Guardo aqui dentro num pequeno e recôndito lugar do meu coração a chave das memórias passadas. Em busca da razão para a angústia que me rouba por vezes as palavras, dei com a chave caida por entre as linhas tenues do meu silêncio. Coloquei-a na fechadura e rodei. Memórias passadas e objetos surgiram então em forma de cascata, descendo apressadamente no meu pensamento.
Os patins de bota branca que meu pai mandou vir da Alemanha quando eu era uma promissora patinadora, a caixa dos lápis de mil cores quando mostrei jeito para a pintura, a máquina fotográfica Kodak que comprou para mim e minha irmã no intuito de nos incentivar para a fotografia, a pinça para a coleção de selos e a máquina de escrever com que me presenteou quando ganhei um prémio com um poema que fiz na escola primária.
A determinada altura deixei de ir á patinagem, deixei os selos de lado e a máquina Kodak foi ficando em casa. Nunca cheguei a ser pintora nem escritora. Guardo porém todos estes objetos e até alguns mais. Tenho uma enorme paixão por eles, mas quis a vida e eu que enveredasse por outros caminhos.
Guardo, fechados á chave, tantos desejos mudos, tantas paixões adormecidas, tantas vontades preteridas. Mas uma coisa eu sinto todos os dias. O sorriso meigo dos olhos de meu pai em mim.
terça-feira, 1 de março de 2016
Talvez saudade
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Para mim este é um dos textos mais bonitos que te li aqui.
ResponderEliminarAlice, quando as palavras vêm diretamente do coração de alguém sao sempre bonitas :)
EliminarSão este tipo de memórias que eu gosto de ter, uma saudade doce...
ResponderEliminarAdorei.
Um beijo
Muito doces sim as minhas memórias da infância, felizmente Cristina :)
EliminarGostei, gostei muito, muito - tanto que a emoção tomou conta de mim... (Fiquei parado na articulação das palavras - apetece-me dizer "tanta coisa" sobre o texto...).
ResponderEliminarCarlos, força. As palavras são para dizer quando as sentimos :)
EliminarAs memórias que guardo do meu pai, mão são presentes desses. São gestos, são ensinamentos. Coisas materiais, lembro as tamancas de madeira que ele fazia para nós calçarmos. E a mala de madeira quando fui para escola, também feita por ele, muito semelhante às malas de pintores.
ResponderEliminarUm abraço
Elvira, estas são apenas algumas das memórias, que só por acaso são materiais porque a essencia, o ensinamento e a liçao que tirei delas está muito mais além e ficou gravada ainda mais profundamente. Nessa área os meus pais foram exemplares. Beijinho
EliminarSó boas recordações (=
ResponderEliminarÉ mesmo. Há que guardá-las bem guardadas :)
EliminarQue saudade agora, da ternura do meu pai...
ResponderEliminarNão me parece que nada tenha sido em vão, textos maravilhosos estão à vista, belas fotografias também, e os patins foram substituídos por uma bicicleta. É que os pais vão deixando cair sementes, porque sabem que as boas sementes germinam sempre, de uma forma ou de outra.
Parabéns.
Obrigada Teresa. É verdade, tive a felicidade e o orgulho de ter todas essas sementes para colher e poder fazê-las germinar.Algumas consegui, outras ainda não :)
EliminarAcho que, depois dos 40, temos uma propensão para ir lá atrás de vez em quando. Crise de meia idade? Ou a noção de meia vida vivida e, outra meia por viver, da qual não sabemos quanto dura. Não te apoquentes, vou dando conta que é normal e salutar até.
ResponderEliminarTalvez saudades... http://noname-metamorphosis.blogspot.pt/2009/10/20090225-esta-noite-sonhei-contigo.html
Não sei se é da idade Noname, talvez, simplesmente as memórias vão e vêm e há dias em a saudade aperta e meu pai faz-me falta :) O teu texto é lindo N, disseste tudo. Beijinho
EliminarBelas memórias e que ternura na tua escrita, guarda tudo isso muito bem junto do teu coração...
ResponderEliminarUm beijinho...
Memórias que ficam para sempre. Tu sabes.. Beijinho Algures
EliminarNão me parece que nada disso tenha sido em vão, GM, a avaliar pelo que leio de ti. E também não o foi pelas lembranças, pelo carinho e pelos belos momentos que deves ter vivido com todos eles. :))
ResponderEliminar(este post está lindo!)
Todas estas coisas fizeram de mim o que sou hoje, sei não ser a melhor pessoa do mundo mas sou o que ele e eu conseguimos e estou-lhe bastante grata por isso. Beijinho Ava
EliminarUiiiiiiiii eu também tenho algumas coisas guardadas da minha infância. Memórias tenho muitas do meu pai que partiu muito cedo, das brincadeiras, lembro de praticamente de todos os meus amigos dessas alturas. Saudades de muita coisa que não volta.
ResponderEliminarGostei do teu texto GM nunca percas essa chave. Beijinhos
coisas e pessoas que são a nossa história e aquilo em que nos tornámos. Temos saudades nina mas no fundo tudo ficou guardado em nós, é só ir lá bem fundo procurar. Beijinho :)
Eliminarpai...palavra que não pronuncio há mais de 40 anos. precocemente se foi. deixou muita saudade. e o meu baloiço, não houve tempo para mais!
ResponderEliminarbeijinho, GM
Fazem-nos falta não é Mia? Mas ficou o baloiço e mais algumas recordações que de certo guardas com muito cuidado. Beijinho
Eliminartroppo bello... :)
ResponderEliminarO coração é grande quando nunca se sente cheio, apesar de tanto já guardar em si.
ResponderEliminarBeijo
E esse sorriso meigo é o maior tesouro que se pode trazer ao peito, junto ao coração.
ResponderEliminarUm beijinho, querida Gajinha
As memórias têm sempre um sabor tão bom. Lembrei do meu :)
ResponderEliminarBeijinhos
Memórias coisa boa que nos faz sorrir e chorar
ResponderEliminarKis:=)
Um beijinho minha Gaja.
ResponderEliminarLindo, Gaja!
ResponderEliminar(Hoje não digo mais nada. A referência aos olhos do teu pai tocou-me fundo)
Um beijinho :)