedo e melhor ainda se não tivesse ficado com a cozinha como se de um ataque furacão se tratasse. 
"Ah. Tens de fazer as coisas com gosto e com amor". Qual amor qual quê, fazer com paixão tudo em que toco não chega? Isto é mesmo um caso de Ramsay de meia tigela. Já dizem os entendidos que lagartixa nunca chegará a jacaré.... E já agora, fiquei de mal com o Youtube. 


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Dia 149 - frágil

Tão ténue quanto a bruma que vislumbro da minha janela é esta vida. A que chamamos de nossa, a que vemos dos outros, a dele ou a dela. Tão ténue, frágil, delicada. Tanto a que sorri todos os dias, ou pelo menos aparenta, àqueles alguns a quem só vimos sol e alegria como a dos outros, a que vimos nas caras fechadas, nos corpos curvados, nas auras tristes e cinzentas. Como será que todos eles a vêem. Não a que mostram mas a que vivem. 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Dia 148 - Como as cerejas

 Como elas, as cerejas, são as conversas. 

Vem uma, depois outra e mais outra e vai-se a ver, lá se foi um saco delas. Num desses sacos descobri, alheia que sou em determinados assuntos, que há grupos de mulheres que se unem para tratar de tudo quanto é assunto que lhes diga respeito. Que assim seja! Ele há grupos de mães, grupos de avós, grupos de mulheres de cabelos brancos, de outras que têm caracóis, as dos cabelos lisos, as da menopausa, as que fazem tricot, as que gostam de decoração, as deprimidas, as ciclistas, as caminheiras, as que fazem dieta, as que têm rugas, as que gostam de escrever, as que Têm cães e quem sabe  até as de coisa nenhuma ou as de tudo e mais alguma coisa.

E se as cerejas vêm aos quilos, certa estou de que as conversas também e todos estes grupos têm dezenas, senão centenas de membros. E como não só de curiosidade e sede de saber vive uma mulher, necessário é que haja muuuito tempo e muuuuiita paciência para todos estes grupos. E eu sem ambos e me parece, terei de continuar alheia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Dia 147 - sou

No inverno sou do calor, no verão sou do fresco. Definitivamente sou da luz e sou do sol mas sem exageros. Parece então que sou do meio termo e na verdade o que não gosto mesmo é de extremos. Talvez por isso o destino me tenha feito nascer no centro onde tudo é mais ameno, embora a minha veia itinerante, irreverente e desassossegada me faça querer conhecer esses tais extremos. Tanto vou para sul como para norte e volto lá sempre que possivel. Sempre, sempre como se fosse a primeira vez, adorando cada vista, cada sensação, cada segundo que lá passo. Há uns dias, essa tal de veia levou-me uma vez mais para norte e desta vez de autocaravana, pela primeira vez. Senti-me um saltimbanco de terra em terra, com a trouxa às costas, em busca de cantos e recantos, todos tão mágicos, cada um mais fascinante que o outro. Da praia do Belinho aos cavalos selvagens do Gerês, das escarpas do Douro às cascatas da Estrela, foram dias deliciosos. Falta, fez-me a minha bicicleta que me levaria a explorar mais e melhor, mas ao invés de uma semana, necessitaria de um mês.
Hei-de voltar portanto. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Dia 146 - Quando alguém nasce

Há quem nasça para salvar vidas, outros nascem para inventar coisas, outros para serem pais, alguns nascem para trabalhar e outros para fazerem alguém feliz. Há quem nasça apenas para viver e outros até para morrer. Eu nasci para ser livre e voar.... 

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Dia 144 - impagável

 A pica que dá fazer clic no "enviar" do email comunicado de ausência para férias. Especialmente quando já praticamente todos regressaram. Muhahahaha

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Dia 142 - Quantas vezes

Olhei para o meu mundo e o achei pequeno. Tantas e tantas vezes eu pensei que o meu mundo era tão pequeno, pequeno por demais, sabendo eu que lá fora, fora dele, do meu mundo, havia uma imensidão à minha espera. Há! Há um mundo imenso que desconheço e onde tenho sede de me embrenhar. Só que este é composto por diversos pequenos mundos como o meu, aquele que eu acho pequeno demais e que não é, pois ao observar os outros reconheço que alguns serão tão pequenos como o meu, mas tão valiosos e, no final de contas tão enormes, que fazem parecer ínfimos todos os outros. O nosso mundo só é pequeno quando nós queremos. 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Dia 141 - Nada de novo

Ela pode até decidir, lá dentro dela, que a partir de agora será diferente. Pode até calar-se, ou pode começar a falar mais, pode dourar os cabelos com raios de luz, ou pode prendê-los num carrapito como quem prende as emoções. Pode comprar um vestido de flores bem curto, ou então bastante comprido, usar um chapéu que até é a cara dela, ou aqueles óculos de sol que escondem os sentimentos dos olhos. Pode escolher o caminho e evitar as pedras ou o musgo húmido e escorregadio, afastar os gravelhos que a fazem tropeçar, vestir o seu melhor sorriso, limpar a alma de passados e escancara-la aos futuros e ir seguindo, pelo caminho mais largo e mais seguro. Haverá talvez um desvio aqui, uma travagem ali, ultrapassagens, inversões de marcha uma recta de aceleração, mas, no final de contas, onde chega, nada é diferente.
E a do quarto esquerdo mantém-se quieta, o do primeiro direito soma e segue sempre na frente e os do rés do chão sempre iguais a si próprios. Sem surpresas. Até a do terceiro andar, que parecia ter-se mudado para o quinto, não passou da entrada. 
Há coisas que nunca mudam por mais que se tente. 
A essência é como o karma. 

terça-feira, 7 de julho de 2020

Dia 140 - Voltei de lá

Estou viva e de regresso.
Percorri de lés a lés a Estrada Nacional 2 de bicicleta. 738 kms, de alforges, de Chaves a Faro. Atravessei 13 rios, 10 serras, 35 cidades e vilas, muitas delas com temperaturas de 35 a 40 graus. Sobrevivi e trago no coração muita paz e tranquilidade, muita alegria e felicidade. Acreditei, desafiei-me é superei-me. Além das dezenas de fotos, trago gravadas na alma emoções, imagens, ensinamentos e algumas lições.
Agora podia estar aqui a escrever sobre isto durante horas, mas não me vou tornar-me chata. Apenas quero dizer-vos, acreditem em vós, desafiem-se, vivam.




quinta-feira, 25 de junho de 2020

Dia 137 - Crepúsculo


Prestes a transpor o portal, não para o desconhecido, mas para uma outra realidade, ou antes, para uma não realidade, uma outra dimensão em que existem outros deuses e outras estrelas que se alinham em forma de um outro sol e outra lua. Sete sois e sete luas onde tudo o que existe são momentos reais, mas ao mesmo tempo surreais. Assim queiram os deuses e os sois e as luas que este crepúsculo seja o mais feliz de sempre. E queiram acima de tudo, esses deuses e esses sóis e essas luas, que o regresso desse portal traga de volta a pessoa em pleno estado de felicidade e alegria, capaz de enfrentar com garra e determinação as agruras e as contrariedades.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Dia 136 - Rua de nada


Saí para passear e dei comigo na rua da tristeza.
Pergunto-me porque acabei ali, se me levaram até lá ou se eu própria me conduzi a ela. Nunca vou a essa rua porque quero, parece sempre que algo ou alguém me empurra e por vezes até parece que todos os fazem e que até eu própria acabo por fazer com que isso aconteça. Tivesse eu o dom da palavra ou o dom da escrita ou até o da compreensão e sabedoria e julgo não saberia onde ficava a dita rua onde vou amiúde. Sinto que não viajo para lá, quando dou por mim já lá estou e procuro em mim o caminho de volta. Apesar da culpa e da incompreensão acabo sempre por encontrá-lo e desta vez vai ser igual.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Dia 135 - Ósculos


Tenho saudades, quero ver. Vou. E quando vou e vejo, fico ali num impasse. Ficamos num impasse. O primeiro impulso é o cumprimento, o toque, o beijo com a mão no ombro ou nas costas, um afago no cabelo, uma carícia leve, para logo em seguida se recuar e se dar um passo atrás, transformando uma espécie de arco íris uma nuvem cinzenta. Talvez não tão cinzenta, mas ainda assim branca a tapar o sol no momento. Não que seja muito de ósculos, mas agora queria.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Dia 132 - será?


Naquela intermitência de sono leve em que não se consegue discernir se dormimos ou se estamos despertos, imaginei-me longe, muito longe, a correr por entre as urtigas atrás do cão cor de fogo. Sentia as pernas a ficarem arranhadas, mas só pensava em chegar ao fim do caminho, rente ao muro ladeado de flores. O cão alcançava-me e juntos rebolávamos pela erva enlaçados um no outro e depois voltávamos de novo ao início do caminho para repetirmos a correria e os abraços e as festas no pelo sedoso do meu companheiro de brincadeiras.
Quando chegasse a noite, minha irmã assobiaria, eu regressaria a casa, ela ajudar-me-ia a tomar banho para se assegurar que eu tirava toda a terra do cabelo e dos pés e das unhas, jantaríamos em família e eu adormeceria no sofá de tão cansada das correrias. O cão, esperaria por mim até ao dia seguinte no tapete da entrada.
Entretanto, comecei a coçar as pernas, picadas das urtigas e vi-me na minha cama, ainda cansada, mas tão feliz achando que era outra vez criança e que a minha alma era ainda livre e pura e despreocupada. Procurei o cão cor de fogo mas não encontrei, também já não havia muro ladeado de flores nem caminho para correr.
O despertador começou a tocar e eu comecei a pensar. O pequeno almoço por fazer, o jantar por pensar, a roupa por estender, o pó por limpar e um dia de trabalho à minha espera… O seguro por pagar, as compras por fazer, uma subscrição por cancelar, uma encomenda por fazer. Uma consulta por confirmar, uns telefonemas por fazer, o frigorífico por reparar....

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Dia 131 - Rios, lagos e coisas que vocês não sabem

Ai, mimimi, adoro rios e lagos e não me canso de pedalar perto deles, admirá-los, contorná-los, fotografá-los para a minha coleção de paisagens fantásticas, MAS! E porque há sempre um mas, em certas alturas do ano não se pode andar perto deles de boca aberta. E porquê perguntam vosselências. Porque ele há, rente aos rios e lagos, nuvens e nuvens de mosquitos e outras bicharadas esvoaçantes a pairar de um lado para o outro. Pois. Agora experimentem atravessar uma nuvem dessas de boca aberta. Pois. A mosquitada entra na boca e estatela-se contra o gorgomilo ficando esborrachada no dito cujo causando uma espécie de sensação de afogamento e com comichão onde não se consegue coçar. E desde já vos digo, são amargos pra caraças. Pois. Agora experimentem beber golos e golos de água que já não têm, para descolar asas e pernas de mosquito do gorgomilo. Pois!
Acho que ainda trago aqui uma perninha. Blhac.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Dia 130 - A espaços, as palavras

Este ano já escrevi neste blog cento e trinta vezes.
Se fizer uma ou duas contas e considerando que, a espaços, fico sem palavras, já escrevi muito mais do que no ano passado.
E agora, que me falham as palavras, tenho dado uso às pernas e aos olhos.


terça-feira, 2 de junho de 2020

Dia 127 - Reencontro

Desde vinte de março que não nos olhávamos ao vivo e a cores. Foi ontem.
Sem auscultadores, sem câmaras, sem filhos a chamar, sem gatos a passar em frente ao ecran e sem lar ao fundo. Não que isso fosse mau, mas era sem dúvida diferente e se dúvidas houvesse que as pessoas têm uma vida fora do trabalho, esta foi a prova. É bom que se saiba que somos profissionais, mas também somos pais, mães, filhos e gestores de uma panóplia de coisas fora do trabalho. Se somos ou não competentes, com certeza que o seremos, à nossa maneira e uns mais do que outros e em diversas áreas. Somos humanos e por isso não somos perfeitos. E viva a diferença.
Pese embora tudo isto, arrisco dizer que foi emocionante voltar a ver esta minha segunda família com quem quase passo mais tempo do que com a minha primeira e voltar a sentar-me naquele meu lugar tão familiar. Em tempo de introspeção arrisco também em perguntar-me se gostaria que certas coisas fossem diferentes para ser mais e ser melhor em tudo. Sim, gostaria. Se sempre tivermos certezas e nunca dúvidas, nunca teremos a oportunidade de uma melhoria. E eu  tenho sempre tantas dúvidas, sempre questiono, sempre mudaria algumas coisas. Se me deixassem. A ver...

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Dia 126 - Sempre que...

Alguém diz "era tão feliz e não sabia" falece uma cegonha transportando no bico dois gémeos que ia entregar a um casal infértil.. 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dia 125 - Chiqueda

"Conta a lenda de que o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, foi ao cimo da Serra dos Candeeiros e lançou sua espada para decidir onde mandaria construir o mosteiro agora situado em Alcobaça. Nesta localidade caiu a espada do Rei passando a ser chamada de Quiqueda (Aqui+Queda) sendo assim o nome veio da queda da espada e depois foi evoluindo de Quiqueda para Chiqueda."

Num dia de calor intenso mas livre para pedalar, só nos restava pegar nas bikes e pedalar até algum lugar fresco, cheio de trilhos fantásticos, repleto de sombras e numa das pontas um lago de águas límpidas e cristalinas para nos podermos refrescar. E foi mesmo nessas águas que eu entrei vestida e calçada. Não imaginam o bem que soube e eu não me canso de dizer o quanto me sinto rica. Rica de paisagens e lugares, rica de emoções e alegrias que praticamente só são possíveis em cima de uma bicicleta. 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Dia 124 - Estranheza

Perdi a conta aos milhares de folhas que já varri do pátio nos últimos tempos. A mim parece-me que a Cheflera gigante está a morrer, mas por outro lado, talvez todos os anos lhe tivessem caído os mesmos milhares de folhas sem eu ter dado por ela e sem as ter varrido tão insistentemente. Acho que o fazia apenas uma vez por semana, ao sábado e se tivesse tempo. Na verdade, varrer folhas, desde o início desta pandemia e do confinamento tornou-se uma terapia para mim, um momento verde e muito zen. Todas as manhãs varro a apanho folhas e todos os fins de dia estou ansiosa para fazer o mesmo. Com estas noites quentes ainda aproveito para regar e espalhar o odor a terra molhada e a flores. Corto aqui, aparo ali, acrescento terra, admiro as borboletas e tiro teias de aranha e ervas daninhas. Estranheza, é o que sinto destes novos hábitos e obsessões. Daqui a nada nem me reconheço.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Dia 123 - Monstros alados

Cheguei ao areal logo de manhãzinha estava este imenso e ainda vazio tal como eu gosto.
A baixa mar fizera recuar a água  até bem ao fundo e vinha apenas beijar a areia em pequenos arremessos de espuma o que deixou as passagens entre praias com acesso para caminhar.
Estendi a toalha, abri o guarda sol, besuntei-me de protetor e lá vou eu a chapinhar. Nem sei, andei quilómetros para sul, passei por várias praias, muitos pescadores, uma imensidão de azul e prata, um som de embalar que me faz esquecer do mundo e mergulhar numa felicidade imensa.
Só pensava como era uma sortuda por viver perto daquele mar e daquela imensa beleza.
Comecei entretanto a pensar que a maré podia estar a encher e tapar-me a passagem entre praias e iniciei o regresso entrando no mar a espaços, para refrescar.
Estendi-me na toalha para secar e embrenho-me na leitura. Eis senão quando, começo a sentir comichões.
Quando decido levantar os olhos das letras verifico que estava rodeada de formigas enormes com asas. Não sei bem se eram formigas, mas que eram enormes, eram, praticamente crocodilos, mas alados. Não mais tive descanso, não paravam de chegar mais e mais e mais, brotavam do interior das areias.
Estavam na toalha, nas pernas, no pescoço, no cabelo.. PQP, que bicharada aquela, mas era só eu que estava a ser atacada naquela praia? Olhei em volta e estava tudo descansadinho a apanhar sol. Mau!! Sacudi-me como podia, arrumei a trouxa e rumei para casa.
Passei o resto do dia na espreguiçadeira do pátio a tomar banhos de mangueira ao som não do mar mas da passarada a sobrevoar os céus. Não foi mau, até pelo contrários.
Há pouco vou a pochete que levo sempre para a praia e onde guardo os pertences saem-me de lá dois formigões alados vivinhos da silva. Ninguém merece passar as horas de layoff a ser assim atacada.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Dia 122 - O melhor do pior

Pese embora o grande atrofio que as máscaras me causam, pois além de não me deixarem respirar, raciocinar ou refrescar, permitem-me fazer coisas até agora impensáveis como permitir-me rir de certas situações. O problema é quando me olham nos olhos que eu também rio com os olhos...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Dia 121 - A ponta de um corno

É no que estou focada esta semana, não fazer ponta de um corno. É o que se faz nas férias não é?
Bom, além de uma tarde no cabeleireiro a tentar fazer algo destes três pelos, uma manhã a fazer recados a Mamãe e uma tarde de papo para o ar na praia, depois do mergulho, claro, que o mar e o calor, desta vez estão do meu lado, não quero saber de tele trabalhos, tele conferências, tele picagens ou tele fonemas, nem sequer almoços e jantares, pós e aspiradores, roupa para lavar ou engomar. Desemerdem-se que esta Gaja precisa de uma pausa. Ah, meti-me num desafio de exercício físico de 30 dias e vou no dia 11, agora começa a doer, pois a quantidade de repetições dos exercícios aumenta todos os dias, mas esta Gaja que aqui vos escreve parvoíces, e ponham parvoíces nisto, quando se mete num desafio é para cumprir. Além disso, não fazer ponta de um corno custa, ok?

domingo, 17 de maio de 2020

Dia 120 - Fuga

Com um fim de semana assim solarengo, só podia pegar na bicicleta e sair para apanhar uma grande dose de vitamina. E um bronze à pedreiro, vá.
Eu e marido arrancámos até à estrada atlântica e sempre rente ao mar rumámos a sul. Fomos visitar a Cerca de Veados do Sítio da Nazaré onde existem cerca de trinta veados, lindos, que vêm comer à nossa mão e até deixam fazer umas festinhas. Esta é a época do ano em que os seus chifres estão cobertos de veludo que depois cai expondo o osso. Bichos lindos e majestosos.
Em seguida subimos a Serra da Pescaria e a dos Mangues para em seguida descer em direção a S. Martinho do Porto. Subir custa sempre, mas o esforço é inversamente proporcional ao resultado final, isto é, quanto mais se sobe mais difícil é, mas mais vale a pena. Além do sentimento de satisfação e conquista por se ultrapassar mais uma dificuldade, a vista é magnífica e esta, sem dúvida é das sensações que me traz felicidade. Um imenso mar azul profundo a direita e os campos cultivados e em vários tons de verde à esquerda. Para rematar, um céu azul intenso a fundir-se no infinito. Uma paleta de cores bastante variada a pintalgar o meu dia. Uma fuga pela natureza, fugindo da cidade e das pessoas. S. Martinho  dispensa comentários, é uma praia lindíssima e eu sou uma sortuda. à distância de alguns quilómetros a pedalar, estou perto de lugares fantásticos.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Dia 119 - Ler os olhos

Nunca fez tanto sentido a observação dos olhos das gentes para tentar entender o que as palavras ou a falta delas nos dizem. Com todos os rostos cobertos por máscaras, conseguiremos nós vislumbrar?

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Dia 118 - Escolha



É sempre nossa e só nós podemos decidir o que queremos para nós e fazer por isso. 
Mudar, seguir outro caminho, quebrar amarras e prendermo-nos a outras é uma escolha. 
Ir ficando ou adiar é uma escolha. 
Deixarmo-nos ir é uma escolha.
Não fazer nada é uma escolha.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Dia 117 - Cá dentro


E cá estou eu, mais uma vez, presa a uma cadeira, em frente a uma mesa de trabalho. Zé gato dorme enroscado entre o teclado e o écran, aos poucos vai-se apoderando do meu espaço. Por entre as cortinas vejo que está sol e oiço o trânsito lá fora. À exceção da música de fundo que sai do meu computador, um pouco para que não me sinta tão sozinha, a casa está silenciosa, mas o mundo já mexe. As pernas entorpecidas, o corpo em ânsias de liberdade e movimento e os dedos deslizando sobre as teclas, cá vou debitando trabalho ao longo de mais um dia. Gosto do meu trabalho atual, mais parado, mais administrativo do que nunca, e longe daquilo que já fiz e que sempre quis para mim, mas já não sinto a paixão e a energia de outrora e isso atordoa-me. Várias escolhas ao longo da minha vida, várias mudanças de direção foram levando-me neste sentido e durante os últimos anos fui até apreciando esta situação. Fui deixando de querer mudar o mundo, fui deixando de querer ser e fazer diferente, fui-me acomodando. Em alguns dias levanto-me disposta a mudar tudo, mas depois, ao longo do dia, vou deparando-me com uma engrenagem já montada e a funcionar e perco a vontade de ser a pedra que a faz parar e ou mudar de direção. Além disso, praticamente não sou nada nem ninguém, não tenho esse poder e só vou criar entropia. Para mim e para outros. No fundo, faço parte de um rebanho e embora por vezes contrariada e com a alma em convulsões, lá vou indo para onde o pastor manda. Docilmente. E a vida é assim, temos por vezes de adormecer a nossa essência, rebelde e atormentada, nómada e sem parança para vivermos bem com nós próprios e com os outros. A guerrilha também cansa.

domingo, 10 de maio de 2020

Dia 116 - Aura

Ontem, olhei o meu rosto demoradamente ao espelho e não apreciei o que vi. De repente parece-me que nestes últimos meses algo se transformou em mim. Umas quantas rugas mais, vários fios de cabelo brancos, a pele flácida e descaída, as pálpebras parece que cresceram em direção aos olhos e toda eu perdi o brilho de outrora. Pareço-me a mim, baça e com ar triste e cansado, velho. Talvez me sentisse assim naquele momento, não sei bem. Teimo contrariar  o tempo e mentindo-me a mim própria e tentando fazer tudo como há uns anos atrás, lá me vou iludindo e fazendo crer que o tempo não passou por mim, eu é que vou passando por ele, linda, leve e fresca. Chocou-me e entristeceu-me ver-me assim, no entanto.
Já hoje, depois da pedalada pelos pinhais e pelas praias onde respirei o azul do mar e bebi a luz do sol, onde senti a brisa acariciar-me o braços e onde pedalei com tanta força que o vento assobiava nos meus ouvidos, senti-me viva, tão viva, tão alerta, tão cheia de viço. Antes do banho, voltei a olhar o meu rosto. Além do leve bronzeado da pedalada ao ar livre, podia até estar exatamente igual, mas eu vi-o diferente, foquei-me na alma, observei a minha aura de uma ponta a outra e essa sim, tem um brilho imenso, sente-se livre, feliz e pode tudo. Não tem mais de vinte anos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dia 115 - Partilha


Domingo passado, não querendo deixar passar o dia sem a homenagear e não podendo beijá-la nem abraçá-la, fui levar uma singela orquídea branca a minha mãe. Ficou muito comovida e disse “Ohh! Não estava à espera de nada, não tenho nada para te dar”. “Mas tu é que és a mãe, disse eu. Mas tu também és mãe, anda cá!”
Pega na tesoura de podar e num cordel e aí vai ela, devagarinho, meio trôpega, mas cheia de convicção, comigo atrás dela. Atravessámos o quintal e chegamos às roseiras em flor. Escolheu seis rosas cor de rosa, cortou, aparou os espinhos, montou um arranjinho, atou com o cordel e estendeu-mas. Feliz dia da mãe!
Lembro-me desde sempre da sua generosidade e ninguém sai de casa dela sem algo nas mãos. E se não tem nada preparado, oferece o que tem. Sempre. Ovos, laranjas ou limões, um pedaço de bolo, um ramo de salsa, um saco de nozes, uma flor, um café ou um chá, uma taça de sopa, um chocolate, uma nota para os netos… Temos sempre de beber ou comer algo e trazer qualquer coisa na mão. Este sentimento de partilha foi transmitido a mim e a minha irmã, mas nenhuma das duas tem esta capacidade de improvisação e de vontade de partilhar a todo o custo. E hoje, para a maioria das pessoas, o dar ganhou outro significado, o do valor, o das datas marcadas, o da obrigação. Em breve, perder-se-á.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Dia 114 - Fuga

Do meu escritório improvisado na mesa da sala de jantar ouvi o trânsito quase voltar ao normal. Espreitei à janela e lá estavam as vizinhas, à porta da mercearia munidas de máscara, mas através dela consegui perceber os seus sorrisos, as suas conversas, a sua alegria por se sentirem um pouco mais livres. A meio da manhã fiz uma pausa e corri ao café cá da rua. Apesar do copo de plástico e de ter de o beber na rua para dar lugar a outros que aguardavam a minha saída para entrar, o café, preto, forte e sem açúcar foi como que um clímax após um mês de abstinência, uma explosão de alegria, um prazer indescritível. Só ultrapassado, claro, quando fechei o expediente e me fiz ao caminho na minha bicicleta em direção ao mar.
E assim lá vou desconfinando.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dia 113 - Redirecionar

Dei ontem por finda a minha participação no desafio "Um post por dia até ao fim do corona".  Não que o corona tenha terminado, mas porque acabou o fim do confinamento e agora, aos poucos, todos vamos retomando as nossas vidas e redirecionado os nossos rumos. A uns resta-lhes apanhar os destroços e seguir em frente, a outros, redefinir os azimutes e mudar o rumo dos acontecimentos e a outros ainda, seguir conforme a banda tocar.
Eu, vou dançar conforme tocar a banda, redefinindo azimutes todos os dias até que a minha vida volte ao normal. 
Vemo-nos por aqui, como sempre.

domingo, 3 de maio de 2020

Dia 112 - Super poder

Sim, sou mãe de dois e se ter e criar um filho ou dois ou três não nos torna alguém com super poderes, então o que nos tornará?

sábado, 2 de maio de 2020

Dia 111 - 48 - Dia de...

Dia de transformar velho em novo
A velha aparelhagem estava muda há anos. Foi agora  colocada na garagem e ligada e uma música suave enche agora o espaço onde faço exercício e trato da roupa.
Dia de pintar as portas de casa, que estão aos poucos a voltar a ser brancas imaculadas
Dia de provar cachupa pela primeira vez. Gostei
Dia de avivar cores a cestos e transformar algumas peças de decoração
Dia de apanhar um empeno a pedalar. Minha nossa, o que o meu concelho tem para aqui de subidas...
Dia de pensar no início do desconfinamento. Para mim, vai ficar tudo igual, continuo em casa e a fazer apenas saídas estritamente necessárias. Corridas e pedaladas no pinhal perto de casa são estritamente necessárias neste momento. Necessárias à minha sanidade mental.
E vocês, vão desconfinar?



sexta-feira, 1 de maio de 2020

Dia 110 - 47 - Choné ou xoné?


Saqueta de chá de frutos vermelhos, chávena, microondas, dois minutos, clic!
Snif, snif, começa a cheirar a queimado, ai o meu chá, vou a correr, saqueta a arder, nem uma pinga de água. #$)(&%?=) -se

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dia 109 - 46 - Dúvidas

Agora que já vamos ter ordem de soltura, progressiva, é certo, mas que sim, que com as devidas precauções e se tudo correr como previsto lá para junho, estamos desconfinados, será que mantenho a travessia da Nacional 2 de bicicleta com sete pernoitas fora de casa ou cancelo tudo e adio mais um sonho?

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Dia 108 - 45 "Um post por dia até ao fim do corona"



Comecei este post logo de manhãzinha.

Primeiro, escrevi que agora que a quarentena está prestes a findar, me dei conta que neste tempo todo, além de trabalhar, cozinhar, limpar e estar de trombas, não fiz nada. Não li livros, não vi séries, não tirei fotos, não filmei tik toks, não fiz grandes introspeções, não escrevi textos de fazer chorar as pedras da calçada, não meditei sobre a mudança de atitude nem tomei grandes resoluções. Apaguei

Depois, escrevi como estava feliz por iniciarmos finalmente o desconfinamento e embora um pouco a medo e com muito, muito cuidado, paciência e determinação, tudo irá voltar aos seus lugares. Mas depois lembrei-me do teletrabalho, das lays off's, das paletes de desempregados, das pessoas que mal têm dinheiro para comer. Apaguei

Depois... Depois lembrei-me que entretanto vem aí a época de ir à praia. Yupiiii!



segunda-feira, 27 de abril de 2020

Dia 106 - 43 "Um post por dia até ao fim do corona"

Usain Bolt

Fui correr. E como sempre que vou correr, faleci três vezes no primeiro quilómetro. Falta de ar, taquicardia, calor, essas coisas, mas depois a coisa, estabilizou, como sempre estabiliza e eu lá continuei. Sete quilómetros, um décimo e qualquer coisa de uma maratona, praticamente nada, portanto, mas uma grande alegria para mim, que correr é uma canseira do caraças. Além do mais, ainda faleci uma quarta vez quando fui atacada pelo Xavier. Afrouxei quando o vi, pareceu-me simpático e fofinho, comecei a passar e assim que ia ao lado dele, o gajo desatou a correr e a ladrar atrás de mim. Quase, quase a trincar-me os calcanhares, fingi apanhar uma pedra e mandar-lhe para o assustar já que não podia fazer mais nada e foi quando ouvi gritar. ''Ai, não faça mal ao meu Xavier que ele é amigo!'' Ui, claro que não lhe faço mal, mas ele é tão amigo que lhe apeteceu trincar-me para me cumprimentar. Gente! Qual Usain Bolt, qual quê, o record dos duzentos metros é meu!

domingo, 26 de abril de 2020

Dia 105 - 42 "Um post por dia até ao fim do corona"

Sorte, fortuna e prosperidade

Enquanto envolvia delicadamente as claras batidas em castelo firme no preparado de chocolate para terminar a mousse e temperava as asinhas de frango para o lanche ajantarado, tudo "discos pedidos", pensava cá com os meus botões na quantidade de grilos que ouvi cantar ontem quando fui pedalar um pouco por aí.
Acho que não ouvia tantos grilos cantar há muito, muito tempo. Imensos a numa grande cantilena o caminho todo. Será do silêncio que os rodeia, será da calmaria, será porque a poluição é menor e eles sobrevivem mais e mais tempo?
Os grilos são conhecidos como símbolo da prosperidade.
São conotados com a sabedoria.
Na China e no Japão, considerados um símbolo de boa sorte, fortuna, prosperidade e vitalidade.
E diz uma lenda que os deuses enviaram os grilos à terra para nos lembrar que devemos ser felizes apesar de tudo.

Só pode ser um bom sinal...

sábado, 25 de abril de 2020

Dia 104 - 41 "Um post por dia até ao fim do corona"

Transplante

Encontrei finalmente um lugar condigno para o meu pinheiro-gémeo-de-orquídea e não os consegui separar. Aguardo ansiosamente vê-los crescer juntos, brincar à apanhada, saltar à corta, quem sabe até, jogar à macaca. Talvez um dia destes queiram um quarto para cada um e sair com amigos diferentes e depois vão acabar por separar-se pois talvez um vá para a universidade e o outro queira emigrar. Quem sabe um dia arranjem um amor e acabem por ter filhos. Ou vivam em casa dos pais até aos quarenta, não sei. Pese embora achemos que conhecemos os nossos filhos como um .livro aberto, por vezes eles surpreendem-nos. Veremos.
Bom, depois disto, só me falta escrever um livro. Ou talvez não. Não será uma autobiografia, tudo aquilo que venho aqui escrever? Não conhecem vocês tanto de mim por causa daquilo que escrevo? Está em curso portanto, o livro da minha vida.


sexta-feira, 24 de abril de 2020

Dia 103 - 40 "Um post por dia até ao fim do corona"

E entretanto já lá vão quarenta dias...

Hora de almoço, pausa no teletrabalho e ida à rua para apanhar ar.
Estou tão cansada....
Resolvi inspeccionar as suculentas que plantei há uns dias. Filhas de filhas de outras filhas que trouxe de uma aldeia na Lousã. Que saudades daqueles passeios serra acima e serra abaixo, dos sobreiros, do cão que faz o pino e dos queijos do fim da rua. Que saudades das gargalhadas e das noites à lareira com os amigos. 
Será que vamos lá voltar? 
Entretanto, na maior das tranquilidade, as suculentas estão viçosas. 

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dia 102 - 39 "Um post por dia até ao fim do corona"


Kit do mal

Caracol é um bicho engraçado. Anda com a casa às costas e assim, passeia o dia todo super tranquilo, quando vê um spot que lhe agrada estaciona e põe os corninhos ao sol, dorme uma sesta e tal, não aborrece ninguém e aí vai ele de novo, na sua vidinha. Mas come as minhas plantas!! E se como as minhas ricas plantas como se não houvesse amanhã, eu tenho de fazer alguma coisa, não é? Pois que fui buscar o meu kit do mal, muuhahaha! Granulado com eles que isto aqui não é o da Joana. Três doses foi o que eu já deitei nas minhas plantas e senhores caracóis não largam a breguilha, acho até que eles pensam que é comida e ficam todos satisfeitinhos….

Já o kit do mal que largaram nos humanos está a dar-nos que fazer ein? 
Quando é que isto acabará já que o granulado não funciona..

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dia 101 - 38 "Um post por dia até ao fim do corona"


Minh’alma

Tão azul e tão brilhante, tantas vezes cinzenta e periclitante
Uma alma inquieta e desassossegada, tão ansiosa e atormentada
Tem dias alegres e felizes, divertidos e hilariantes
Outros tantos de tristeza, desalentada e desesperante
Uma alma insatisfeita, desanimada, impaciente e inconformada
Pouco tem de segura e confiante, é mais escorregadia e inconstante
Minh’alma teimosa
Minh’alma cintilante
Minh’alma apaixonada e desconcertante

Quem me dera...
fosse diferente


segunda-feira, 20 de abril de 2020

Dia 99 - 36 "Um post por dia até ao fim do corona"

Mitologia

Farouk, foi o nome de um dos meus cães. 
Zeus, era o gato. 
Diana, é o nome de minha irmã, teria sido Ulisses se fosse rapaz.
Nem sei como escapei... 

domingo, 19 de abril de 2020

Dia 98 - 35 "Um post por dia até ao fim do corona"

Respirar

E ao trigésimo quinto dia de confinamento fui vê-lo. Peguei na bicicleta e de mansinho embrenhei-me no pinhal que continua completamente nu devido aos fogos e nu se irá manter durante anos, mas lá fui eu, por entre as dunas já vestidas de verde. Ao chegar soube que ele me esperava, lindo como sempre, vestido de um azul intenso e transparente, calmo, tão calmo, a espuma beijava a areia e o sol fazia-o brilhar. Cheirava a azul e a verde, marulhava baixinho como quem sussurra. O mar. O meu mar. Regressei feliz mas com uma ainda maior  certeza que me é difícil viver sem ele ...

sábado, 18 de abril de 2020

Dia 97 - 34 "Um post por dia até ao fim do corona"

Apimentar

Não fora a garrafa de Bombeira do Guadiana tinto que quase bebi inteirinha (mais ninguém gosta de tinto cá em casa, os pindéricos) e estava aqui a passar a língua pelas paredes ou a mergulhá-la em água fria com gelo. Estava euzinha, Gaja Maria Chef de Cuisine, a esmerar-me num chili com carne para alimentar as termites cá de casa, quando se descola o fundo do moinho das pimentas e me cai toda uma montanha de grãos dentro do tacho. Passei os vinte minutos seguintes a pescar com uma mini colher, mas nem por sombras consegui tirar metade. Os grão pretos, até achei bastantes, mas os de pimenta rosa e branca, eram da cor da carne, acho que os trincámos todos ao jantar. Eu e restante agregado familiar estamos prestes, não digo a falecer, mas a despejar tudo quanto é garrafa de cenas que se bebem.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Dia 95 - 32 "Um post por dia até ao fim do corona"

"Puzzle"




Já tinha visto e já me tinha questionado várias vezes para que raio seria toda uma panóplia de apetrechos e como se usariam. Nunca dei assim tanto azo à minha imaginação uma vez que sou moça que usa capacete pedalador muitas e muitas vezes destruindo toda e qualquer possibilidade de ter uma linda cabeleira. Vendo tão difícil quanto longínqua de momento essa minha faceta, resolvi permitir-me por tempo indeterminado toda uma possibilidade fútil e vaidosa. Tenho desafio para uns dias, quem sabe, semanas, quiçá, meses...

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Dia 94 - 31 "Um post por dia até ao fim do corona"

No seguimento do post de ontem, tenho a dizer-vos que isto foi há 15 dias quando ainda achava piada a isto de estar confinada, agora só me apetece estar enroscada no sofá a comer bolos e a beber vinho tinto sem me mexer. Vou pedir a alguém aqui de casa que me traga um guardanapo que tenho as beiças todas sujas.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Dia 93 - 30 "Um post por dia até ao fim do corona"


Hoje faço 4 semanas de isolamento. Sem açúcar, nada de carne ou pão. A mudança tem sido fantástica e sinto-me espetacular! Zero álcool! Uma dieta vegan saudável, sem glúten, sem cafeina e 2 horas de exercício físico por dia em casa. Perdi imensa gordura e ganhei massa muscular. Estou fantástica.

Não faço ideia de quem é esta publicação, mas com certeza que já faleceu ou está prestes a falecer, seca de corpo e de alma.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Dia 92 - 29 "Um post por dia até ao fim do corona"


Por ora, esgotadas que estão as ideias brilhantes e a motivação para manter a boa disposição, incluindo bolos, chocolates e vinho, permitam-me ter um dia menos bom. Estou oficialmente em modo elefante, isto é, de trombas!  Sei o que pensaram quando falei do modo elefante, empanturrada, gorda, balofa, modo redondo, portanto, mas não, quer dizer, ummmm, bom, talvez um pouco, mas o que quero mesmo é deitar cá para fora que sinto uma enorme tristeza por toda esta situação sem fim a vista. Amanhã será um novo dia, todo o dia. Até amanhã.

domingo, 12 de abril de 2020

Dia 91 - 28 "Um post por dia até ao fim do corona"

Uma Páscoa diferente, esta.
Pedalei vinte e três quilómetros no quintal, estive duas horas a passar roupa a ferro no "ginásio" isto é garagem, ao som da Rádio comercial, o almoço não foi cabrito assado mas peixe e vá lá que houve um folar e um pacote de amêndoas de chocolate, muitos telefonemas e abraços virtuais. Mais um dia passado em casa sem ver ninguém, sem ver o mar, a serra ou o pinhal. Mais um dia...
Já lá vai quase um mês de confinamento e não se vislumbra fim à vista. Está o Luís Marques Mendes a dizer na tv que só haverá uma vacina no verão de dois mil e vinte e um e que até lá não vamos conseguir erradicar o Covid-19 e teremos de manter o distanciamento e viver semi confinados.
PQP, isto é, Puta Que Pariu isto tudo!

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Dia 89 - 26 "Um post por dia até ao fim do corona"

Hoje atirei-me à garagem barra arrumos munida de aspirador, esfregona, muitos panos e muita água. O contentor de lixo à porta viria a revelar-se pequeno para tanta coisa da qual resolvi desligar-me, cada vez me convenço mais de que não são precisas coisas para sermos felizes e ainda estou para saber como se junta tanta tralha.Terminei ao fim de cinco horas, altura em que revi os amigos e bebemos um copo, cada um na sua casa, claro. O corona traz-nos estas coisas. E sim, comprovo, o filme do qual todos falam, "Milagre da cela 7" faz chorar baba e ranho.
Uma ótima Páscoa para vós.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Dia 86 - 23 "Um post por dia até ao fim do corona"

As portas da guerra.


Eram oito e quinze da manhã quando saí para a guerra, esta semana calham-me as manhãs. 
Calcei as minhas melhores botas, vesti o look de trabalho e coloquei o colete à prova de balas por cima assim como cinturão com as armas. A metralhadora, as granadas, o capacete e até uma calibre 38, just in case, todas em forma de spray. Fiz-me a ela, a guerra.
O inimigo, não o vi mas senti-o a rondar. Sei que me espreita em cada esquina, mas sigo o meu caminho que os medos são sempre relativos e têm apenas a importância que lhes quisermos dar. Embora esteja na linha da frente mesmo à porta da guerra e me apeteça fazer-me a ele de peito feito, ao inimigo, claro, fiquei sogadita na trincheira. Aliás, queria ficar sogadita, mas como em todas as guerras, as coisas complicam-se e o pelotão não escapa à puta da confusão. Sei que, entretanto, o inimigo vai vacilar e é nessa altura que o vamos aniquilar nem que seja à machadada. Posto isso, tudo voltará a ser como dantes. Ou não!
Valha-me a estrada para casa praticamente vazia e o almoço pronto a comer.
Um luxo esta guerra.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Dia 85 - 22 "Um post por dia até ao fim do corona"

Começo finalmente a entender o significado da máxima "viver um dia de cada vez" que tanta tinta já fez e faz correr todos os dias e que até, sou sincera, me enervava solenemente de tão utilizada em todas as situações. Disso, tento agora auto convencer-me, um dia de cada vez, sem pressas, sem sofrimentos por antecipação, sem análises ou suposições, sem desilusões.
Só mesmo vivendo cada dia, o melhor possível.Certo?
P.S.
Coronabunda está de rastos pois esteve o coronadia de ontem inteirinho colada ao coronasofá. Marcharam duas longas metragens, uma delas "o Irlandês que são só três horas, toda a última temporada da Casa de Papel e os dois últimos episódios do "This is us"
Ui, que não há coronarabo que aguente. Hoje, para me coronaredimir foi dar ao coronapedal uma hora nos rolos e mais meia hora  de coronacrossfit com MaiNovo. Estou nova. Ai, ui.

domingo, 5 de abril de 2020

Dia 84 - 21 "Um post por dia até ao fim do corona"

coronatelegrama.
Domingo.stop.Vigésimo dia de quarentena. stop. Chuva again. stop.
Já me dói a coronabunda. stop.passei o dia no coronasofá e este até já tem coronacovas.stop. já vi quatro episódios da Casa de Papel. stop. Já olhei quinhentas vezes pela coronajanela e já não há coronapaciência. stop. se ninguém mata esse tal de coronavirus, mato-o eu. stop.