domingo, 28 de maio de 2017

Boa tarde Célia

Disse-me uma vez uma das filhas da vizinha da frente que eu fui criada como menina fina e não sabia nada da vida. A Célia, que não vejo há anos, havia já casado pois engravidara ainda adolescente e vivia longe mas tinha vindo visitar os pais. Ora, eu buzinei à Célia não sabendo de quem era o carro que estava estacionado em frente da minha garagem, a mesma onde eu queria entrar e não conseguia porque a Célia lá tinha deixado o carro.
Depois da buzinadela a Célia saiu disparada do portão, parecendo que estava do lado de lá à espera que eu buzinasse para soltar o leão que estava dentro dela. Eu, quando a vi dirigir-se a mim com o cabelo encrespado, o ar tresloucado e a lingua afiada deixei-me ficar à espera, dentro do carro. (Ai não!) Bom, a Célia parecia que tinha ali muita coisa entalada e falava sem respirar. Sim, a Célia, que eu lembrava-me, a que tinha em criança a aparência de um gato assanhado e selvagem, que nunca vinha à rua brincar nem falava com ninguém, mas ali, naquele dia, a lingua soltou-se-lhe e ela falou, falou, falou. De tudo o que disse e que o meu escudo filtrou, ficou-se-me na memória, que eu estava a buzinar-lhe porque fui criada como uma princesa, sim, eu que tinha tido tudo, até uma bicicleta e vestidos aos folhos, eu tinha era a mania que era fina, agora buzinar aos outros, vejam lá bem.
O meu maxilar inferior foi descaindo e ficando boquiaberto  por não compreender que raio de conversa era aquela, eu nem me lembrava que se tive ou não vestidos aos folhos e fiquei sem palavras, o que enervou ainda mais a Célia.
A vizinhança veio à rua e a Célia teve então todos os olhos postos em si com muita atenção, boquiabertos por a ouvirem falar. O trânsito ia-se acumulando atrás de mim que me encontrava no meio da estrada à espera de poder entrar em casa e alguém tentou acalmá-la para que tirasse o carro. Ela lá caiu em si e, a deitar fumo dos pneus, lá arrancou a cento e duzentos à hora e a gesticular ainda até deixarmos de a ver.
Pedi desculpa, entrei na garagem, saí do carro, respirei fundo e pensei: "Boa tarde Célia"

35 comentários:

  1. Não queria ter uma Célia dessas na minha vida =P

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    1. Não a vejo há anos Sofia, escapuliu-se e ainda bem :)

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  2. Que Célia....Em vez de "que cena!"
    Muitas celias há por este mundo além
    Kis :={

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    1. Se eu soubesse que o carro era dela e que ela me ia soltar os cães AvoGi, voltava para casa só à noite :)))

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  3. Vai ser sempre assim, vai sempre haver pessoas assim.
    Enfim, acho que saíste com dignidade, até porque nesses casos o silêncio é de ouro :)

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    1. Fiquei tão estupefacta e surpresa que nem tive reação Miguel, senão, não sei se me segurava :)) Também tenho um leão dentro de mim eheheh

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  4. Ou seja a Célia buzinou que se fartou. :)

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    1. E parecia que tinha um megafone Luisa, tão alto que gritava :)

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  5. Até eu, aqui deste lado, fiquei boquiaberta.
    E não é que os folhos se voltaram a usar? Pobre Célia.
    Boa noite, GM. :)

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    1. Quando isto aconteceu Teresa, perguntei a minha mãe se tinha tido algum vestido aos folhos (da bicicleta lembro-me bem) e parece mesmo que sim, mas era mesmo muito pequena, antes mesmo de ir para a escola, mas a Célia lembrava-se muito bem :)

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  6. Isso foi um sonho sonhado né Célia??? lol ai ó pah ca malha eu lhe dava ahahahahah
    Boa noite Célia opsssssss GM :)

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    1. Ó Mena, na altura fiquei tão parva que nem tive resposta, mas no dia seguinte estava-lhe com uma raiva que se a apanha-se, acho que a esfanicava todinha :))

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  7. Diz-se que a educação das pessoas se vê na condução. Nesse caso a educação da Célia deixa muito a desejar.
    Um abraço

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  8. desconfio que vais ter de emprestar a bicicleta à Célia e resolver essa questão de realeza uma vez por todas :)

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    1. Manel, os vestidos aos folhos até lhos dava todos, a bicicleta é que nem pensar :)) Como diz um amigo meu, o que se monta não se empresta eheheh

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  9. Há pessoas para quem o mundo tem culpa das opções que tomam...

    :)

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    1. Ela era mesmo estranha Gil, vivia na mesma rua onde havia tantas crianças e fugia de todos. Lá teria as suas razões, mas como dizes, nós não tínhamos culpa..

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  10. ...há gente assim, amargas - pior do que os limões da minha vizinha :-). Boa semana, GM.

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    1. De mal com a vida não é Carlos? Mas já passaram tantos anos, será que já fizeram as pazes?

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  11. Haverá sempre alguém de mal com a vida, que vá descarregar em cima se quem não tem culpa de nada

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    1. Ainda hoje estou para saber o que lhe deu naquele dia Marisa :)

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    2. Aposto que estava chateada com outra pessoa

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  12. Nunca gostei do nome de Célia, nem das Célias que conheci...

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    1. Até gostava de saber o que é feito dela Laura. Duas das irmãs dela ainda vivem aqui perto e são um doce de pessoas... a ela nunca mais vi :)

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    1. E estas coisas servem para vermos o que não queremos ser S*

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  14. OMG infelizmente há muita gente com questões por resolver, com problemas dentro deles e depois esfingardam assim para quem lhes aparece à frente com toda a inveja e falta de amor proprio que têm...Deixa lá...

    Beijinho*

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    1. Foi há muitos anos Pink. às vezes ainda me lembro da cena :)

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  15. Então a casa onde vives é a mesma casa que foi dos teus pais?
    A Célia e as irmãs foram visitar a casa dos pais delas? Que fica ao lado da tua?
    Enfim... curiosidades.
    Há sempre um vizinho que olha para o outro lado da cerca e acha que a relva é mais verde desse lado... Eu também tenho Célias.... Parvalhonas!

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    1. Olá Portuguesinha curiosa :) A Célia já era minha vizinha quando vivia com meus pais, depois construi a minha própria casa ao lado da dos meus pais, mesmo em frente aos pais da Célia, que ela vinha visitar depois de ir viver para outro lado. Eu, só mudei ara a casa do lado :))

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    2. Ah, eheh!
      Sim, sou curiosa. Mas mataste-me a sede do entendimento :)
      Boa semana.

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