segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Ser criança não era fácil


Sempre fui muito desassossegada. Lembro-me de ser garota e ser uma inconstante da alma e do corpo principalmente das pernas, por isso, ainda bem que sou do tempo em que se brincava na rua até à noite, altura em que a minha irmã, sete anos mais velha do que eu e muito responsável vinha à rua assobiar e eu, respeitadora, voltava para casa para a banhoca e o jantar.
Eram quase quatro meses de férias de verão em que eu corria pelos quintais, subia às árvores, aliás trepava tudo o que ficava nas alturas para ver as vistas, andava de bicicleta, jogava ao elástico e ao berlinde e ao prego e à apanhada e às escondidas e ao aeroplano e a muitas outras brincadeiras, algumas até bastante parvas, que se inventavam no momento. Era uma sem parança como dizia meu pai.
Sei que um dia fiquei doente das pernas. Eram tantas as dores que eu mal conseguia andar e chorava que nem Madalena arrependida com medo de não conseguir ir brincar. Meus pais ficaram preocupados e já achavam que eu tinha alguma doença maluca pois não comia nada, era uma franganita e não parava quieta e agora estava doente das pernas. Levaram-me ao hospital. Depois de algumas horas em testes e exames viemos sem diagnóstico e com um paracetamol, não me acharam nada. Pelo caminho meus pais insistiram em perguntar ao que tinha andado a brincar nos últimos dias. Lá me descosi e confessei que tinha estado a tarde toda do dia anterior a saltar da pilha das bilhas de gás nas traseiras do café…
Pois…. Não chegavam já as dores que eu tinha nas pernas como ainda fiquei de castigo quinze longuíssimos dias daquele verão, sem poder brincar fora de casa e ainda fiquei proibida de sequer passar pelas traseiras do café e mais ainda de tocar nas bilhas de gás.
Toma! Ser criança na altura era dificílimo. Ainda se houvessem tablets e Playstations e Nintendos e telemóveis, eu nem tinha saído do sofá….

12 comentários:

  1. Nada fácil, mas mais saudável. Mesmo com dores nas pernas. :))

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    1. luisa, eu fui muito feliz quando era criança, melhor mil vezes brincar na rua do que a olhar para um ecrã:)

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  2. Infelizmente, temo muito pela saúde daqueles que agarrados a "tablets e Playstations e Nintendos e telemóveis" não saem do sofá! ...preocupa.

    Eu já vejo esses efeitos em muita gente da minha geração "nos trintas" e arrepia-me de pensar como serão aos 35 aqueles que agora têm 15.

    Eu também corri e joguei à bola pelas ruas, parando para deixar passar os carros e regressando à agitação quando estes ainda estavam ao alcance de um pontapé na bola mal medido. Às vezes lá calhava... ;)

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    1. Também haviam menos carros e menos estradas, as casas não tinham muros e havia montes de caminhos sem trânsito, muitos quintais abertos. Era mais fácil Old Guy. :)é muito mais perigoso e para quem mora em cidades grande, pior

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  3. E ires ao Circo e um faquir chamar-te e tu começares a ver facas a voar na tua direcção?
    Ah, pois é :)

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  4. Mais uma publicação fantástica :)) Obrigada

    Hoje :- Sorriso camuflado

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta - Feira.


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  5. Também eu era assim. Felizmente so espetei um prego uma vez ;)
    Sinto pena das criancas de hoje, enfiadas em casa a teclar.
    Não prevejo um futuro risonho para eles.
    Beijinho GM

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    1. Pois não Mena, vão ficar cheios de tendinites e com os dedos encarquilhados e os olhos todos lixados...
      Beijinhos

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  6. Quatro, quase quatro meses de coboiada, de galderice faziam muito bem para abrir o apetite. Era sagrado esse tempo. Entre bola, bicicleta e assaltos a quintais para a fruta que não havia como agora, era uma beleza. Pelo que percebi a GM tinha um botão de on sem off.

    Bj.

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