domingo, 7 de fevereiro de 2016

Tomates

Faz cinco anos que faço btt e pedalo com os rapazes. Os cuidados que tiveram comigo foi dar-me dicas sobre pôr e tirar mudanças e as técnicas de pedalar em areia, pedra e água, como devia fazer certas subidas medonhas e os cuidados a ter nas descidas perigosas e nos single tracks cheios de curvas, lama, árvores e paus. O resto coube-me a mim descobrir. Cai algumas vezes, outras tantas me levantei, sempre a sorrir. Arranhadelas, nódoas negras, escaldões, dores nas pernas, frio, calor, chuva, tudo enfrentei em nome desta paixão. Nas primeiras vezes esperavam por mim no topo das serras e lá em baixo após as descidas, mas depois deixou de ser necessário pois com isto tudo ganhei umas bolas ao fundo da barriga, sim, tomates. Teve de ser, uma mulher que começa nestas andanças aos quarenta e quatro anos e se apaixona por isto, ou vai ou desiste, eu fui, eu vou. Sempre, sem nunca desistir. 
Aprendi muito e transponho estas aprendizagens para a minha vida em geral. Pouco há que me meta medo, atiro-me ás dificuldades de cabeça, ganhei espírito de sacrifício, persistência, determinação, coragem e acima de tudo auto-estima. Nada me parece impossível e tornei-me uma durona. Tão durona que por vezes me assusta o meu sangue frio e a distância relativamente a certas coisas e a certas pessoas. As coisas que dizem, as coisas que fazem, muitas vezes nem me tocam, não quero saber, não estou para isso. Chego a temer muitas vezes, ter perdido o coração no meio de um trilho qualquer.

Mas não, é em momentos como o de hoje que verifico que não. Ao passar por uma quinta na pedalada da manhã, apaixonei-me por esta família e fiquei emocionada por verificar que a primavera este ano veio mais cedo. Entre outras coisas...







25 comentários:

  1. Há pessoas que precisam de se isolar.
    Para quem as outras não são tanto uma necessidade. É no isolamento e num certo egoísmo que encontram um prazer único. Fizeste-me lembrar os apaixonados por montanhismo (olha eu a dar ideias). Vão em grupo mas também é uma atividade muito solitária. E quando adversa, pode mesmo ser "cada um por si".

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Na primavera e verão vou muitas vezes sozinha e gosto desses momentos meus a pedalar para pôr as ideias em ordem e lavar a alma, mas a maioria das vezes vou em grupo e divirto-me muito, convivo e aprendo imenso. Acredita, muitos ensinamentos este desporto me tem dado :)

      Eliminar
  2. ó pahhhhhhhh eu tenho uma vida muito sedentária à vista de ti :)) fogo como consegues biciclar assim tanto?? eu se subo uns degraus já me saem os bofes eheheheh
    Mas, agora a sério tu não me pareces ser nada fria, bem pelo contrário, pareces-me ser uma pessoa com bons sentimentos e que se importa com os outros.
    (Também gostei dessa familia :) )

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nina, fiz meu modo de vida este do ar livre e do desporto e principalmente das pedaladas, no início custava-me imenso, mas eu sou teimosa que nem uma mula e não descansei enquanto não subisse e descesse as serras com eles sem terem de me esperar. Não sou nenhum ás do pedal mas vou-se safando. Tornei-me dura é verdade, mas acho que á medida que avançamos na idade também aprendemos a relativizar as coisas e a deixar de lado aquilo que não nos faz bem e a dar apenas importância ao que realmente nos faz feliz e nos diz algo. Beijinho :)

      Eliminar
  3. Eu acho que passaste a dar valor, ao que tem valor, carinho a quem realmente precisa, ajuda quando ela é necessária. Mas perdeste, ó se perdeste, paciência para nhé nhé nhés, para gente que enche os pacovás dos outros com merdices, que pintam grandes, à espera que resolvam por elas. Resumindo: aprendeste a diferenciar trigo de joio. A menina crédula e algo tonta, deu lugar a uma mulher que sabe o que quer, e dá, quando a verdade assim o pede. Mainada!!!
    Boa pedaladas GM

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é mesmo verdade que já não tenho paciência para nhé nhé nhés e pessoas picuinhas que arranjam problemas e chatices onde eles não existem. Estou mais focada noutras coisas que são para mim de muito mais valor. Beijinho N

      Eliminar
  4. Como te compreendo, GM. Não no btt que não faço mas na forma como passamos a encarar a vida e é também nas minhas caminhadas que me deslumbro com o que antes nem me faria parar. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É. Há voisas que nos fazem mudar o rumo e as atitudes e ainda bem. Passamos a dar valor ao que realmente importa. Beijinho :)

      Eliminar
  5. Sabes, identifico-me muito com o que referes... Depois de começar a pedalar, também sinto que me tornei mais fria e resistente, mais dura e menos dada a certas lamechices...
    Só que depois há assim pequenas coisas, que valem a pena, e que nos tocam...
    É mesmo isso...
    Beijinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. No fundo, a idade a avançar e a aprendizagem que tiramos de certas vivências dão uma ajuda. Crescer e aprender :)

      Eliminar
  6. Não perdeste o coração num trilho qualquer. Acho que aprendeste a perceber quem é que o merece, ou não :)
    beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quero acreditar que seja isso. Acrefito, aliás, agora vejo claramente que é isso. Obrigada Imprópria. Beijinho :)

      Eliminar
  7. Acredita que ter o coração a trabalhar nos momentos certos, vale ouro. Para o bom e para o menos bom!
    Boas pedaladas Gaja Maria
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  8. Como vês, apenas ficaste mais forte. Não perdeste sensibilidade nenhuma.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ao longo da vida e mediante as circunstâncias aprende-se muito e modificamo-nos um pouco. Mais forte fiquei sem dúvida, quanto mais não seja das patadas que se levam :)

      Eliminar
  9. Tu já tinhas tomates, estão é dentro da barriga e dão-se pelo nome de ovários ou em bom português "os tomates tímidos" :)
    Pois foi isso que eu não consegui aprender no BTT, as descidas... tinha uma cagufa de morte e acho que foi aí que descobri que sofria de umas leves vertigens e chegava a ficar mal disposta (que pussy que sou, dass...) tenho mas é de me dedicar à de Estrada que ao menos aí não tenho risco das vertigens.

    PS - adoro cabrinhas. aliás, eu adoro tudo... eu devia ter uma quinta e aí sim era feliz!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também tinha muito medo das descidas até começar a pedalar á noite. É que á noite todos os gatos são pardos e aquilo era sempre a abrir, não se via um telho. Depois passava lá de dia e credo! onde eu tinha andado. Olha, perdi o medo :)
      Quem sabe se um dia não terás uma quinta?

      Eliminar
  10. E só quem tem "tomates" e um coração sensível pode ficar embevecida com esta família :)

    Um beijinho, GM

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma ternura :) e os cavalos que havia naquela quinta? Lindos, ficava ali horas de volta dos bichos :)

      Eliminar
  11. Só agora reparei nas fotos que tens no flickr. Que fotos magníficas, GM. :))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Antes de descobrir o Btt, o meu hobby era a fotografia, adorava e tirei milhares de fotos. Mas a paixão pela bike foi ainda maior e a máquina ficou de lado... :)

      Eliminar
    2. Que pena, GM, faz uns intervalos nos teus passeios e retoma, tens ali fotos fantásticas.

      Eliminar
  12. Quem lê o que escreves percebe que de fria não tens nada!

    Beijos, GM :)

    ResponderEliminar

Quem quer pensar comigo: