quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Lembram-se da Pipi das meias altas?

Quando casou, meu pai nunca quis que faltasse nada lá em casa e prezava muito a saúde de Mamãe, não querendo que ela carregasse as bacias da roupa para lavar até ao ribeiro. Vai daí mandou construir um tanque de lavar roupa no quintal, em cimento e de tamanho XL que mais parecia uma piscina. Depois veio a máquina e o tanque lá ficou, mas eu andava sempre a piscar-lhe o olho...
Eu e prima Goreti, sim, tenho uma prima Goreti, não é italiana, mas os pais puseram-lhe este nome e eu até gosto, é diferente e exótico. Dizia eu então, que ambas as duas, andávamos a magicar há algum tempo uma cena para fazer naquele tanque:


Lembram-se da Pipi das meias altas? Pois é, diziam que eu era parecida com ela, vá se lá saber porquê, talvez por ter a tromba cheia de sardas e ser uma Maria Rapaz, não sei, mas esta cena não me saía da cabeça.
Um belo dia, esperámos que Mamãe saísse para as compras, esgueirámo-nos até ao quintal, enchemos o tanque de água até cima, fizemos uns totós no cabelo, calçámos as nossas meias às riscas do sarau que íamos ter na coletividade e saltámos lá para dentro. Bom, foi o maior forrobodó das nossas vidas... até Mamãe chegar, claro! Gastámos litros e litros de água do poço que servia para regar o quintal, quase afogámos as alfaces plantadas ali ao lado com a água que chapinhámos e ainda tingimos as meias e ficámos constipadas, Castigo durante três longas semanas! As crianças sofrem muito :))

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Verões azuis

Eram os anos 70 e tal e à semelhança de outras pessoas por aqui, também nós, acampávamos na praia, todos os verões.

Em chegando o dia 1 de Julho, carregávamos o carro até ao cimo de tudo o que possam imaginar, por vezes era até necessário ir por duas vezes e rumávamos ao acampamento para montar a nossa casa de verão em cima da areia da praia. Um areal imenso, quase branco, onde espelhava o sol e onde as ondas do mar vinham morrer na praia numa espuma de um branco imenso, mesmo ali, quase aos nossos pés.
A tenda, a nossa rica casinha ultra moderna trazida da Alemanha por um familiar, tinha 4 assoalhadas, 2 quartos, um para os meus pais, outro para mim e minha irmã, a sala, em todo o comprimento e a cozinha com uma janela de rede transparente e uma pála por fora, que abríamos de manhã e fechávamos à noite. Na cozinha havia um fogão de dois bicos, um porta loiça, um despenseiro para as mercearias e até um pequeno frigorífico. À volta da tenda havia estacas onde eram atados cordéis para delinear o nosso território. À frente, deixava-se um espaço para a mesa e as cadeiras, onde havia sempre uma jarra com flores que colhíamos nos pinhais circundantes  e um chapéu de sol. Comíamos sempre  lá fora, mesmo à noite, à luz do "pitromax". O sol a aquecer-nos as costas, o barulho das ondas, o mar ao fundo. Ali não havia rádios, nem televisões, conversávamos o tempo todo.
E ali passávamos os verões, nós as mulheres e os filhos, de 1 de julho até finais de setembro e os pais, em acabando as férias, saíam de manhã para ir trabalhar e voltavam à noite. Sim, na altura era assim na classe média baixa, talvez.

Bom, mas o céu estava sempre azul, o mar sempre calmo e nós éramos livres. Livres para fazermos o que nos desse na real gana. Eu, tinha de cumprir as horas das refeições e se comesse, que eu nunca comia, podia andar livre e solta sem preocupações e sem castigos e eu fazia um esforço ganhando assim a minha liberdade.
Os pais juntavam-se uns com os outros para confraternizar, os irmãos mais velhos jogavam voleibol, nadavam, namoriscavam e jogavam à lerpa a dinheiro. E nós, os putos, passávamos horas no mar, íamos às camarinhas, visitávamos outras praias, trepávamos às dunas e organizávamos expedições para explorar tudo ali à volta. Um dia conhecemos até uma família inglesa com 3 filhos que nos dava arroz doce sem açúcar e pão com manteiga de amendoim para o lanche. Todos juntos tivemos aventuras que davam para fazer mais uma coleção de livros de "os Cinco" da Enid Blyton.
Verão após verão.
Fui tão feliz a acampar na praia.
Mas depois, houve um ano em que se tornou proibido acampar na praia e construíram um parque cheio de condições no pinhal lá em cima. Nunca chegámos a ir para lá, não era a mesma coisa. E depois descobrimos o Algarve e as casas longe da praia e todo um areal apinhado de gente estranha e cheia de nove horas. Não mais houve expedições ou descobertas, bandos de amigos à solta ou sequer liberdade.
Saudades que eu tenho daqueles verões azuis... 

Eu não disse?

Bate forte, mas passa depressa. Ainda não chegamos ao final de fevereiro e a maioria do pessoal que começou no início do ano cheios força e vontade já desistiu. Ontem cheguei ao Gym as 19 horas e o balneário estava quase vazio, as aulas a meio gás e até tive uma elíptica disponível. É todos os anos assim, as pessoas que eu já vi chegar e desistir. É que isto de ir ao ginásio é coisa para cansar, tomar algum do nosso tempo e não é carregar num botão para obter resultados. Pena é que muitas pessoas são assim em tudo na vida. Desistem rápida e facilmente á primeira dificuldade..

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Como sobreviver a isto de ser mãe?

As mães são do caraças! Os putos fazem cagadas até ao pescoço, eles vomitam a casa toda e a nós, eles sujam mais roupa que um exército inteiro em plena batalha campal, eles fazem-nos passar noites e mais noites sem dormir, eles abrem cabeças e partem pernas e depois mostram-nos o sorriso nr. 10, aquele do cachorrinho abandonado e dizem "mamã querida" e nós derretemo-nos todas, inchamos de orgulho e ainda agradecemos a Deus a benção que nos deu.
Mas digam-me como, como é que eu vou gerir isto??


Bom, depois de ter sobrevivido a todas estas mensagens e mais umas quantas sem o ter morto e sem me ter dado um enfarte por cada uma que recebi, aqui a minha pessoa é capaz de tudo. E ponham tudo nisso, que isto de ser mãe tem coisas que a própria coisa desconhece. Não bem assim que se diz pois não? Passa a ser...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Isto do mundo dos homens

Em casa sou a única mulher, no trabalho sou a única mulher do departamento, a pedalar sou a única mulher do grupo...
Já sei falar de gajas boas, de carros, de futebol, de bebidas, de mecânica de bicicletas e até já quase me sai um intrínseco foda-se em vez de um "bolas!"
Já não sei falar de sapatos, nem de vestidos, nem da maquilhagem de primavera ou sequer do que vou fazer para o jantar.
Entretanto ainda vou dar comigo a pensar em cus, mamas e ratas.
Ah! Havia era de aprender a "mijar" em pé, dava-me jeito no btt.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Estou p'raqui toda empanada

Depois das aventuras dos últimos tempos, voltei às pedaladas a sério. Gente, o que eu subi, o que eu desci, o que pedalei na areia mole e contra o vento, foi coisa para me deixar p'ráqui toda empanada, assada, dorida... Doem-me músculos que nem sabia que tinha, mas como sempre, parece que tenho 10 anos a menos, por dentro claro, que por fora, as rugas de expressão... nem o frio nem o vento me esticam  as peles.
Ai as minhas perninhas, parece que pesam 50 kgs cada uma, coitadas. Precisava de ficar pendurada no arame da roupa a noite inteira para me esticar, mas é capaz de estar um pouco de frio e chuva...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Atirem-me água fria

Não sei se foi do sangue nas mãos, na testa, no olho, não sei se foi do corte que tinha na testa que fez ao embater contra a porta, não sei se foi dos 3 pontos que o meu filho levou era quase meia-noite, do monte Everest que lá tem, ou das dores que deve sentir. Sei que não preguei olho esta noite, já bebi 2 cafés, tenho muito trabalho pela frente e só me apetece esticar na cadeira, pôr os pés em cima da secretaria e dormir....

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Histórias I - Demência

Chegava sempre antes da hora marcada.
Gostava que ainda fosse dia para perscrutar o horizonte e tentar encontrar os contornos de um barco à vela, sinal de que havia solitários como ele no mar, à mercê das ondas e do sol e do frio da noite. Imaginava-se um dia num barco daqueles, com ela. Apenas os dois, um para o outro, um do outro sem pressas, sem horas, sem medos. Eles, o céu e o mar…
Raramente havia barcos à vela, uma ou outra vez ainda viu um barco carregado de contentores e um barco de pesca, parecia-lhe a ele, lá ao longe. De resto, o mar era aquela imensidão de água em tons de azul que ondulava num vai e vem eterno e constante que o fascinava.
Mas entretanto o sol começava a beijar o mar, tingindo-o de um laranja incandescente que parecia incendiar aquelas águas frias e profundas, como se isso fosse possível e ele logo se esquecia dos barcos para observar aquela imagem tão maravilhosa. Sabia dos milhares de letras escritas, em forma de poema, carta ou livro e das imensas pinturas sobre o pôr-do-sol que o tornaram tão vulgar, mas ele continuaria sempre a apreciar a enorme beleza de tão sublime momento.
Sentia-se porém inquieto e ansioso naquele dia, ao contrário das outras vezes em que a paz tomava conta de si e só se desvanecia com o aproximar da hora do encontro em que uma enorme excitação tomava conta de si ao pensar nela. Na sua imaginação conseguia vê-la a sair do carro, talvez de saia, repleta de vincos por ter sido puxada para lhe deixar as pernas livres para conduzir, as pernas altas e esguias das quais que ele conhecia cada centímetro, a camisa desalinhada, justa no seu peito farto que estava louco para tocar, as faces ruborizadas do calor, que lhe faziam sobressair os olhos expressivos, os lábios carnudos que beijaria apaixonadamente, desesperadamente e o cabelo desgrenhado por causa do vidro aberto do carro, que afagaria agressivamente de desejo no início e mais lentamente quando ficavam os dois deitados, entrelaçados e já saciados.
Imaginava a alegria no rosto dela, quando o visse, o abraço entusiasmado, o beijo excitado que logo o transportava para outra dimensão. Seguiriam juntos então, no carro dele para o quarto onde iriam amar-se, loucos de paixão, tontos de desejo, inebriados pelo sentimento do perigo de serem descobertos. Quase conseguia sentir-lhe o cheiro, o andar desajeitado e nu à sua frente, a tatuagem na omoplata, o sinal no ventre que ela dizia ser grande e flácido, mas que a ele se lhe apresentava liso e musculado. Quase morria de desejo. Naquele dia iria amá-la como nunca!
Cada vez mais ansioso, já começava a sentir o frenesim da chegada da hora e mal podia esperar. Senti-la nos braços, abraçá-la, beijá-la, sorver cada momento sofregamente, sentir-se dentro dela e perder-se por entre os seus cabelos, os seios, as pernas… Que loucura era a dele, que nem o deixava raciocinar. Tinha tantas saudades que era capaz de largar tudo, ir com ela para longe de tudo e de todos, como se de dois adolescentes imberbes e loucos se tratassem. Sim, talvez num barco à vela, aí uns 3 meses, depois logo se veria.
Olhou o relógio e já estava na hora. “Estou insano”, pensou, aquela mulher punha-o louco, demente, irracional. Não importava, assim seria. Iria hoje propor-lhe ficarem juntos.
Reparando que estava já bastante atrasada, começou então a contar as canas dos pescadores solitários espetadas na areia, àquela hora presenças únicas na praia. Que estariam a pensar durante todas aquelas horas em que estavam ali à espera que os peixes mordessem a sua isca? Porque estariam ali? Conheceriam eles mulheres como aquela?
Cada vez mais atrasada, uma hora, duas horas quiçá… nem um telefonema, nem uma mensagem, logo hoje que estava tão sedento, tão ansioso, tão decidido. Ansioso… sabia agora porquê. Ele sabia, ele pressentira aquela ausência. Ela não viria… nunca mais.

Mas porque viria ela, pensou, se até àquele dia nunca tinha vindo?


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Os dedos que adivinham

Diz quem os tem que eles adivinham tudo. Desde que vem chuva ou vento, quem ganha as eleições ou os jogos de futebol às soluções para encontrar o triângulo das bermudas, eles adivinham tudo. "O grande mistério dos dedos adivinhadores", coisa que sempre me deixou para lá de pensativa.

Por altura dos preparativos para o Natal, em Dezembro, portanto, dei uma cacetada num dedo da mão daquelas de nos deixar sem pinga de sangue e de nos fazer dizer umas valentes caralhadas. Palavras feias, vá, que eu sou educada, como bolas, xiça e porra.
Mas não havia tempo a perder e depois do sangue voltar à minha pessoa, continuei as minhas tarefas super importantes e urgentes sem que lhe desse grande confiança. O parvo do dedo nunca deixou de me doer e foi ficando roxo, depois azul, depois negro e nunca desinchou. Já passados muitos dias das festividades pensei que talvez estivesse partido, mas depois de tanto tempo, o que ia adiantar ir passar horas  no hospital para me porem uma tala no dedo e me imobilizarem a mão durante semanas?
Nã... deixem-no andar.
Pois meninas e meninos, eu acabei de desvendar o mistério, eu agora sei tudo sobre o assunto, eu agora também tenho "Um dedo que adivinha!!"
Pois adivinha quando há pedras e caminhos sinuosos quando faço btt, adivinha quando vou ao ginásio, adivinha quando estou na cozinha, adivinha quando está frio, ou calor, adivinha quando estou a tirar o gel das unhas ou a limá-las, adivinha quando carrego sacos com a mão a que ele pertence. Ele adivinha um sem número de coisas inimagináveis.
Sou portanto portadora de um dedo que adivinha e sei tudo sobre o assunto. Se necessitarem de uma consulta de adivinhação, é enviarem-me um e-mail.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Cartas

"Apenas  2 ou 3 palavras…

Podia lembrar-te que fui eu que te trouxe ao mundo, que te alimentei, que cuidei de ti quando estavas doente, que cantei para ti para adormeceres, que passei noites e noites sem dormir de tanta preocupação por tua causa. Podia lembrar-te das brincadeiras que tivemos, das gargalhadas que já demos e dos momentos felizes que já tivemos. Podia dizer-te que te amei tanto mas tanto que nem consegues imaginar.
Podia  também dizer-te que esqueceste tudo isso e lembrar-te da forma como falas hoje comigo, das palavras que me fazem doer, do desrespeito, da ironia, da maldade e da agressividade com que me tratas.  Podia também perguntar-te  o porquê dessa raiva que me tens e que eu não consigo compreender. Podia perguntar-te porque fazes tudo para eu deixar de te amar…
Mas não, não quero dizer-te nada disto porque sei que um dia vais cair cair em ti  e mudar de atitude. Eu sei que és inteligente o suficiente para compreender que se não o fizeres, vais muito em breve, ter sérios e graves problemas.  Contigo e com os outros...

Hoje… Hoje, apenas quero dizer-te que ontem foi Dia da Mãe e que secretamente esperava  um beijo e um “Feliz Dia da Mãe” da tua parte… Não recebi nem um bom dia."


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Vício

Trivia Crack
O jogo do trivial que se joga no Facebook contra alguém. 6 temas com perguntas de cultura geral, quem acertar primeiro os 6 temas,  ganha. Estou viciada. Verdadeiros duelos que fazemos cá em casa.

Testa os nossos conhecimentos, a nossa sorte e ensina-nos muito. Muito giro para jogar com os filhos, com o companheiro ou até com amigos do Facebook. Vão lá cuscar vá.


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Era um destes faxavor!


Imagem retirada da net

Tanto Btt, tanto Jump, tanto GAP, tanto Treino Funcional... Nada! A genética é lixada.
E é melhor tirar mas é o cavalinho da chuva que ele ainda se constipa, pois nunca terei um destes, aliás, a tendência agora não é empoleirar mas sim espalmar, descair, achatar. Problemas, a minha vida é só problemas. Como é que eu vou amanhã desfilar de fio dental e dançar o samba nesta figura, ein?? (hi hi hi havia de ser giro)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

És uma nódoa, aliás, uma sombra, Gaja Maria

Não tenho chibata
Não tenho algemas 
Não vou ver as 50 sombras do "tal gajo"
Não vou fazer um jantarinho romântico a dois
Não vou oferecer prendinhas do dia dos namorados

Sim, sou uma gaja excluída, portanto. E agora sou também a blogo-ovelha negra do blogo-rebanho, a blogo-carta fora do blogo-baralho, eu sei.
Mas prontes, sábado vou jantar com uns casais amigos e a seguir vou dançar e brincar ao carnaval. Em calhando, vou comer demais, beber demais, dançar demais e gargalhar demais. Vou chegar a casa às quinhentas, toda lixada e não vai acontecer mais nada pois vou cair redonda na cama e domingo... Bom, no domingo, em calhando, vou estar de ressaca e com uma valente  dor de cabeça e pensar:
"Antes tivesse ido ver aquilo das 50 sombras do tal gajo...."

Um dia ainda vou ser uma "Mureia" metade mulher, metade baleia

É que estou para aqui em pulgas, nunca mais chega a hora do lanche....
Trouxe pão com Nutella!
Sou uma gulosa do caraças, eu sei.

(Post não patrocinado, mas devia....)
Eu sei, isto é uma merda, mas as marcas não entram nestas coisas para ter prejuízos ....

Segredos

"Nunca fales de ti. Guarda ao teu ser o seu segredo, se o abrires, nunca mais o poderás fechar."
Fernando Pessoa

E quem fala de segredos, fala de outras coisas que nem por isso são de somenos importância... Guarda-as para ti. Sempre!
Mas são engraçados os portadores de segredos, que muitas vezes têm até um não segredo, apenas e tão só a mais comum das informações que ao dissimularem e tentarem ocultar, se torna num delicioso e misterioso segredo. Mas esse detentor sente-se de certa forma poderoso, conhecedor de factos que outros não têm, ganhando vantagem relativamente aos demais. Isso fá-lo sentir-se superior, importante, transformando-o. Ou até não.
Muitas vezes porém, os segredos queimam-lhes os lábios, aguçam-lhes a palavra, tentam-lhes a revelação. Se não forem pessoais, pois esses conseguem guardá-los, a maioria dos segredos sofrem da tentação e da maldição da revelação, após o que serão esquartejados, esmiuçados, recontados vezes sem conta, alterados. E a maldição do segredo revelado tem façanhas e contornos inimagináveis...
Nunca fales de ti.
E nem dos outros.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Porque há dias

Em que coisas boas e coisas mas nós acontecem ao mesmo tempo. Porque há dias em que não conseguimos decidir se estamos felizes ou tristes, porque há dias em que parte de nós está cinzenta e a outra está azul céu e verde esperança. Porque há dias em que olhamos a rua e voltou a chover e o céu está escuro e não nos apetece falar. Apenas ficar quieta e calada.... Ou não. Apetece-nos falar, dizer. Tudo.
E o pior é ter de responder calada. 

(Eu não digo que isto é mesmo das hormonas?? Raios as partam!)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Nem que passem 200 anos

e um comboio ou vários, haja uma hecatombe, um desabamento, uma explosão, umas mais do que outras, é certo, mas as mães são sempre mães.
Eu também sou mãe, mas hoje venho aqui falar como filha, que com quarenta e tal anos ainda sinto as preocupações, os cuidados, a proteção da minha mãe, como se tivesse sete.
Com setenta e muitos anos, a braços com a sua solidão de viúva recente, com as limitações de saúde que a idade lhe trouxe e com todas as responsabilidades de manter uma casa sozinha, esta mãe galinha, a minha, continua a preocupar-se com as suas pintainhas, mais comigo até e nem sei porquê, talvez porque sou a mais nova, a menos sensata e assertiva, aquela a quem de quando em vez lhe "pára o relógio", e por isso no ver dela, a mais frágil e periclitante, a que precisa de apoio e proteção.
Protege-me, poupa-me, cuida de mim para que não sofra e, quando é inevitável sofrer, minimiza e dá-me força, quando ela própria necessita ainda mais.
Sempre preocupada se cheguei a casa, se cheguei tarde e não tenho jantar, se está tudo bem. Quantas vezes eu chego à noite e tenho à porta de casa uma panela de sopa ou a comida preferida dos meus filhos, ou a minha. Quantas vezes encontro a bacia da roupa apanhada do estendal e dobrada (os nossos quintais são comuns). Enfim, tantas coisas, coisas de mãe que mesmo a precisar de ajuda, se esquece dela em prole dos filhos e dos netos, como sempre assim foi.
E eu pergunto-me inúmeras vezes: Estarei eu à altura de ser filha? Será que um dia estarei à altura de ser uma mãe assim? Estarei eu à altura dos meus anjinhos da guarda?


Não sei o que se passa com as minhas hormonas...

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O rosto


"O rosto é a porta da alma". (Cícero)



Quantas vidas, quantas mortes, quantas alegrias, quantas tristezas. Um rosto marcado pela vida e pelos anos, um rosto com alma. Quantos segredos, quantas palavras, quantos silêncios, quantas lágrimas ou sorrisos conterá este rosto...
Gosto de olhar os rostos de frente, nos olhos, observá-los. Os que me rodeiam, os com que me cruzo, os que conheço e os que nunca vi antes. Tento escrutinar-lhes a alma, interpretar-lhes cada sulco, cada  pedaço de pele, os olhos, a boca. Há rostos onde nada vejo, olhos mortiços, pele sem vida, bocas finas e apertadas, sulcos disfarçados, rostos sem expressão. Esses são um enigma para mim, embora ache que são rostos dissimulados, maquilhados, mascarados. Por alguma razão talvez, são os rostos da indiferença.
Há no entanto rostos que são para mim um livro aberto. Consigo ler-lhes a alma, a essência, a tristeza, a felicidade, a dor, o abandono, a solidão, o sucesso... Um rosto diz-nos tantas coisas. Gosto de olhar os rostos, a porta da alma.



(Nota: Rosto de uma Nazarena desconhecida que captei com a minha objetiva há 3 anos. Este rosto melancólico e resignado fascinou-me...)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Sábado à noite

Ainda me lembro dos sábados à noite de há uns anos, em que chegávamos apressados a casa dos pais para tomar banho e aprontarmo-nos para mais uma saída. A vida era vivida à pressa sempre com medo que o mundo terminasse no dia seguinte e tínhamos de viver a 1000 à hora. Eram os jantares, eram os bares com música ao vivo, eram as discotecas, eram as combinações com os amigos, sempre com horas marcadas, o encontro no café do costume, as noites longas mas que nunca chegavam para tudo o que queríamos fazer. Era a loucura, era a pressa de viver a vida.
Hoje são os nossos filhos que chegam apressados, aprontam-se e saem para mais um sábado à noite.
E lá ficamos nós, os dois.
Chegámos da pedalada e o homem vinha de desejos. O homem, o meu! Sim, é meu, por uso capião, por amor, por amizade, por cumplicidade, por anos e anos de vivência em conjunto onde um diz mata e o outro diz esfola. Sim, do futuro não sei, só sei do passado e do presente e desses sei que as nossas metades fazem um todo, somos cara e coroa, somos unha e carne, somos os dois um só. Nem consigo imaginar a minha vida sem ele, o meu amor, o meu companheiro, a minha muleta, sempre, sempre a surpreender-me.
Mas dizia eu que ele chegou de desejos. Tomou banho e foi às compras...


Salada e polvo e bacalhau assado. Ah! E uma garrafa de vinho, por isso é que estou assim, lamechas...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sexta-feira é dia de confraria

Nem é porque as sextas feiras termina a semana de trabalho ou porque vem aí o fim de semana, ou porque no dia seguinte vou pedalar. Não, eu adoro as sextas porque é dia da Confraria do Pastel de Nata! E hoje o confrade pagante deu mais um tiro no meu colesterol, além do pastel de nata, veio uma variante. Mas ca ganda chatice....


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Não há que temer

Dizem que "quem tem cu, tem medo"... Verdade!
E nem parecem coisas minhas, que me atiro a tudo sem medos, mas desta vez tinha medo...
Nem era da dor, nem do tubo ali às voltas, nem das 24 horas que tinha de passar sem comer, nem da zurrapa que tinha de beber, nem da limpeza da tripa, eu tinha medo era de saber o resultado.
Mas lá sobrevivi ao bicho papão e não há a temer gente, o pior de tudo foi mesmo a preparação e a ansiedade do resultado pois o exame em si, com anestesia, uma picadela no braço, mais uma viagem de maca e não custou nada. Até tive direito a duas velhotas muito queridas como colegas de quarto, sempre a perguntarem pela a menina, eu portanto (imaginem só a idade delas). Agora é só esperar pelo resultado da análise de um pólipo que lá descobriram, mas tenho cá para mim que a minha estrelinha não me vai abandonar.

Nem sei o que é pior

Se é ter de beber litros e litros de uma zurrapa estranha e outros líquidos.
Se é não poder comer
Se é ir ao WC de 5 em 5 minutos
Ou se é saber que logo me vão enfiar um tubo com uma câmara na ponta para me verem as entranhas na televisão por um sítio que eu cá sei,,,,

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Celeuma!

Um dia destes fomos à boa maneira Tuga, os quatro ao shopping às compras. Tão raro momento de confraternização familiar este, que os meus rapazes me proporcionaram, mas adiante, que sendo Tugas de gema acabámos por jantar lá, cada um no seu sítio de eleição juntando-nos numa mesa redonda, a única livre por sinal.
Após tão refinado repasto que foi desde bife, hamburguer gourmet e hamburguer de plástico, rapazes levantaram-se e começaram a bazar dali. Chamei-os para levarem seus tabuleiros para os carrinhos dedicados ao efeito e deixarem a mesa arrumada para os seguintes utilizadores. Pois gerou-se ali uma celeuma (gosto tanto desta palavra) e das grandes.
Eu defendia que seria um ato de civismo e educação deixar tudo limpo e arrumado, contra eles que acham que a culpa do desemprego é minha porque há pessoas contratadas para limpar as mesas e que eu e todos os que o fizermos somos os culpados dessas pessoas deixarem de ter emprego e mais, a mesa nem estava limpa quando nós chegámos lá...
Argumentei e expliquei o meu ponto de vista, isto em pé no meio da zona de restauração e com o tabuleiro na mão. De seguida levei logo com o lixo e com a mania que tenho de reciclar, acabo por tirar empregos às pessoas que escolhem o lixo e com as empregadas de limpeza que não tenho e com os jardineiros pois sou eu que cuido do jardim e varro as folhas e com as costureiras porque sou eu que faço as bainhas e.....
Bom, com tanto desempregado às costas que entretanto tenho tudo a comer cá em casa e tantos pares de olhos postos em nós, fui colocar o tabuleiro no carrinho e pirei-me dali para fora.
Então, o que faço, janto no shopping e deixo tudo conspurcado, pago para me fazerem tudo e mais alguma coisa até ficar uma pelintra e ser uma empregadora ou ser responsável por uns milhares de desempregados??

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Haveria de chegar o dia

Finalmente chegaria o dia em que ele havia crescer e compreender que a vida, além de ser para ser vivida, seria também de humildade, de aprendizagem e de luta. Nesse dia, ele havia de entender que a vida é receber, é ficar à espera, é ser-e o centro do universo, mas também é fazer parte desse mesmo universo, indo, dando, amando, apoiando e colaborando. Quando chegasse esse dia, após anos e anos de revolta e incompreensão por parte do mundo, pensava ele, e  após dezenas de guerras inglórias, o isolamento, o desgosto e  a infelicidade fá-lo-iam descer à terra e enfrentar finalmente uma realidade que julgava não existir. Nesse dia veria tudo com uma clareza tão pura e cristalina, que se tornaria finalmente um homem e se faria a vida e amaria incondicionalmente e compreenderia os que o rodeiam e as suas imperfeições e partiria para a sua luta como todos os outros.
Haveria de chegar esse dia...