quinta-feira, 21 de maio de 2015

A modista

A D. Rosa não era apenas uma costureira afamada, ela era uma senhora distinta e de fino trato, uma senhora que se perfumava e vestia a preceito para trabalhar e receber as suas freguesas, na maioria, senhoras finas e abastadas das redondezas. A D. Rosa era de uma educação extrema e tinha umas mãos de fada que faziam magia com a tesoura e com as linhas. A sua sala de costura era digna de um atelier daqueles de alta costura que se viam nos filmes, com uma salinha de espera cheia de revistas de moda francesas e uma outra sala onde as freguesas eram cuidadosamente atendidas. A D. Rosa era uma criadora e uma fazedora de roupa das revistas francesas.

Nós não éramos  abastadas nem assim tão finas, mas vivíamos remediados que meu pai fazia questão de trabalhar de manhã à noite para mimar as suas meninas e numa casa com três mulheres como era a nossa, onde a minha mãe, assim para forte e de corpo difícil tinha dificuldade em encontrar roupa feita que lhe assentasse bem, meu pai achava muito bem que fossemos à D. Rosa modista. Um pouco longe até de onde morávamos , mas nesse dia, o pai ia de mota trabalhar e minha mãe conduzia o carro. E lá íamos nós as três, cerca de duas vezes por ano, com um saco cheio de tecidos à espera que D. Rosa os transformasse em roupa francesa.
Eu e minha irmã tínhamos de tomar banho antes de ir, vestir roupa de domingo e passar desodorizante  que a D. Rosa não tinha de gramar cheiro a transpiração. Pelo caminho, a mãe ia-me dizendo  que me portasse bem, sim, eu, que a minha irmã já era uma mulherzinha  e nunca se portava mal.

Um belo dia, estava a D. Rosa agachada a meus pés a tirar-me as medidas, minha mãe e irmã assistiam e mandavam-me ficar direita que a D. Rosa ia medir-me a altura. Eu comecei a ficar inquieta e a dar-me a comichão e quando pedi para esperar, pois tinha de me coçar, soltou-se-me um pum!! Assim do nada e sem querer, claro, mas um pum com som. Ai meu Deus! 
Minha irmã virou-se de costas para rir à socapa, minha mãe  foi ficando verde, depois azul e finalmente roxa a repreender-me. De repente, tudo de olhos postos na D. Rosa, tão fina e educada. Esta, primeiro ficou silenciosa a ver as reações e depois largou-se a rir e a dizer que não fazia mal, que acontecia e essas coisas das respostas politicamente corretas. Uma enorme vergonha, foi o que sentiu a minha mãe.

Nunca mais me levaram à D. Rosa Modista...

12 comentários:

  1. Tu não és de modas, Gaja! :)
    Boa narração.

    Um beijinho :)

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  2. Concordo com a posição da tua Mãe ... "lançar os foguetes" antes do vestido estar pronto parece-me algo démodé ;)))

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  3. Oooops...uma mãe passa cada vergonha :)

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  4. a Dona Rosa, sabia com certeza, que a anatomia quando é muito revirada em pessoas inquietas, pode vir a dar sinais pouco convencionais. Deixaram a Dona Rosa, ganhou o pronto- a-vestir.
    Bom fim de semana.

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  5. Sempre podias ter dito, não fui eu, foi a minha irmã...e assim disfarçavas a coisa!
    :))

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  6. Ooops, coisas da anatomia que acontecem até aos mais contidos :)

    Beijinhos e um bom fim-de-semana

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  7. Ahahahah as crianças são assim mas compreendo a vergonha que sentiu a tua mãe, não precisava era de ser tão radical e não te levar mais á D. Rosa :)

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  8. Eu sou filho de uma D. Rosa. Um dia descobri que as senhoras tinham que tirar a roupa e ficar em trajes menores para provar a roupa nova e lembro-me de estar a espreitar junto à porta do quarto, enquanto a senhora professora se via ao espelho, antes de tirar o vestido em prova :) Foi na casa de Gaia, ou seja, ainda nem tinha entrado na escola primária e não me lembro de voltar a fazer isso depois de mudar para casa da avó.

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  9. :D :D
    Lindo, lindo! Pelo menos não cheirava (certo?) lá diria o Herman José...

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  10. Muito bom! :D
    Acho que só depois de sermos mães é que compreendemos certas coisas que "fizemos passar" às nossas mães...
    :D

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  11. E eu, que toda a vida imaginei como teria ficado a cara da minha mãe quando, numa situação como essa, ainda gaiata, preguei com uma chapada na modista, vejo agora que podia ter sido bem pior, eheheh!

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