Foi no sexto e ultimo dia da travessia da N2 que protagonizamos o pior e o melhor desta viagem de bicicleta.
Partimos de Ferreira do Alentejo, em pleno coração do mesmo e tinhamos os derradeiros 143 kms para fazer e terminar assim o nosso desafio. Toda a Serra do Caldeirão para atravessar, um calor abrasador, o rabo a pedir clemência e as pernas moídas, mas o objetivo estava prestes a ser superado, estava tudo bem.
No trajeto haveriam apenas pequenas povoações de muitos em muitos kms para abastecer de agua e alimento, tinhamos portanto de chegar ao Ameixial à hora do almoço e rezar para que o único restaurante existente estivesse aberto. Estava. À pinha a bem dizer, mas lá descobrimos uma mesinha vazia ao fundo. Todos estavam a comer bacalhau com batatas, ovo e grão pelo que se nos arregalaram os olhos, era mesmo aquilo que nos apetecia. As duas senhoras muito idosas que geriam o estaminé, arrastavam-se à volta das mesas e muito tempo depois lá nos atenderam. Já não tinham bacalhau, apenas entrecosto. Oh desilusão, mas estando a próxima hipótese de satisfazer o estômago muitos kms à frente e a subir, sim senhora, dissemos nós, venha!
Bom, aquelas duas idóneas, bondosas e inocentes senhoras, despacharam finalmente o entrecosto rançoso com quase dois meses que tinham por ali a 3 ciclistas esfaimados, de alforges às costas e no seu sexto dia de pedalada.... Nós! Todas as pessoas que vieram a seguir a nós, degustavam deliciadas um belo de um bacalhau, só para nós não havia. Bom, o entrecosto era tão mau, que sei que comemos dois pausinhos de carne cada um, o suficiente apenas para termos energia até à próxima paragem. Pagamos e pedalamos dali para fora. Quando me lembro, ainda tenho vontade de vomitar. Uma velhacaria foi o que aquelas velhotas com cara de anjo nos fizerem. Que sejam felizes com isso, é o que lhes desejo. Enfim!
Uns kms de subida mais à frente paramos finalmente num café onde nos refastelamos na esplanada, ao fresco e de volta de umas sandochas.Mnhami que souberam a lagosta. Abastecemos de água fresca e arrancamos de novo. Uns 3 kms depois, estavam ainda uns trinta e tal graus de calor, continuando a subida do Caldeirão, cruzamo-nos com um carro a deitar fumo que nos pediu ajuda. Precisava de água! E assim despejamos todos os nossos bidões de água fresca acabada de comprar para os próximos kms, no radiador do carro do homem. Ele, tão agradecido, presenteou-nos com 2 latas de sumol, quentes, que era o que tinha consigo e que racionamos entre os 3 até S. Brás de Alportel onde bebemos uns 2 litros de agua cada um. Valeu por tanto mas tanto tudo isto e ainda nesse dia chegamos ao km 738 em Faro, nosso destino final e num estado puro de euforia, êxtase, alegria, felicidade e superação.
A vida é mesmo assim.