domingo, 10 de maio de 2020

Dia 116 - Aura

Ontem, olhei o meu rosto demoradamente ao espelho e não apreciei o que vi. De repente parece-me que nestes últimos meses algo se transformou em mim. Umas quantas rugas mais, vários fios de cabelo brancos, a pele flácida e descaída, as pálpebras parece que cresceram em direção aos olhos e toda eu perdi o brilho de outrora. Pareço-me a mim, baça e com ar triste e cansado, velho. Talvez me sentisse assim naquele momento, não sei bem. Teimo contrariar  o tempo e mentindo-me a mim própria e tentando fazer tudo como há uns anos atrás, lá me vou iludindo e fazendo crer que o tempo não passou por mim, eu é que vou passando por ele, linda, leve e fresca. Chocou-me e entristeceu-me ver-me assim, no entanto.
Já hoje, depois da pedalada pelos pinhais e pelas praias onde respirei o azul do mar e bebi a luz do sol, onde senti a brisa acariciar-me o braços e onde pedalei com tanta força que o vento assobiava nos meus ouvidos, senti-me viva, tão viva, tão alerta, tão cheia de viço. Antes do banho, voltei a olhar o meu rosto. Além do leve bronzeado da pedalada ao ar livre, podia até estar exatamente igual, mas eu vi-o diferente, foquei-me na alma, observei a minha aura de uma ponta a outra e essa sim, tem um brilho imenso, sente-se livre, feliz e pode tudo. Não tem mais de vinte anos.

11 comentários:

  1. Estimada amiga

    Já se interrogou se com este confinamento o seu espelho, triste e cansado, não perdeu o dom do reflexo e ficou mentiroso?
    .
    Boa noite
    Cuide-se

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    1. :)) Rykardo, querem lá ver que o meu espelho avariou? Foi isso de certeza que eu sou a cinderela :)
      Boa noite

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  2. Eu acho que o confinamento nos deitou para baixo. Eu sinto o mesmo. Já estive para partir o espelho :)
    -
    O que diz o meu olhar ...

    Beijo e uma excelente noite.

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    1. Cidália, não parta o espelho, dizem que são 7 anos de azar..
      Deve ser isso, logo, logo, já vamos ficar melhor. O sol e a liber dade fazem milagres.
      Beijinhos

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  3. Sou um pouco mais nova que tu, e tem dias que me sinto velha quando me olho ao espelho, como se tivesse mais vinte anos. Mas em lugar dos 43 que cá cantam, por dentro, sinto que tenho vinte, com tanto ainda que quero viver, aprender fazer e com a energia que ainda tenho (mas às vezes já falha, assim como a memória que sinto que não é tão boa como antigamente, ou a vista que já me falha, no ver ao perto)...

    Não quero mesmo que a vida me escape por entre os dedos e enquanto me sentir nova por dentro, quero lá saber que me chamem louca, o que interessa é levar o melhor que a vida nos dá, e não ficar nada por fazer ou dizer, quando um dia a vida cessar.

    Boa semana, Gaja Maria!

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    1. Magui, eu continuo com sede de viver, de ver, de conhecer como quando tinha vinte anos e a grande questão que me apoquenta é ao olhar-me perceber que provavelmente já não vou ter assim tanto tempo para fazer o que ainda gostaria. Mas também sei que por mais que viva, é impossível fazer certas coisas que gostaria tanto e aí vou-me resigna do e fazendo opções e algumas cedências. Tentando o equilíbrio. É julgo que assim é que somos todos não é? Uns mais preocupados que outros, uns mais conformados que outros. Está estranha forma de ser :))
      Beijinhos

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  4. Eu ia jurar que envelheci anos, com o isolamento.
    Também a minha alma, a minha aura, já viram melhores dias.
    Nem o mar me vale.
    Melhores dias hão-de vir, creio, mas as marcas ficam para sempre.
    Beijinho

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    1. Magui, acredito que a maioria das pessoas apesar de não mostrar se sente um pouco abalada com isto tudo. Mas como dizem por aí, o que não nos mata torna-nos mais fortes. Assim espero.
      Bjinho

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  5. Eu também me sinto assim. Hoje olho-me no espelho e vejo-me um velho de 68 anos, quando ainda nem há 2 meses, ninguém me dava mais de 67. eheheheheheh

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  6. Também tenho (cada vez mais) dias em que o espelho não se porta bem e não deteta convenientemente a minha aura. O que é preciso é conseguirmos contrariar o espelho, assim como fizeste depois da pedalada. :)

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  7. Sinto o mesmo. Tal e qual.
    Mas nao é para a alma que eles Olham.

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