Cada vez que lá vou, verifico que aquilo não é apenas uma mercearia, mas sim um local onde as velhotas se juntam para desabafar sobre as suas tristes vidas, doentes e sozinhas.
Falam da doença, falam da morte, falam dos filhos que raramente vêem e dos netos que quase não conhecem. Falam do gato que morreu atropelado e da sua solidão. Vivem porque ainda não morreram. Vivem por viver, pois há muito que se foi o seu futuro...
Aquele momento é o mais alto do seu fim de semana pois ali têm quem as oiça e quem partilhe dos seus sentimentos. Suas famílias andam apressadas a fazer as suas vidas e não têm tempo de as ouvir e ali sim, ali têm audiência atenta e calorosa.
Às 9 horas já lá estão todas à espera que a porta abra como se tivessem o dia muito muito ocupado.Eu entro, coloco no cesto o que preciso e deixo para me fazerem as contas. Vou à minha vidinha. Quando volto passadas 2 ou 3 horas para pagar e levar as coisas, ainda lá estão as mesmas pessoas, a desfiar os mesmos rosários.
Tenho sempre pena, pena de ver como terminam as nossas vidas, vidas cheias, vidas complexas, vidas tristes, vidas alegres, vidas!
E é assim que a maioria de nós vai acabar, um pouco (ou muito) doentes, um pouco (ou muito) pobres, um pouco (ou muito) sós...
P.S. Mas eu gosto de lá ir.
Algumas velhotas beijam-me e elogiam-me : )
Xiii, esta "menina", "tão nova" e cada vez "mais bonita".
Claro que elas não vêem muito bem...
LOL para o PS! :-)
ResponderEliminarO que contas é a dura realidade... Eu faço voluntariado com idosos e sei o que é a solidão - eu sou uma espécie de enfermeira/psicóloga/freira!
E muitas vezes penso se isso não me irá acontecer...
É isso Gata e bem hajam pessoas como tu que alegram os dias destas velhotas. :)
EliminarVale pelo mimo :D
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