Penso muitas vezes que devia ser como as outras mulheres de
cinquenta que eu conheço.
O prazer de cozinhar para a família, o passar as tardes à mesa
com um grupo de amigos, o café na esplanada a curtir o sol e a conversa, os
filhos já grandes que, entretanto, lhes trazem netos, a vida vivida mais
devagar, a tranquilidade, o trabalho certinho e já sem grandes ambições. Em
suma, a vida acomodada e acomodada à vida.
Não sei, mas a mim o sangue fervilha-me nas veias, a adrenalina
chama por mim, as ideias malucas povoam-me o pensamento e eu quero sempre mais.
Mais aventura, mais risco, mais ansiedade. A quietude enerva-me e eu preciso,
porque preciso, de andar na corda bamba.
Nova aventura em bicicleta está prestes a começar e eu volto
a sentir aquele friozinho na barriga. A preparação das coisas, o caminho, a
bagagem, os lugares onde vou dormir, os sítios que vou poder ver, o que vou poder
viver, deixa-me com o coração aos saltos.
Desta vez o medo de não estar à altura é grande por causa do
meu pé partido e dos meses que estive parada. Agora, as descidas assustam-me e
as subidas deixam-me de língua de fora. Estou fora de forma e tenho falta de confiança. Temo nunca mais conseguir ser a mesma e
tenho pensado montes de vezes que havia de me deixar destas coisas e dedicar-me então às tardes no sofá ou na esplanada à espera de netos. Duvidas…
Mas isto é mais forte do que eu e eu abdico das tardes na
esplanada ou na praia ou no sofá. Netos, nem pensar por agora. Abdico de uma semana de ferias descansada,
abdico de tudo, por estes momentos de felicidade. E vou conseguir. Vou
conseguir. Vou conseguir. Não é muito, é só isto….