Vejo agora com clareza a minha apetência para as tesouras. De
podar.
E fujam e escondam-nas todas por favor.
Está agora nu, despido de folhas e sem abrigos para os
pardais, o meu pequeno jardim. Após dias e dias de poda, muitas vezes inadvertidamente,
pois era apenas uma braça que me empatava a passagem, depois outra e mais outra
e todo um entusiasmo que se foi tornando um grande corte e uma verdadeira terapia
à minha pessoa. Já só me resta um vaso, que estou a guardar para o próximo fim
de semana para depenar e após o que terei de me reinventar mais uma vez.
Cortar, cortar, cortar, juntar, limpar, eliminar. O cheiro a
verde, as mãos na terra, a cara lavada do jardim e a paz e calmaria que a brisa
transmite ao abanar-me os cabelos e ao afagar-me a pele, deixa em mim um efeito
apaziguador. As braças cortadas e a despontar, os rebentos a nascerem e o verde
mais viçoso, fazem-me crer na esperança, no futuro e no renascimento.
Tenho cá para mim que mais um mês e já me posso perdoar por
ter deixado o jardim naquele estado. A primavera fará maravilhas certamente.