domingo, 10 de maio de 2020

Dia 116 - Aura

Ontem, olhei o meu rosto demoradamente ao espelho e não apreciei o que vi. De repente parece-me que nestes últimos meses algo se transformou em mim. Umas quantas rugas mais, vários fios de cabelo brancos, a pele flácida e descaída, as pálpebras parece que cresceram em direção aos olhos e toda eu perdi o brilho de outrora. Pareço-me a mim, baça e com ar triste e cansado, velho. Talvez me sentisse assim naquele momento, não sei bem. Teimo contrariar  o tempo e mentindo-me a mim própria e tentando fazer tudo como há uns anos atrás, lá me vou iludindo e fazendo crer que o tempo não passou por mim, eu é que vou passando por ele, linda, leve e fresca. Chocou-me e entristeceu-me ver-me assim, no entanto.
Já hoje, depois da pedalada pelos pinhais e pelas praias onde respirei o azul do mar e bebi a luz do sol, onde senti a brisa acariciar-me o braços e onde pedalei com tanta força que o vento assobiava nos meus ouvidos, senti-me viva, tão viva, tão alerta, tão cheia de viço. Antes do banho, voltei a olhar o meu rosto. Além do leve bronzeado da pedalada ao ar livre, podia até estar exatamente igual, mas eu vi-o diferente, foquei-me na alma, observei a minha aura de uma ponta a outra e essa sim, tem um brilho imenso, sente-se livre, feliz e pode tudo. Não tem mais de vinte anos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dia 115 - Partilha


Domingo passado, não querendo deixar passar o dia sem a homenagear e não podendo beijá-la nem abraçá-la, fui levar uma singela orquídea branca a minha mãe. Ficou muito comovida e disse “Ohh! Não estava à espera de nada, não tenho nada para te dar”. “Mas tu é que és a mãe, disse eu. Mas tu também és mãe, anda cá!”
Pega na tesoura de podar e num cordel e aí vai ela, devagarinho, meio trôpega, mas cheia de convicção, comigo atrás dela. Atravessámos o quintal e chegamos às roseiras em flor. Escolheu seis rosas cor de rosa, cortou, aparou os espinhos, montou um arranjinho, atou com o cordel e estendeu-mas. Feliz dia da mãe!
Lembro-me desde sempre da sua generosidade e ninguém sai de casa dela sem algo nas mãos. E se não tem nada preparado, oferece o que tem. Sempre. Ovos, laranjas ou limões, um pedaço de bolo, um ramo de salsa, um saco de nozes, uma flor, um café ou um chá, uma taça de sopa, um chocolate, uma nota para os netos… Temos sempre de beber ou comer algo e trazer qualquer coisa na mão. Este sentimento de partilha foi transmitido a mim e a minha irmã, mas nenhuma das duas tem esta capacidade de improvisação e de vontade de partilhar a todo o custo. E hoje, para a maioria das pessoas, o dar ganhou outro significado, o do valor, o das datas marcadas, o da obrigação. Em breve, perder-se-á.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Dia 114 - Fuga

Do meu escritório improvisado na mesa da sala de jantar ouvi o trânsito quase voltar ao normal. Espreitei à janela e lá estavam as vizinhas, à porta da mercearia munidas de máscara, mas através dela consegui perceber os seus sorrisos, as suas conversas, a sua alegria por se sentirem um pouco mais livres. A meio da manhã fiz uma pausa e corri ao café cá da rua. Apesar do copo de plástico e de ter de o beber na rua para dar lugar a outros que aguardavam a minha saída para entrar, o café, preto, forte e sem açúcar foi como que um clímax após um mês de abstinência, uma explosão de alegria, um prazer indescritível. Só ultrapassado, claro, quando fechei o expediente e me fiz ao caminho na minha bicicleta em direção ao mar.
E assim lá vou desconfinando.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dia 113 - Redirecionar

Dei ontem por finda a minha participação no desafio "Um post por dia até ao fim do corona".  Não que o corona tenha terminado, mas porque acabou o fim do confinamento e agora, aos poucos, todos vamos retomando as nossas vidas e redirecionado os nossos rumos. A uns resta-lhes apanhar os destroços e seguir em frente, a outros, redefinir os azimutes e mudar o rumo dos acontecimentos e a outros ainda, seguir conforme a banda tocar.
Eu, vou dançar conforme tocar a banda, redefinindo azimutes todos os dias até que a minha vida volte ao normal. 
Vemo-nos por aqui, como sempre.

domingo, 3 de maio de 2020

Dia 112 - Super poder

Sim, sou mãe de dois e se ter e criar um filho ou dois ou três não nos torna alguém com super poderes, então o que nos tornará?

sábado, 2 de maio de 2020

Dia 111 - 48 - Dia de...

Dia de transformar velho em novo
A velha aparelhagem estava muda há anos. Foi agora  colocada na garagem e ligada e uma música suave enche agora o espaço onde faço exercício e trato da roupa.
Dia de pintar as portas de casa, que estão aos poucos a voltar a ser brancas imaculadas
Dia de provar cachupa pela primeira vez. Gostei
Dia de avivar cores a cestos e transformar algumas peças de decoração
Dia de apanhar um empeno a pedalar. Minha nossa, o que o meu concelho tem para aqui de subidas...
Dia de pensar no início do desconfinamento. Para mim, vai ficar tudo igual, continuo em casa e a fazer apenas saídas estritamente necessárias. Corridas e pedaladas no pinhal perto de casa são estritamente necessárias neste momento. Necessárias à minha sanidade mental.
E vocês, vão desconfinar?



sexta-feira, 1 de maio de 2020

Dia 110 - 47 - Choné ou xoné?


Saqueta de chá de frutos vermelhos, chávena, microondas, dois minutos, clic!
Snif, snif, começa a cheirar a queimado, ai o meu chá, vou a correr, saqueta a arder, nem uma pinga de água. #$)(&%?=) -se